31.10.07

Como um rei deste mundo perdido nas lendas,
sozinho, com calculado silêncio, senhor do nada
a quem desperta um alcatraz
ao romper da manhã
- entre o sal dormindo uma asa ardente, uma mensagem
deixa cair uma pluma da cauda
e faz-se a luz do Outono.
Mas em tempos antigos, palavra, todo o mar sabe disso.
Estava escrito sobre as ondas tempestuosas,
sobre os dias de coragem
está já escrito,
com madeiros e sombras verdes
- em hexâmetros o ímpeto e a perfídia –
com despojos de grandes navios.
A história não se ocupa e, porém, falta
ainda juntar a arrogante, mortífera obediência
da frota, a coorte de aves, em bando
ou o espírito sombrio e de tão alta condição
bramando entre os escolhos
entre indícios de peste e maus augúrios.

Despedem-se mil vezes e mil vezes cingem o vento,
metem a estibordo.
Advertências, conselhos, notícias que na memória
pousam com indiferença, desmedidos sonhos
que já são nada.
Que tempo de exactidão as idades trouxeram,
que nocturno, insolente ar de Inverno.


Tradução de Fernando Assis Pacheco.

Blanca Andréu

Blanca Andréu nasceu na Corunha em 1959. Estudou Filologia, mudando-se para Madrid com a intenção de terminar os estudos. Começa a escrever poesia e, em 1980, publica De una niña de provincias que se vino a vivir en un Chagall, livro galardoado com o Prémio Adonais. Em 1985 casou com o escritor Juan Benet, o qual faleceu em 1993. Blanca regressa à Corunha, vivendo afastada de toda a actividade pública. Mais informações sobre a autora, aqui. Esta tradução foi publicada no n.º 9 da revista Hífen.