ACIDENTES
Às vezes ando pelas ruas ansiando que me caia um vaso em cima da cabeça. Meto esperança nas pernas, não para que caminhem ordenadamente mas para que tropecem em qualquer coisa, que me levem ao chão. Fico a aguardar algo extraordinário, como pisar caca de cão ou esbarrar na casca de uma banana. Não provoco os acidentes porque isso retiraria ao acidente a sua especificidade, mas espero pelos acidentes como quem espera por um amor que nunca regressa. Só queria que acontecesse alguma coisa, já nem digo que me acontecesse alguma coisa. Só queria mesmo que acontece alguma coisa. Alguma coisa que me surpreendesse, que me fizesse passar por aquela vergonha que disfarçamos com o riso quando nos levamos a sério ou que nos leva de todo ao riso quando nos temos em pouca conta. Nada de tragédias, para tal basta a vida. Um pouco de tragicomédia, uma sobremesa agridoce.
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