19.9.07

AQUILINO

Jorge de Sena escreveu a Carta ao jovem poeta em 1966, tinha 47 anos. Nela se afirma muita coisa interessante e outras tantas com as quais poderíamos discordar, não fossem a ironia e um certo cinismo com que são proferidas. Mas há algo que Jorge de Sena omite, embora convenha sempre lembrar. Nada há mais desprezível num escritor do que o pedantismo, o querer passar por algo que não é, o pretender parecer-se com o que, almejando-se, ainda não se conquistou. Nomeadamente esse estatuto de escritor que apenas a alguns se ajusta, não obstante o facto de tantos serem aqueles que o reivindicam sem que nada de relevante tenham feito para tal. Há gente que se angustia de não publicar, outra há que publica mais do que os leitores que tem. Há gente que se presta a tudo para ter um livro seu nas mãos, sonhando com o dia em que entrará numa livraria e verá o seu nome nos escaparates. E há quem se aproveite como sabe e pode e quer dos sonhos dessa gente. Quere-me parecer que nada disso define a condição de um escritor. Mas numa coisa Jorge de Sena tinha toda a razão: «Tudo, na vida, funciona por camarilhas que oferecem a seus membros a tranquilidade de se imaginarem importantes ou, mais ainda, a ilusão de que estão vivos». O resto é solidão e esquecimento.

2 Comments:

At 11:48 da manhã, Blogger Girolamo Savonarola said...

Afinal o que é que este post tem a ver com o Aquilino? :)

 
At 12:09 da tarde, Blogger hmbf said...

aquilino, adj. pertencente ou semelhante a águia; curvo como bico de águia; (fig.) penetrante; perspicaz. (Do lat. aquilïnu-, id.).

É um post com destinatário.

 

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