20.9.07

O RESPEITINHO É MUITO BONITO

E não é só cá: Democracia em acção na Universidade da Florida.

Nem de propósito, um Artefacto de Nicanor Parra:

7 Comments:

At 1:10 da tarde, Blogger manuel a. domingos said...

é impressionante. John Kerry, em quem tanta gente depositou esperanças, devia ter vergonha do que aconteceu.

 
At 8:19 da tarde, Anonymous Anónimo said...

o kerry é o menos. o que me deixa com falta de ar é praticamente ninguém ter levantado o cu da cadeira para defender o rapaz. tão jovens, porém tão letárgicos.

 
At 12:59 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Confunde-se muito liberdade de expressão com garantia de expressão. Se alguém monopolizasse o espaço de perguntas-e-respostas após uma apresentação minha, para, ainda por cima para expor uma tese, eu também gostava que alguém levasse esse indivíduo. Um debate faz-se com respeito pelas regras, e parece-me que este indivíduo “esticou” (para ser simpático) as regras. Antes de tudo, é preciso educação e respeitar o espaço que nos é atribuído. E é preciso lembrar que noutros lugares, sem estátuas da liberdade, as audiências deste tipo de coisas não são mais do que estátuas.

 
At 1:53 da tarde, Blogger hmbf said...

O mal de uns não justifica o mal de outros. E neste aspecto os EUA têm especiais responsabilidades, ao terem-se auto-proclamado baluartes da democracia, das sociedades abertas, da liberdade de expressão. Ainda há não muito tempo um país foi invadido, destruído, muitas pessoas continuam a morrer, sob (segundo) pretexto de aí ser implantado um regime democrático. Este é só um exemplo mais recente da prepotência norte-americana em questões de liberdade e democracia.

Quanto a eventuais confusões, não existem neste caso. Aliás, até julgo que ficaria bem reconhecer logo, como alguns já terão reconhecido, que o episódio em causa no vídeo aqui linkado é um episódio bastante infeliz, que não põe em causa a democracia americana, a liberdade de opinião que todos reconhecemos existir no país, mas que nos faz pensar, a mim sobretudo, na letargia que estas democracias de tipo liberal em que vivemos imprimem nos cidadãos. É essa letargia que intoxica e reprime alguns aspectos essenciais da liberdade.

O problema não está num indivíduo ter quebrado as regras do debate (quebrou? – uns dirão que sim, outros que não), nem no facto da polícia ter abusado do seu poder para silenciar esse indivíduo (abusou? – uns dirão que sim, outros que não). Eu gosto dos indivíduos que quebram regras (Aristides Sousa Mendes, por exemplo), mas isso é mera questão de gosto pessoal. O maior problema nesta situação, para mim, é a inexistência de indignação por parte da assistência. Todos muito acomodados nos seus lugares, assistem, impávidos e serenos, à brutalização de um indivíduo.

No filme Irreversível há uma cena que, em situação limite, deve servir de exemplo para a compreensão destes fenómenos. Aquela em que uma mulher está a ser violada e um tipo, ao fundo do corredor onde o crime é cometido, vira costas ao crime e põe-se a andar como se nada fosse com ele. Este alheamento, esta letargia, esta indiferença, é cada vez mais um retrato das democracias em que vivemos. É isso que me retira a respiração. O resto é política para neos e contras, pólos que eu sempre desprezei pelo facto óbvio de serem pólos.

 
At 2:41 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Também se exagera e distorce um pouco essa história dos "os EUA têm especiais responsabilidades, ao terem-se auto-proclamado baluartes da democracia, das sociedades abertas, da liberdade de expressão."
Não são os EUA, entidade abstracta, mas sim a forma como os seus cidadão encaram o governo. Existe uma cultura de desconfiança em relação aos sucessivos governos que talvez seja única no mundo. O eleitor pensa:" eu voto em ti hoje, mas amanhã serás o rosto do poder e a partir dessa altura começa o escrutínio". Abusos, haverá com certeza, é da natureza dos Estados e dos governos. Mas se olharmos com atenção para os "abusos" no mundo nos últimos 200 anos, então teremos que tirar o chapéu à democracia na América. Mal ou bem, nunca tiveram um Salazar ou um Lenine.

Quanto à quebra das regras, é preciso ter coragem para assumir que existem regras justas e injustas. As regras do Estado Novo foram quebradas por Sousa Mendes de uma forma, na minha opinião, legítima. Sousa Mendes cumpriu a sua obrigação como Homem (assim, com H grande). Eram regras injustas que levavam ao desrespeito dos direito mínimos de um ser humano. E eram regras impostas por terceiros, sem que o cidadão comum pudesse expressar qualquer sentimento. Por outro lado, as regras de um debate, para além serem de âmbito mais restrito (ou seja, não necessariamente público), são implicitamente aceites por quem neles aceita participar. Quem aceita para depois perturbar, é desonesto e mal-educado (podemos questionar, claro, se o aluno quebrou as regras; parece-me que sim, pois foi-lhe dito para se apressar e colocar a questão, enquanto ele preferiu expor uma tese.)
(E a tal "brutalidade policial" só foi exercida quando o indivíduo se recusou a abandonar uma plateia que já não lhe pertencia. )

 
At 3:46 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Temos perspectivas diferentes. Ainda bem.

Eu não penso que se distorça senão quando se pretende que a democracia americana cumpra um ideal irrealizável. Mas quando o discurso político vai, há anos, no sentido de uma defesa das sociedades abertas (seja lá por que for), implicando guerras, combates, mortes, com alianças, tantas vezes, duvidosas e questionáveis, é mais do que legítimo esperar da sociedade americana uma exemplaridade que, mais vezes que as desejáveis, não se verifica. Tomem-se de exemplo a segregação social que ainda hoje se faz notar em alguns dos Estados dos EUA, a Pena de Morte, as milícias fundamentalistas, etc. Muita coisa haveria a dizer a este respeito, embora o que importe aqui realçar, mais do que os podres ou virtudes da democracia americana, seja, quanto a mim, o facto de não ser possível convencer ninguém dos benefícios da democracia e da liberdade de expressão quando, depois, essa liberdade de expressão é ameaçada de múltiplas formas e em variadíssimos casos. Faz o que eu digo, não faças o que eu faço?

Quanto a tirar o chapéu, quando o assunto é política tiro-o a poucos: Mandela, Ghandi… Lincoln? Já o argumento de que os EUA não tiveram nenhum dirigente ditador (penso que era isso que pretendia salientar), parece-me frágil quando pensamos no "mal que muitos dos democratas americanos trouxeram ao mundo". Mas fiquemo-nos inter fronteiras: Macarthismo, Watergate… Pois claro, nenhuma democracia é perfeita.

Agora a quebra das regras. De acordo quanto à distinção entre regras justas e injustas. Por isso mesmo, a forma como aquele indivíduo foi silenciado é vergonhosa. Foram postas em prática regras injustas. Convém sublinhar que ele não foi apenas arrastado para fora da sala. E quem nos pode garantir que a inconveniência daquele rapaz não se justificava? Quem nos pode garantir que ele não estava a cumprir a sua obrigação enquanto cidadão ao colocar perguntas inconvenientes? Não sei.

Contudo, não posso concordar com isto: «Por outro lado, as regras de um debate, para além serem de âmbito mais restrito (ou seja, não necessariamente público), são implicitamente aceites por quem neles aceita participar». "Implicitamente" é muito duvidoso e um debate não é um monólogo, um panegírico, um toma lá dá cá de perguntas e respostas previsíveis. Às vezes, a má educação é só o que se chama à inconveniência. E a inconveniência, nos tempos que correm, parece-me sempre muito pertinente. Posturas...

 
At 5:51 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Não existem mundo perfeitos, e os EUA são um bom exemplo disso. Mas não podemos negar que, a existir um ideal de perfeição, inatingível (pelo menos numa posição não-utópica), as democracias ocidentais estão mais perto desse ideal (reforço: mais perto", apenas isso). O Watergate e o Maccartismo fazem parte da história do EUA, sim, como muitos outros períodos negros. Mas foram resolvidos internamente, foram combatidos pelas instituições americanas. Vamos ver, só para dar um exemplo, como vão os venezuelanos resolver o problema do chavismo.
Mas a verdade é mesmo essa: não existem sistemas/democracias perfeitas, nem nunca irão existir. É por isso necessário encontrar mecanismos de controlo. E o mundo anglo-saxónico encontrou aqueles que são, até agora, os melhores: pesos e contra-pesos. Falham? Claro. Mas falham menos.

Quanto a Mandela e Ghandi é interessante constatar que são referências a ndívíduos com ideias e objectivos muito diferentes. Enquanto Mandela pacificou, ceitando as diferenças e a multiplicidade étnica da África do Sul, Ghandi procurou esmagar as diferenças (imensas!) existentes na Índia. Ghandi foi um nacionalista, um imitação oriental do pior nacionalismo europeu do século XX. A esse não lhe tiro eu o chapéu. Torço o nariz a qualquer nacionalismo, e não o desculpabilizo só por ser exótico.

Quanto à incoveniência, ela será fundamental num regime totalitário. Num sistema livre, onde existem inúmeros meios de expressar uma opinião, perverter as regras de um debate, levantar a voz, desrespeitar as regras, são técnicas às quais só recorre quem não tem argumentos. Num sistema livre, só grita quem não confia na força das suas palavras. É a minha opinião...

 

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