A MINHA PALAVRA FAVORITA
A Minha Palavra Favorita, CentroAtlântico.pt, 2007
(ver mais aqui)
A minha palavra favorita é “mão”. Escrevi cinco textos, um para cada dedo de uma mão: 1) de amigo; 2) de brincar; 3) de desmistificar; 4) de manifesto; 5) de amor.
O quarto texto é o seguinte:
MANIFESTO
Eu gosto muito dos senhores que moram no meu prédio.
O prédio é alto e tem elevadores. Assim é melhor porque ninguém
tem que carregar ninguém às costas. Quer dizer, as pessoas
também podiam ir pelo seu próprio pé mas isso era se não houvesse
pessoas no meu prédio que precisam de favores. Precisam,
e depois pagam com as costas na subida - Ouvi dizer que há
pessoas no meu prédio que têm em casa florestas normandas (eu
cá só ervas daninhas!) É que o elevador do meu prédio avaria
muitas vezes. Avaria, e depois os senhores dos andares de cima
precisam de carregadores. As pessoas dos andares de baixo
começaram a nascer todos os dias com as costas mais
largas para poderem carregar melhor, e agora o elevador
avaria quase sempre. A minha sorte é eles saberem que
eu só tenho em casa ervas daninhas. Nunca me pedem para
os carregar nem sequer estacionam as suas árvores novas
a barrar-me a entrada de casa: têm medo de ser contaminados.
Agora são os senhores dos andares de cima que me pedem
favores: se posso mudar de casa, de prédio, que até me
oferecem uma casa com florestas normandas lá dentro.
Mas eu não quero. Estou bem aqui. As minhas ervas
chegam já ao primeiro andar. Às vezes subo por elas
e convidam-me para jantar. Falamos e rimos e quando
nos calamos o silêncio à volta é maior.
Até agora cresceram sempre frescas pelo seu pé acima.
Rui Costa
O quarto texto é o seguinte:
MANIFESTO
Eu gosto muito dos senhores que moram no meu prédio.
O prédio é alto e tem elevadores. Assim é melhor porque ninguém
tem que carregar ninguém às costas. Quer dizer, as pessoas
também podiam ir pelo seu próprio pé mas isso era se não houvesse
pessoas no meu prédio que precisam de favores. Precisam,
e depois pagam com as costas na subida - Ouvi dizer que há
pessoas no meu prédio que têm em casa florestas normandas (eu
cá só ervas daninhas!) É que o elevador do meu prédio avaria
muitas vezes. Avaria, e depois os senhores dos andares de cima
precisam de carregadores. As pessoas dos andares de baixo
começaram a nascer todos os dias com as costas mais
largas para poderem carregar melhor, e agora o elevador
avaria quase sempre. A minha sorte é eles saberem que
eu só tenho em casa ervas daninhas. Nunca me pedem para
os carregar nem sequer estacionam as suas árvores novas
a barrar-me a entrada de casa: têm medo de ser contaminados.
Agora são os senhores dos andares de cima que me pedem
favores: se posso mudar de casa, de prédio, que até me
oferecem uma casa com florestas normandas lá dentro.
Mas eu não quero. Estou bem aqui. As minhas ervas
chegam já ao primeiro andar. Às vezes subo por elas
e convidam-me para jantar. Falamos e rimos e quando
nos calamos o silêncio à volta é maior.
Até agora cresceram sempre frescas pelo seu pé acima.
Rui Costa
24 Comments:
EXcelente.
Falta muita gente,não acha?
deuses! que poema, que poema!
Os ausentes... Os ausentes...
deuses! que atrasado mental, que atrasado mental!
Manuel A.Domingos, acredito que tenha gostado do texto mas transformá-lo num poema é como tentar convencer uma velhinha do bairro do aleixo, das torres onde os elevadores só funcionam do 7º para cima, (onde os míudos deixam de conseguir partir os botões), que o que se vê em serralves do passatempo de Robert Rauschenberg é da mais brilhante arte contemporânea que se conhece. Tenho apreço por parte do trabalho do Rui Costa que conheço, mas parece-me que desde Duchamp que se anda a brincar aos cowboys. tudo depende de quem vem não do que realmente é.
claro que aqui a velhinha sou eu.
Jorge Garcia Pereira
www.loucomotiva.com
de uma forma menos confusa direi que se o texto que leu não fosse do Rui Costa penso que jamais o consideraria um poema, pois trata-se de facto de um texto.
como que se o que vemos em serralves não fosse do Robert Rauschenberg jamais o veríamos em serralves.
Jorge Garcia Pereira
www.loucomotiva.com
caro Jorge Garcia Pereira:
não sei o que lhe devo dizer... deve ser pelo facto de só ter ouvido falar Rauschenberg nos últimos tempos.
e essa história que «desde Duchamp que se anda a brincar aos cowboys» anda a ficar gasta. mas afinal, não foi o que ele fez: brincar aos cowboys?
mas não me vou alongar.
prazer em discordar consigo,
abraço
Manuel, permita-me dizer-lhe que o prazer de discordar consigo é meu. acredite que é das poucas reacções educadas a que tenho assistido últimamente na internet a alguém que é de alguma forma discordado. infelizmente o que assistimos por aqui é a uma facilidade de libertar o ódio que há em cada um, um pouco como se faz ao volante do automóvel.
em relação a Duchamp acho que ele levou as coisas muito a sério, talvez por isso tenha levado tanto tempo a ser compreendido. ele foi simplesmente directamente ao assunto, sem rodeos, sem se armar ao 'cagalhão' (desculpe-me a palavra mas é a melhor que encontro para caracterizar os artistas de hoje, da escrita à pintura).
Henrique desculpa estarmos a usar a tua casa para discutir (que é o mesmo que sacudir as ideias), mas sentimo-me bem por aqui.
um abraço a si Manuel e espero que não tenha que subir escadas com o Costa às costas! :)
e já agora Rui, quando precisar de uma salsa, ou de coentros vou a tua casa, é que as ervas daninhas são melhores do que o que queres fazer passar. ;)
Jorge (Loucomotiva), por mim podem e devem continuar a discutir. As caixas de comentários estão abertas para isso mesmo. Saúde,
P.S.: Já agora, sobre o poema do Rui, tenho apenas a dizer que acho muito interessante que apareça na publicação em causa. Trata-se, sem dúvida, de uma edição com costas muito largas.
Depois de ler, fiquei com vontade de dedicar-me à Botânica ou à Geriatria:)
PB
Porreiro o vosso feedback.
Só não concordo com não ser um poema, mas se não for é bom na mesma.
Quanto ao Duchamp, apercebeu-se que a legenda da obra a altera, tal como a autoridade do autor constrói significado (?). Mais do que as sandes de courato, as obras, temos a linguagem com que as comemos, falamos delas. Mas sim, todas as palavras que eu usei já estavam prontas a usar.
Quanto à edição do livro ter ou não costas largas, não percebo se isso é uma alusão à qualidade dos autores representados. Só posso dizer que aceitaria de bom grado participar numa antologia de autores com síndrome de Down.
Até já,
Rui Costa
Rui, explico-me, pois posso não me ter feito entender. É que a edição é do Jorge Reis- Sá, um indivíduo acerca de quem ouço dizer mal, mas que, quando toca a publicar, não há quem lhe resista. Quanto a Síndrome de Down estamos falados.
hmbf: os textos foram-me pedidos há bem mais de um ano, altura em que o editor em causa era meu editor.
Rui Costa
Rui, não precisas justificar nada. Ao teu lado, estão lá outros 89. E, já agora, destaco entre as "90 figuras de relevo da sociedade portuguesa", estas duas: Bruna Lombardi e Fabrício Carpinejar. Lindo!
Meus amigos tirem as ervas daninhas da cabeça e façam algo que acrescente mais valor a este nabal à beira mar plantado. Bem fazia Santo António que pregava aos peixes
como já sabemos que ignora comentários de anónimos, caro hmbf, resolveu-se dar-lhe a devida importância e pareceu-nos que não o íam certamente beliscar minimamente os seguintes enunciados:
1. Também participamos como autor nesta dita edição.
2. O texto foi pedido em 2005, e nunca mais foi revisto ou enviado aos autores.
3. gostamos muito da Bruna Lombardi e achamos fixe que lhe chame linda...
4. Não acha que quem anda a impingir constantemente as suas beatas azuis, cinzas e apresentações de livros "que nunca prepara" ao mundo virtual, tal é a preparação oratória que é seu apanágio, tem pouca espaço para se rir à custa da divulgação de outras edições que também têm eventual direito à vida?
5. Quanto ao editor, estamos a par de escritores que já não trabalham com ele e outros com quem ainda trabalha. And so what? Isto nem sequer é uma edição dele, olhe bem para lá...
Pense, meu caro dono do blogue:
há mais cinzas no mundo do que os seus mais ou menos coloridos cinzeiros podem imaginar, e já agora, sempre se pode pensar que você está porventura a incorrer nalgum pecado mortal.
Nem nos passa pela cabeça qual...
les uns et les autres, respondo-lhe porque sei quem você é (fica-lhe mal esconder-se no anonimato, até porque nada o justifica).
Ou você não sabe ler ou tem uma cabeça muito desorganizada (venha o diabo e escolha). Apenas referi nos meus comentários o evidente: B. Lombardi, apesar de ser, sem dúvida, muito bonita, não é uma figura de relevo da sociedade portuguesa (ou é?); quando me referi às costas largas da edição estava a brincar com a quantidade (e não qualidade, como entendeu o Rui) de autores participantes; o Rui despachou-me com uma boca e eu senti-me à vontade para lhe responder à letra, o que apenas me parece saudável (de facto sempre achei estranha a chamada "realpolitik", conceito agora muito em voga para explicar o que, de outra forma, poderia ser entendido como hipocrisia)... Não torne pessoal o que não o é. Brinque mais, ria, divirta-se.
Quanto ao resto, desejo o maior sucesso para o livro, mais que não seja por apreciar o que escrevem alguns dos presentes. Por isso aqui está ele, a ser divulgado, como diz bem, no meu weblog, pela mão de um colaborador que muito gosto de ter nos corredores do Insónia. E isso é algo que você nunca há-de entender, ou seja, que, independentemente dos lugares que ocupamos no mundo, o que importa é termos a ousadia de construir o nosso mundo resistindo ao apelo de mundos que não são os nossos. Só vejo nisto um pecado: liberdade, carácter, obstinação (afinal são três).
P.S.: impingir é uma palavra muito feia. Por acaso não foi essa que você escolheu?
P.S.: E, já agora, veja se cumpre com o que se comprometeu. Promessas não cumpridas e compromissos falhados são piores que pecados.
caro hmbf, ainda bem que nos conhece e que nos dá oportunidade de impingir mais este comentário no seu interessante blogue. Promessas só no final do jogo, mas pelo seu carácter já fala o facto de dar voz a ideias diferentes das suas. Muito sucesso para o seu cinzeiro e saudações especiais da bruna
Rui, o Duchamp foi (talvez) o autor do 'ready-made' não do 'post-it', parece-me portanto haver na tua abordagem pelo menos um erro :)
já agora, se a Bruna pudesse enviar-me também um beijinho agradecia.
Jorge Garcia Pereira
www.loucomotiva.com
Epa... um aparte.
JGP acho que devias assinar apenas Jorge Pereira. O Garcia descredibiliza-te completamente.
fica o conselho.
Parece-me que colocares mais que uma vez o link da tua página numa janela de comentários é desnecessária. uma americanice antiquada.
abraço
antonio
:))))))
Jorge ????? Pereira
www.???????????.com
Os ausentes!Ai, os ausentes.
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