12.12.06

As 7 Maravilhas de Portugal

Parques Eólicos

Não entendo por que têm de ser sete as maravilhas do mundo. Pessoas amigas, preocupadas com a minha saúde, tentam convencer-me de que o número sete é mais importante que os outros. Dizem-me que sete são os dias da semana, os planetas, os graus de perfeição, as cores do arco-íris, os raios do raio do Sol hindu, etc. Como não sou de conversas mansas, logo lembro que sem o seis não haveria o sete e que para este ser possível necessitamos do um, do dois, do três e assim sucessivamente. O número um é um número essencial, símbolo do «homem activo, associado à obra da criação». Ora, deste ponto de vista talvez fosse mais lógico eleger uma única maravilha do mundo. Ou seja, talvez fosse mais lógico não eleger nenhuma pois das sete Maravilhas do Mundo originais resta, isso mesmo, uma: as Pirâmides de Gizé. A porca torce o rabo, e a gente troça com a porca, quando as pessoas que pensam estas coisas olham para as Pirâmides na actualidade e não conseguem ver nada de maravilhoso, sentindo então uma enorme frustração. Quem já esteve nas Pirâmides sabe que o que delas resta é um amontoado de pedras, rodeado de gente miserável a tentar fazer negócio junto de turistas ridículos que pagam para andar dobrados dentro de salas exíguas de onde quase sempre conseguem apenas trazer crises de falta de ar. A atmosfera à volta das Pirâmides também não é aconselhável, com a cidade do Cairo, transformada numa nuvem de gasóleo queimado e muito ruído, a ameaçar os resquícios de espiritualidade que só gente muito espirituosa ainda logra ali sentir. Perante cenário tão desanimador, sinal explícito da degradação da humanidade, toca de propor alternativas. Só falo daquilo que sei e o que sei é que a Acrópole, em Atenas, é um monte de pedras engessadas onde não resta beleza alguma; o Alhambra, em Granada, ainda mantém uma certa mística, assim tipo a mística benfiquista ou sebastianista ou coisa que o valha; o Coliseu de Roma só lembra coisas tristes; a Torre Eiffel é um rendilhado de ferro erguido no sentido das nuvens cuja beleza reside unicamente na vista que proporciona sobre Paris. Talvez o Machu Picchu seja mais agradável, mas dizem-me pessoas muito próximas que já lá estiveram que a única excelência da coisa é mesmo o local onde a coisa foi erguida. Pense-se também no Cristo Redentor e na “redentora” paisagem urbana que dali se vê, deve ser de levar às lágrimas. Fico-me por aqui. Quero com isto dizer que o que resta de belo no mundo não tem a mão do homem. Nenhuma criação humana supera a beleza natural de uma selva Amazónica, de um deserto do Sara, etc. As sete maravilhas do mundo só poderiam ser, se fôssemos justos, sete maravilhas naturais, pois onde o homem tem metido a mão é invariável a decadência. Felizmente algumas maravilhas naturais ainda mantêm, aqui e acolá, a sua beleza original. É bom que preservemos isso, sobretudo evitando ao máximo o turismo nesses locais, dificultando ao máximo o acesso humano a esses locais. Quanto ao caso português, note-se bem o desplante. Um país que sempre desprezou o seu património quer agora votar o que, na maioria dos casos, não passa de uma indisfarçável negligência no acautelamento do tempo. Está tudo a cair aos bocados e querem que vejamos nisso uma maravilha… Olhem, a mim não me enganam. Voto nos parques eólicos que proliferam pelos montículos do país, símbolo do progresso estampado, em alguns casos, mesmo à frente de dezenas de moinhos de vento antigos votados ao abandono aqui pela região. Cenário idílico e lindo de morrer. Não acham?

5 Comments:

At 8:01 da tarde, Anonymous Anónimo said...

a primeira maravilha portuguesa que me lembrei foi a quinta da regaleira, nem vale a pena dizer mais nada, poi não?
até porque as restantes só poderão ser conservadas com botox e silicone... eheheh

 
At 4:04 da tarde, Anonymous Anónimo said...

e o castelo de Almorol?

 
At 5:58 da tarde, Anonymous Anónimo said...

O que tem o castelo, F. Dinis?

 
At 6:54 da tarde, Anonymous Anónimo said...

um dos muitos abandonados... talvez o mais emblemático em beleza a nível envolvente.

 
At 7:06 da tarde, Blogger hmbf said...

Sim, isso é verdade. Tudo ao abandono. Vivam os parques eólicos! (E a Fortaleza de S. João Batista, nas Berlengas?)

 

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