1.4.07

A receita do molotov

Há qualquer coisa de muito estranho neste país, ou, na melhor das hipóteses, nas elites opinativas deste país. Vamos lá a ver se nos entendemos. Dizem que Salazar ganhou porque nestes anos que passaram de democracia não se falou suficientemente do que foi a ditadura, de quem foi Salazar, etc. e tal. Um burgesso de um partido nacionalista burgesso escancara o seu rosto de burgesso em plena praça pública, fazendo-se acompanhar de um dos seus slogans burgessos, nomeadamente um slogan xenófobo que, convenhamos, é por si só prova mais que suficiente do estado mental burgesso a que isto pode chegar. Mas o que me faz confusão é que, quanto ao assunto, muitos venham advogar o silêncio como a melhor das alternativas, ou seja, o mesmo silêncio que, dizem, permitiu Salazar vencer postumamente as suas primeiras eleições. Não haverá qualquer coisa de estranho nisto? Pode a democracia calar-se perante um atentado à democracia? Não, não e não. Esta gente já não se indigna com nada, é esse o nosso maior mal, já não nos indignamos com nada, optamos por fingir que não vemos e, quando menos esperamos, o que não queremos ver entra-nos pelos olhos adentro e cega-nos. Trinta e qualquer coisa anos de democracia são mais que suficientes para percebermos que a sociedade portuguesa está minada por vários cancros, sejam eles o da desmemória, o da indiferença, o da corrupção, o do conformismo, o da deseducação, etc.. Mas o pior de todos, provavelmente aquele que legitima todos os outros, é esta política do silêncio, este virar as costas aos cancros como se nada se passasse, esta ausência absoluta de indignação que permitirá que um rosto burgesso acompanhado de um slogan burgesso permaneça, como um insutlo a todos os que acreditam na democracia, pendurado sobre os rostos indiferentes de uma sociedade que já não se indigna. Eu ontem dizia a um amigo que, clara que se torna a ineficiência das falinhas mansas, isto já só pode melhorar à base de cocktails. Têm dúvidas?

11 Comments:

At 5:46 da tarde, Blogger Graça Pires said...

Henrique, junto a minha indignação à sua e o meu protesto ao seu protesto. Acho que não devemos calar-nos com estas coisas que são verdadeiros atentados à nossa democracia. As "elites opinativas deste país", como refere, também me parecem muito pouco coerentes...
Um abraço

 
At 6:07 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Eu também acho que não devemos calar a nossa indignação e que o cartaz do tal partido, à semelhança do indivíduo que aparece como líder, são um asco.
Mas que a nossa comunicação social, agindo acrítica e acefalamente, acaba por ampliar estas merdas, desculpem o termo, também não deixa de ser verdade.
E o imbecil vai-se rindo ...
Quanto aos cocktail, havia os Molotov de boa memória, mas nem sempre apontaram na direcção certa.

Um abraço

Manuel Lourenço

 
At 6:33 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Pois, o cartaz seria o menos se houvesse sobre ele controvérsia, indignação, polémica, tomates. Mas não, está na moda a falinha mansa, o elogio mútuo, a piadinha inócua, como a televisão pública nos mostra todos os dias, tudo muito doce, enjoativo, diabético - e já começam a surgir as primeiras bolhas da doença, a cegueira já se aproxima. Há-de ser o fim, mas deles, espero.
fag

 
At 7:39 da tarde, Blogger Ricardo António Alves said...

Eu espero que aquilo não fique na Rotunda o tal mês previsto. Acho que tem de ser democraticamente removido pelas "autoridades" ou também democraticamente destruído pelos cidadãos. As sociedades que se dizem humanistas, democráticas e liberais não podem tolerar a utilização do espaço público para o achincalhe e a ameaça ao Outro -- que somos todos Nós.

 
At 9:12 da tarde, Blogger MJLF said...

Estou agora a lembrar-me de um projecto artistico?!?! da Cristina Mateus em 1998, ela colocou um cartaz do Salazar enorme em Beja e não durou uma noite - pegaram-lhe fogo. A desmemoria está a piorar de ano para ano.
Maria João

 
At 12:38 da manhã, Anonymous Anónimo said...

É este o pior defeito da democracia: dá demasiada rédea aos seus inimigos.

 
At 4:08 da manhã, Blogger Logros said...

Não acho que o Sal - azar fosse eleito democraticamente. O que ouvi ontem, no "Eixo do Mal", foi referir que foram recebidas 65 mil chamadas/votos, na múmia sinistra.Numa votação democrática só há um voto por votante. Ora, o pessoal (de Sta Comba,- e temos várias - e mais uns tantos de velhas beatas e trolhas analfabetos que votaram "não" à ivg, mobilizou-se e toca a amandar 5 ou 6 ou 7 votos cada um. Eu própria, grande palonça, amandei do meu telelé 5 votos para o Pessoa, que já calculava que nada valessem perante a bronquice e pétrea ignorância geral.

Também acho que faltou uma figura como Soares para fornecer alternativa a Cunhal. Claro que a questão das eleições presidenciais, o desfavoreceu, injustamente.

Também acho urgente ensinar aos alunos para quie serve uma Câmara Municipal, a Assembleia da República, e por aí fora. O ensino diacrónico da História de Portugal é mais que urgente. Veja-se o belo ranking do Concurso.

Quanto ao Cartaz, se não o borrifarem com um bocado de tinta, de preferência de cor amarelo-cócó, fazem mal.


I.

I.

 
At 10:43 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Que chatice a democracia, pá. Isto no tempo do Salazar não havia cá cartazes de propaganda para ninguém... Era mandar prender esse burgesso e enviá-lo para o Tarrafal! Tou de acordo com os cancros e sobretudo com os cocktails. Quando quiser avise, que saio do anonimato e rebentamos com esta merda toda a começar pela AR! Haja saúde.

 
At 10:46 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Ah esqueci-me. Rebantamos também com essas elites opinativas. Rebentamos aliás com todos que opinem com falinhas mansas... Você é que a sabe amigo Henrique!

 
At 2:12 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Inteiramente de acordo. E se forem precisos os molotovs lá estaremos.

 
At 2:12 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Inteiramente de acordo. E se forem precisos os molotovs lá estaremos.

 

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