7.5.07

COMPARAÇÕES

Não posso dizer que tenha deixado de fumar, prefiro antes sublinhar o esforço que tenho feito para não fumar desde o início do ano corrente. O que fumei do dia 1 de Janeiro de 2007 até hoje, provavelmente, não dava para encher um maço de tabaco. O problema é que adoro fumar e, estou certo disso, mais tarde ou mais cedo não resistirei a entrar num café e comprar uns cigarritos para acompanhar a imperial e os tremoços. A minha mulher fuma esporadicamente, já fumou mais. Cá em casa nenhuma visita está proibida de fumar, embora o façam geralmente, por cuidado para com as miúdas, ou no sótão, ou na varanda ou à janela. Nunca pedi a ninguém que o fizesse, são as pessoas que tomam essa iniciativa livremente. Às vezes, um amigo ou outro pergunta-me se pode fumar no carro. Respondo sempre que sim, que nem é preciso perguntar, não me incomoda nada e até agradeço. Sempre mato o vício pelo cheiro. Cortei no tabaco por razões de saúde. Sou asmático, os pulmões começaram a dar de si, a sinusite tornou-se insuportável. No entanto, quando leio contra-argumentos destes relativos às medidas restritivas do consumo de tabaco dá-me ganas de me tornar num fundamentalista antitabágico. Vamos lá a ver uma coisa. Não é por a cirrose hepática matar mais que o cancro do pulmão que o consumo de álcool nos locais públicos deve ser proibido, pois eu posso ingerir as pipas de vinho que eu bem entender que daí não vem mal ao mundo, não estou a prejudicar ninguém que não eu mesmo com o vinho que ingiro. O mesmo não se passa com o fumo do meu cigarro, que ao ser consumido pode, por caminhos ínvios, chegar aos pulmões de quem não tem nada que ver com a minha opção de fumar. O mesmo se passa com os doces e subsequentes mazelas provocadas pelo excesso de açúcar. Ao comer um bolo esse bolo só está a ser comido por mim e por mais ninguém. O exemplo dos acidentes de viação também não vinga, dado serem já bastante restritivas as leis no que ao assunto diz respeito. E é bom lembrar que as medidas antitabagistas em nada, pelo menos que eu saiba, beneficiam o Estado. Com o dinheirinho que o Estado vai buscar a um maço de cigarros, o contrário, ou seja, o estímulo ao consumo de tabaco seria, parece-me, muito mais do interesse do próprio Estado. Mas se eu estiver enganado façam o favor de me corrigir.

Apêndice do Apócrifo: aqui.

14 Comments:

At 7:40 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Da mesma opinião!
jr

 
At 8:01 da tarde, Blogger Profundezas said...

Que engraçado, andava à procura de Jorge Palma no Google e sai-me um vizinho!

 
At 8:43 da tarde, Blogger Sujeito Oculto said...

Não está enganado. Estou com uma rinite de tanto respirar fumaça alheia no fim-de-semana!

 
At 11:16 da tarde, Blogger grande said...

Concordo contigo (a demagogia zangada chega a ser patética). Respondendo ao teu desafio: uma das razões porque os Estados, e o português não é excepção, estão decididos a acabar com o tabaco - apenas um dos males do mundo - é exactamente o problema financeiro. Ou seja, concluíram que as elevadas receitas do imposto sobre o tabaco não chegam para pagar as despesas do Serviço Nacional de Saúde na área das doenças pulmonares e outras relacionadas com o consumo de tabaco. Às quais se devem juntar ainda as despesas com a comparticipação de medicamentos e tratamentos e com as baixas por doença e consequente perda de produtividade.
Francamente, nem eu, nem o meu futuro cancro no pulmão estamos chateados com esta inversão geral da tendência relativamente ao tabaco. Prefiro que a moda entre pré-adolescentes seja não fumarem. O fumo só se banalizou por falta de educação, inconsciência pública e pressões/manipulações, quer por parte das tabaqueiras, quer do Estado. Quando não eram um e o mesmo... Apenas com o lucro/imposto em vista. Não percebendo que era um negócio ruinoso a longo prazo.
Agora, é óbvio que esta inversão de tendência vai produzir absurdos, injustiças e arbitrariedades, claro que vai! Mas quando a poeira assentar, com tempo e de cigarros apagados, voltar-se-á ao assunto...

 
At 11:35 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Concordo que os argumentos utilizados não são felizes. Gostava de deixar de fumar (o que não é invulgar), evito fazê-lo em restaurantes e só indavertidamente o faço junto de crianças. Agora culpada, não, de modo nenhum. Não neste pequeno mundo onde mal ponho o pé na rua, levo com uma gigantesca baforada dos escapes dos carros a mais que circulam na rua onde vivo (parte dos quais no passeio - LITERALMENTE), dos escapes dos carros que entram no largo onde está o serviço (público) onde trabalho - local histórico RESERVADO A PEÕES, não neste pequeno país onde tenho de andar muito para além do razoável até encontrar um caixote do lixo.Ele é cada alergia!! A minha vontade frequentemente era fumar 2 cigarros de cada vez;-)(sempre poderia dizer que fumava metade das vezes)
Saúde!

 
At 5:31 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Só uma achega acerca de a ingestão em excesso de bebidas alcoólicas não prejudicar outrém além do próprio. Não é bem assim. O excesso de álcool e o alcoolismo são responsáveis por mortes na estrada, por violência doméstica e sei lá mais o quê. Creio até que os dramas causados em terceiros pelo excesso de álcool são muito superiores aos provocados pelo tabaco aos não fumadores.

Mas concordo contigo no essencial do post.

 
At 10:07 da manhã, Blogger Lourenço Bray said...

Fumei durante anos, não muitos, mas cheguei ao maço por dia rapidamente. Depois de uma tentativa falhada (em que fumava de vez em quando raramente etc....)deixei, foi fácil com a mentalização certa. O tabaco é mesmo muito perigoso, caro e mau para a saúde. É verdade que tive a sorte de ter deixado de fumar antes desta febre anti-tabágica. Creio que estas leis podem funcionar bem para proteger outros (como eu agora) mas não funcionam como desincentivo a fumar. Pelo contrário, aumentam o stress e reforçam a atitude algo contestatária do acto de fumar que é um dos principais motivos para começar a fumar: a emancipação. É muito difícil vencer este estereótipo, mas vale a pena. Depois há toda uma indústria inútil de produtos para deixar de fumar, e são todos banha da cobra.

O gostar de fumar é o vício, não é um prazer genuíno, tanto que os fumadores pensam quase todos em deixar de fumar um dia. O cigarro é desenvolvido para nos criar uma carência de nicotina. É um bocado como darmos cabeçadas numa parede constantemente, e quando fumamos, paramos de dar cabeçadas e sabe bem.Não há meio termo para um fumador. O melhor é deixar só quando estiver mesmo mentalizado que nunca mais quer fumar. Agora, passam-se semanas a fio sem que me lembre sequer que fui fumador e isso é que é estar livre, é ter a certeza que nunca mais voltaremos a fumar. Claro que posso ainda cair no vício, mas é uma escolha. Tudo se resume a uma escolha. Temos a possibilidade de fumar e devemos decidir: fumo ou não fumo? Nada nos obriga a fumar. Mesmo nada. E não é assim tão difícil deixar! A ressaca é até agradável. Sentimos tonturas do excesso de oxigénio no corpo porque já não temos monóxido a entrar todos os segundos. E podemos praticar desporto e sentir o corpo a agradecer.

Mas minto se disser que não sinto falta do acto de fumar em ocasião nenhuma:
quando vejo filmes antigos, do tempo em que o tabaco "não causava cancro", o Humphrey Bogart a fumar, tenho saudades desse tempo que nem cheguei a viver.
Mas o próprio Bogart morreu de cancro do pulmão. Não é linear que só por deixar de fumar passamos a ser mais saudáveis. Eu ganhei 10 quilos em poucos meses (mas depois baixei de novo) e desenvolvi outras necessidades e até tive uma passagem por um vício verdadeiramente destruidor: o jogo. O tabaco apaga muitas necessidades, quando ele desaparece, pessoas com o meu feitio precisam de encontrar escapes a um feito um bocado mais impulsivo ou compulsivo. Mas uma coisa que notei, e isto a propósito da escrita, é que o ter deixado de fumar me causava um certo desequilíbrio bom para escrever. Quando fumamos, o tabaco é uma resposta a todo e qualquer estímulo e adormece-nos mais, é uma fuga para aquelas pulsões. Digamos que nos sentamos para escrever, porque gostamos é de estar sentadinhos a fumar o cigarrinho. E não a escrever. Espero que o Henrique deixe definitivamente de fumar
Um abraço

 
At 10:18 da manhã, Blogger Apócrifo said...

ePrimeiro que tudo obrigado pela sua referencia ao meu post. Logicamente que qualquer ser humano com dois dedos de testa não é a favor de se poder fumar junto a crianças, em recintos fechados ou junto de outras pessoas a quem o fumo incomode. Isso faz parte da socialização dos homens e das mulheres, ou deveria. Mas para isso não são necessárias leis o que é preciso é educação e consciência cívica. A nossa liberdade termina onde começa a liberdade dos outros, é uma velha máxima mas muito actual.
Mas ao invés de se promover a cultura democrática, a educação, a civilidade dos jovens é muito mais fácil proibir. Basta analisar os indicadores sociais e económicos recentemente publicados pela OCDE e pela Comunidade Europeia para verificarmos as disparidades entre a promessa e o discurso político e a realidade portuguesa.
Os argumentos apresentados apenas servem para tentar desmontar a falácia da argumentação da lei anti-tabaco, e não servem como defesa de absolutamente nada.
Não se pode fazer uma lei baseada no número de cancros do pulmão, em especial porque por muito estúpido que possa parecer não é estatisticamente relevante.
Morrem muito mais inocentes devido aos excessos do álcool.

Paulo Tomás

 
At 12:34 da tarde, Blogger hmbf said...

Obrigado a todos pelos comentários. Quanto à minha dúvida, julgo que o Grande foi esclarecedor. A Ana também acrescentou um dado importante, ou seja, o facto de as doenças pulmonares não estarem directamente relacionadas com o consumo do tabaco. Mas isso, por si só, não contradiz as restrições ao consumo de tabaco em locais públicos, pela simples razão de que a existência de um mal não pode justificar a permanência de um outro. Já o argumento do Fernando não me parece tão bom. Todos sabemos das consequências nefastas que o excesso de álcool pode provocar, mas também sabemos que essas consequências estão devidamente contempladas na lei com fortes repressões. O que não podemos é impedir que as pessoas bebam ou fumem, mas podemos tentar limitar ao máximo as consequências nefastas desses actos quando eles impliquem a violação do espaço alheio. Por exemplo, o excesso de álcool é responsável por mortes na estrada. Pois é, por isso há leis que proíbem as pessoas de conduzir com excesso de álcool. É só nesse sentido que afirmo que o argumento do Apócrifo não é bom, pois, repito, «não é por a cirrose hepática matar mais que o cancro do pulmão que o consumo de álcool nos locais públicos deve ser proibido, pois eu posso ingerir as pipas de vinho que eu bem entender que daí não vem mal ao mundo, não estou a prejudicar ninguém que não eu mesmo com o vinho que ingiro (refiro-me apenas ao consumo da substância e não às consequências a esse consumo associadas, o que não posso fazer sob pena de passar a julgar as pessoas não por crimes cometidos mas pela eventualidade de os virem a cometer; em absurdo, se assim fosse, deveria proibir as pessoas de conduzirem pelo facto de, com essa acção, poderem matar alguém?). Também discordo do Lourenço quando ele diz que «o gostar de fumar é o vício, não é um prazer genuíno, tanto que os fumadores pensam quase todos em deixar de fumar um dia». Isto parece-me muito discutível, caro Lourenço, pois eu não penso em deixar de fumar senão por limitações de saúde, já que o meu desejo é, na realidade, continuar a fumar porque, na verdade, gosto mesmo de fumar. Ele há gostos para tudo! Quanto ao Paulo Tomás, agradeço a réplica que, reparei, foi deixada também no Apócrifo para a qual já fiz adenda. Saúde,

 
At 1:23 da tarde, Blogger Lourenço Bray said...

Não existem pessoas que gostam de fumar e outras que não gostam. Todos os fumadores dizem que gostam de fumar embora no início haja diferenças. Há pessoas que detestam os primeiros cigarros e ficam enjoados e mal dispostos. Eu fumava um maço por dia, não era certamente obrigado a isso. Claro que gostava em muitos momentos. E é evidente que se o tabaco não me fizesse mal à saúde, não teria deixado de fumar há dois anos, apesar do argumento económico também ter sido muito determinante. Gostava tanto de fumar que até andei a fazer investigação para aprender a fumar cachimbo, para talvez orientar o fumo mais para a actividade de degustação e prazer, e menos para o vício. A regra seria "não travar" visto que para a degustação de cachimbo não é recomendável travar. Apesar de tudo fazia muito mal e o risco de voltar a ficar viciado é enorme no caso de ex-fumadores. Seria uma tortura constante ter fumo e não travar. Simplesmente, queria era pensar noutras coisas.

Parte da motivação para deixar de fumar começa no reconhecimento que é um vício que foge ao nosso controlo, a tal ponto que molda a nossa percepção dos nossos gostos ou de quem somos. E um vício não é o mesmo que um prazer caro Henrique. Um vício é saírmos de casa à noite no inverno só para comprar tabaco, vestindo roupa por cima do pijama :) Nunca saí de casa às 23h para comprar um livro porque precisava urgentemente de ler... Um vício é cravar cigarros a desconhecidos - nunca cravei comida ou bebida, ou consumir coisas que nos fazem muito, mas muito mal. Antes de fumarmos um primeiro cigarro não precisávamos deles para nada, em momento nenhum.

Não sou um fundamentalista antitabágico, mas já percebi, sobretudo pelo meu círculo próximo de amigos, que há um pudor enorme em estar preocupado com a saúde dos outros. Os meus amigos fumadores podem fumar no meu carro também, na minha casa, ao jantar depois e antes da refeição. Não me incomoda especialmente a não ser pelo cheiro nojento que deixa na roupa (e isso sempre me incomodou). Mas sinto-me muito "careta" ou "chato" se lhes digo que aquilo faz mal e que deviam parar. E isso é o tal estigma social que existe: fumar é fixe, não fumar é de "totós". A imagem de Jorge Palma a acender um cigarro ao pé de um anúncio que diz "é proibido fumar" etc... O pior é que o estigma está a piorar porque de repente parece que se tornou num assunto nº1. O deixar de fumar está a ficar associado ao politicamente correcto e misturado com coisas que não têm nada a ver.

Fala-se do consumo de alcool na condução na estrada mas um exemplo melhor para se perceber que nem sempre as leis são feitas para proteger "outros" das nossas opções, é a obrigação de usar capacete quando se anda de mota ou cinto de segurança obrigatório. Ninguém mata outra pessoa por não usar capacete ou cinto de segurança, mas é necessária a obrigação para prevenir acidentes e danos no próprio. Parece que não está a magoar ninguém, mas está. A saúde de uma pessoa é certamente importante para todos os que lhes querem bem ou dependem dele, não só para o próprio.

 
At 1:36 da tarde, Blogger Lourenço Bray said...

Quanto ao estado, não pode ser menosprezado o custo económico e social muito grande que o consumo do tabaco tem na saúde. A OMS estima que morram quase 5 milhões de pessoas por ano por causa do tabaco e que esse número tem tendência a subir muito com a industrialização de países do 3ºmundo. Em Portugal estima-se que 30% das mortes por cancro se devam a tabaco e que mais de 1500 pessoas por ano morram por causa do fumo passivo. Também é preciso ver que esse dinheiro que se consegue através dos impostos no tabaco, será conseguido parcialmente com impostos noutros bens de consumo que os ex-fumadores passam a consumir, embora com taxas mais baixas. Eu deixei de fumar e tive mais 3 euros disponíveis por dia, que gastei noutras coisas que são taxadas, embora não tanto, mas que por outro lado são destinadas a sectores mais «limpos» que não o das multinacionais tabaqueiras...

 
At 2:30 da tarde, Blogger MJLF said...

Eu quero deixar de fumar, mas é muito dificil, a unica vez que consegui deixar de fumar, acordei de manhã e amachuquei um maço quase cheio, deitei-o para o lixo e assim estive durante quatro meses, com um humor pessimo, a gritar com todos à minha volta, briguei-me a sério com um amigo e etc... bom, vou ver se arranjo corajem, quando estiver mais estavel fisicamente devido à drástica.
Maria João

 
At 5:26 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Apenas pretendi chamar a atenção para o facto da ingestão de álcool poder também prejudicar terceiros, o que até é bastante frequente.
Eu sei que te referias apenas ao consumo da substância, mas um gajo com os copos pode ser um perigo não apenas para quem partilha o mesmo espaço que ele, como acontece com o fumo, mas para outros. Nem há comparação com o perigo de matar alguém pelo facto de conduzir porque quando alguém bebe sabe de antemão as possíveis consequências de tal acto.

Quanto à questão do vício, não conheço nenhum caso de assaltos para arranjar trocos para tabaco, nenhum arrumador de automóveis que o faça para matar esse bichinho e nem famílias e vidas destruídas por consumo do dito, o que já não se passa com o álcool.

Posto isto, quando é que vamos beber umas cervejolas?

 
At 2:49 da tarde, Blogger MJLF said...

Olha, olha, o Fernando, vai mais uma cervejinha no inferno? Agora só posso beber tinto!
Maria João

 

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