20.4.07

É PÚBLICO

Aqui há dias, inquirido sobre a remodelação do Público, expliquei que deixara de ler jornais e que, por tal facto, não poderia omitir qualquer opinião sobre o assunto. Perante a insistência do meu interlocutor, lá fui dizendo que tinha reparado que o jornal estava mais colorido. Sabendo da transferência de Pedro Mexia do Diário de Notícias para o Público, adquiri hoje este último também com a intenção de poder formular uma opinião sobre a já tão debatida remodelação do jornal. O primeiro caderno deu-me ares de puta reles, tanta e tão despropositada é a maquilhagem. Lá dentro, nota-se uma marcação serrada ao (des)governo de Sócrates e companhia. Uma notícia de 1999 merece tratamento em 2007, arriscando o jornal a ser comparado à lentidão da justiça portuguesa. Irregularidades e ilegalidades, dizem eles, denunciando mais um potencial caso de cunha institucional ou, se preferirem, regime de excepção a favorecer a malta do costume. Insiste-se nas habilitações do PM e dedicam-se duas páginas, ou quase, às transferências de Pina Moura e José Lemos, homens do chamado aparelho socialista, para o grupo de comunicação social Media Capital. Dá-se a entender, como dizem os sacrossantos sociais-democratas, haver ali projecto de controlo da TVI. Mais à frente, põe-se o homem do ACP a acusar o Governo de nada fazer em relação à segurança rodoviária. Se isto não é jornalismo de causas, o que é? Tudo bem, não fosse a demagogia do Editorial onde se vomitam umas parvoeiras sobre posicionamentos políticos claros em matéria de comunicação social. Só os mais distraídos não percebem que há muito a comunicação social é serva de interesses económicos que bailam ao sabor das conivências políticas. Se este Público não é isso, então que o não pareça. Resta Vasco Pulido Valente, papa dos deprimidos, com as suas opiniões de última página: «A liberdade, a igualdade e a fraternidade não prosperam em França como prosperam em Inglaterra, na América ou na Escandinávia». Pois claro, há lá local no mundo onde a liberdade, a igualdade e, sobretudo, a fraternidade prosperem mais do que na América?! Só se for na Gronelândia. Mudo-me para o P2. Eduardo Prado Coelho de volta, mais magro, talvez fruto da doença, insiste na crítica como tema, remetendo-nos para um «críptico texto» que ficamos sem saber qual seja apesar de desconfiarmos. Atentem-se, no entanto, à conclusão: «(…) não podemos é fechar os olhos a certas realidades que revelam consideráveis assimetrias. E, se assim é, temos que aceitar que assim seja». Temos? Ó pátria dos derrotados e dos desistentes, vê no que deram 33 anos de liberdadezinha privada! Deram numa página de opinião para as inanidades da dona Laurinda Alves. É tudo feio naquela página. No P2, salvam-se textos sobre o perfil do aluno que levou a cabo mais um massacre numa universidade onde prospera a liberdade, a igualdade e a fraternidade; um outro, de Alexandra Prado Coelho, sobre a história do piano; e «Vaticano, o alvo mais espiado pelos nazis», de António Marujo. Economia, não leio. Salto para o ípsilon. Muito destaque à cultura de massas (televisão, música, cinema), livros relegados para terceiro plano, muita confusão, algumas gralhas, fotografias enormes, uma coluna inenarrável de Alexandra Lucas Coelho. Lá descobri, a muito custo, o Pedro Mexia, com um texto sobre uma nova edição dos Contos do Gin-Tonic. Não gostei de praticamente nada neste ípsilon, logo a começar no nome. Desagradou-me, particularmente, a confusão, não haver uma divisão temática tipo a que existia no 6.ª. Tendo este terminado, resta-nos, então, o ípsilon e o Actual, no Expresso. O Sol nunca comprei, não sei o que por lá se vende. Enfim, Pedro Mexia e Eduardo Pitta que me perdoem mas não será por eles que voltarei a gastar 1,25€ em jornais à sexta-feira. Ah! Falta O Inimigo Público… Falta? Bolas, esqueci-me dele no café.

10 Comments:

At 7:25 da tarde, Anonymous Anónimo said...

pois é.

uma vez li o ípsilon, também não achei nada de especial. e pensei no raio do nome: não sabiam escolhar algo menos apelativo.

e sou como tu: deixei de ler jornais. só leio a dica da semana, mais nada.

abraço

 
At 9:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Ignora o Prado Coelho, esteve tão bem substituído que devia ainda continuar em recuperação, e o T5 que a Laurinda tem no P2.
Tenta outra sexta-feira, há coisas que valem o gasto sobretudo se não deixares o Inimigo Público no café... Mas eu sou suspeita, não consigo deixar de ser leitora de jornais!

 
At 9:06 da tarde, Anonymous Anónimo said...

manuel, já tinha reparado que és fã do dica da semana :)

sissi, essa sobre o EPC é forte de mais. não se brinca com a saúde. mas talvez venha a seguir o teu conselho. talvez.

já agora, alguém me diz se vale a pena experimentar o sol?

 
At 11:26 da tarde, Blogger paulo said...

Vale. De óculos escuros e bronzeador. Em dia de semana é melhor.

 
At 12:17 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Com ou sem bronzeador?

 
At 1:46 da manhã, Blogger Girolamo Savonarola said...

acho que o inimigo público agora sai ao sábado... abraço.

 
At 10:17 da manhã, Anonymous Anónimo said...

não, francisco. saiu mesmo na sexta e eu esqueci-me mesmo dele no café. a não ser que haja para aí alguma ironia que me escapa.

 
At 1:56 da manhã, Blogger Logros said...

Eu hoje estou de serviço ao "Insónia"....

É que li isto, ontem, e guardei na memória para comentar.

Aqui estou de acordo consigo. Desde a pinderiquice gráfica do logotipo, mais próprio para emblema do que para um diário de referência, (como se diz) aquilo é tudo um desastre, onde não se encontra nada antes de aturada pesquisa.As páginas "ilustradas" um empecilho. Os leitores fiéis do jornal, entre os quais me contava, gostam de texto e opinião. Aqueles que querem cativar, com a "virose" das ilustrações gigantes, não lêem jornais.Laurindinhas e outras "celebridades" são sinais do jornalismo que temos. Onde uns filhinhos-família ou umas giraças puderam na juvenília não acabar Cursos Superiores (ora pois...) e se os acabaram a custo e bocejo,foi porque não tiveram tomates para se oporem aos paizinhos e mudar de Curso e até já esqueceram tudo o que lá "aprenderam". Agora vem a moda de se descascar na Universidade. Mas, onde se aprenderá Arquitectura ou Medicina? Bem, mas isto vem tudo a propósito de "sapiências" que li ontem no P., que um familiar me trouxe por engano.

Porque deixei de comprar o jornal do sr. Belmiro das Opas.E os textos do Eduardo Pitta podem ser lidos no blogue "Da Literatura".

Quanto ao EPC que não li, tenho respeito e consideração por muitas coisas que já leio dele desde antes do 25. Embora nem sempre concorde com as suas escolhas literárias e conceitos metapoéticos.

E "prontos". Para terminar, outra coisa que me fez pensar, foi o "Eixo do Mal" de ontem.Total mudança de tom. Haverá ali sombras "balsema...icas"? Para contrabalançar as anunciadas "tutelas" da TVI?

Saúde.
I.

 
At 10:47 da manhã, Blogger Alvaro said...

Esta foi a primeira de muitas semanas em que não comprei o Público de sexta, único dia em que o hábito se mantinha. O Público precisa de uma OPA. Ou então, o Público precisa de um Joaquim Oliveira, para implodir de vez. Dizem que são os novos canais e as mudanças na forma de fazer jornais, a pressão dos jornais gratuitos. Mas que dizer daquelas chamadas de cabeça de página tipo rodapé de televisão, que misturam notícia com as «actualidades»? Que dizer da marcação cerrada ao PM por peanuts, que dizer sobre o silêncio face às barbaridades que saem da boca do Mini-Mendes? Do silêncio sobre o Luís Delgado, o paradigma do esquizocomissário político, no mesmo jornal (eles dizem que mudou, é verdade) em que agora muito se fala da contratação de Pina Moura por uma empresa privada? Por que é que não há investigações sérias sobre as mordomias dos gestores públicos? Por que é que não publicam umas escutazinhas do Apito Dourado, como o CM, para a malta perceber o que se pode fazer sem ir de cana? E quem é que foi o imbecil que desencantou aquele logótipo? Será da UnI?

 
At 11:13 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Pelos vistos, nesta questão, estamos todos de acordo. Dizer só uma coisa: estas remodelações todas, quanto a mim, resultam de uma putativa necessidade de adaptação aos tempos modernos com a preocupação de cativar novos públicos. Ouvi o director do Público dizer na 2 que queria um jornal capaz de cativar mais o público feminino, logo, toca de borrar aquilo com maquilhagem por todo o lado, fotos enormes, temas de cácarácácá. Por si só, diz muito do mundo em que vivemos. Mas vai ser muito bem feita, à força de tanta adaptação hão-de perder cada vez mais leitores. É pena. Eu gostava de jornais. Ainda gosto, mas cada vez menos. Começo a gostar mesmo muito pouco, quase nada. Se calhar já não gosto mesmo nada. :)

 

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