EXPERIMENTAR
Experimentar, em termos artísticos, não tem de ser, necessariamente, um acto agressor, um acto de distanciamento que perca de vista, à falta de melhor termo, o espectador. Quero entender aqui o conceito de espectador no sentido de testemunha, um sentido aplicável a todo o tipo de relação que se estabelece entre uma qualquer obra artística e aquele que dela frui. O usufruto de uma obra de arte, seja ela de que género for, implica sempre essa relação, uma relação que pode ser de provocação, de identificação, de revelação, de atemorização, mas que nunca deixa de ser uma relação. É como um eco. Imaginemos o eco da nossa respiração gritado por alguém que não nós. É isso que experimentamos quando uma obra nos atrai, mesmo quando ela nos atrai pela repelência que nos provoca. Aí ela é o reflexo dos nossos podres, a reverberação dos nossos medos. Há muito disso na arte contemporânea, na música, na poesia, na pintura, na escultura, na dança, etc. Há muito desse confronto com o lado mais obscuro da criação, ou seja, o lado da destruição. Porque criar também é assassinar, também é esse gesto cruel de destruir, (des)construir, criar também é agarrar num riff de funk e estilhaçá-lo aos bocados sem que isso nos impeça de dançar.
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