12.4.07

CANÇÃO DA RUA PARADA

Naquela rua parada,
Com uma nesguinha de céu,
No alto, também parada,
E vasos numa sacada,
Onde há roupa pendurada,
Parece que alguém morreu.

De manhã, aquela rua,
Ainda nua,
Olha o céu, entre as fachadas;
E tem, nas pedras sombrias,
Lágrimas finas e frias,
De lembranças de cantigas
Antigas
E desgraçadas…

Coitada daquela rua!
Nunca prende quem lá passa!...
Há uma enorme desgraça
Que ali, silente, flutua:
- Porque ela a todos quer bem;
Quem precisa passar, passa
E nunca pára ninguém.

Francisco Bugalho

Francisco Bugalho nasceu no Porto em 1905. Cursou Direito em Coimbra e Lisboa, indo viver posteriormente para o Alentejo. Colaborador da Presença e dos Cadernos de Poesia, publicou o seu primeiro livro de poemas em 1931: Margens. Faleceu novo, em 1949, tendo sido a sua poesia reunida num só volume no ano de 1961.