2.6.07

THE DEPARTED

A arte da dissimulação implica uma estranha aprendizagem: não se trata tanto de velar a identidade como de impor à identidade uma organização que não é a sua. O que somos não vale de nada se não pudermos sê-lo. Mas imaginemos que nos pedem para sermos quem não somos e que, ao nos pedirem tal coisa, prometem-nos um encontro com a nossa própria natureza. Entendam-nos sobre o disfarce. O nosso rosto, ensina a psicologia mais sensata, resulta de uma construção cujos limites sãos os da vida. Não há uma natureza própria senão a que construímos ao longo da vida, por isso a identidade, num sentido mais amplo do termo, é também uma construção dinâmica, um mecanismo de buscas e encontros com o verso, o inverso e o adverso. Termos um nome, uma impressão digital, termos um património genético, de pouco ou nada nos vale se por cima de tudo isso não nos tivermos a nós próprios. Temo-nos a nós próprios quando olhamos os outros nos olhos e trememos, quando diante dessas experiências limite que são as experiências do medo, do ódio e da solidão dizemos: tremo. No fundo, temo-nos a nós próprios quando trememos. Contra isso não há disfarce.