TU PRETENDES MILAGRES
Tu pretendes milagres?
Religiões? Mas quem é
Que te disse que não
É um milagre a floresta?
E um milagre esta costa
De rochas escabrosas,
E um milagre esta neve
De sombras oscilantes,
E um milagre o próprio homem,
Um milagre tu próprio?
Parece-te blasfémia
Que o teu sonho sagrado,
De mágico sentir, seja
Explicado pela ciência?
Donde te vem o teu tormento,
E a tua dor – donde vem?
Esta ciência do mundo
Não será maior milagre
Do que o teu sonho sagrado?
E nem se pode saber
Qual é o maior milagre:
Se a ciência ou o teu sonho…
O nosso poço sem fundo
Está agora quase seco:
A ilusão – mesmo explicada –
Não será sempre milagre?
Mesmo depois de explicado
Quem é e donde vem ele –
Não estará o génio sempre
De mistério cercado?
Tradução de Manuel de Seabra.
Novella Matveyeva nasceu em Pushkin, perto de Leninegrado, em 1934. Foi criada em orfanatos e viveu muito tempo em hospitais. Começou a escrever versos na infância, tendo a sua primeira colectânea, Líricas, sido publicada em 1961. Com colaboração espalhada por diversas revista russas, é também escritora de canções.
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