GERAÇÃO PAISSANDU
Vim, como todo mundo,
do quarto escuro da infância,
mundo de coisas e de ânsias indecifráveis,
de só desejo e repulsa.
Cresci com a pressa de sempre.
Fui jovem, com a sede de todos,
em tempo de seco fascismo.
Por isso não tive pátria, só discos.
Amei, como todos pensam.
Troquei carícias cegas nos cinemas,
li todos os livros, acreditei
em quase tudo por ao menos um minuto,
provei do que pintou, adolesci.
Vi tudo que vi, entendi como pude.
Depois, como de direito,
endureci. Agora a minha boca
não arde tanto de sede.
As minhas mãos é que coçam –
Vontade de destilar
depressa, antes que esfrie,
esse caldo morno da vida.
do quarto escuro da infância,
mundo de coisas e de ânsias indecifráveis,
de só desejo e repulsa.
Cresci com a pressa de sempre.
Fui jovem, com a sede de todos,
em tempo de seco fascismo.
Por isso não tive pátria, só discos.
Amei, como todos pensam.
Troquei carícias cegas nos cinemas,
li todos os livros, acreditei
em quase tudo por ao menos um minuto,
provei do que pintou, adolesci.
Vi tudo que vi, entendi como pude.
Depois, como de direito,
endureci. Agora a minha boca
não arde tanto de sede.
As minhas mãos é que coçam –
Vontade de destilar
depressa, antes que esfrie,
esse caldo morno da vida.
Paulo Henriques Britto nasceu no Rio de Janeiro no dia 12 de Dezembro de 1951. Viveu nos Estados Unidos, tornando-se mais tarde tradutor de autores de língua inglesa. Formado em Português e Inglês pela PUC-Rio, é tradutor profissional, poeta e ensaísta, tendo-se estreado, em poesia, no ano de 1982 com Liturgia da matéria. O seu livro Macau, recebeu o Prémio Portugal Telecom de Literatura Brasileira, em 2004. »
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