SINCERAMENTE
Às vezes fazemos perguntas que, antes de serem respondidas, recebem do nosso interlocutor um pedido de confirmação quanto ao tipo de resposta que pretendemos, como se as perguntas que fazemos obrigassem, previamente, a um esclarecimento quanto à verdade da resposta que pretendemos. Assim, à simples pergunta «gostas de mim?», é frequente o nosso interlocutor começar por responder com uma outra pergunta, que pode ser do tipo «sinceramente?». Quando alguém pergunta se esperamos que responda sinceramente, então sobre tudo o que seja dito a seguir pesará o ónus da insinceridade. Quem responde, deve responder sempre sinceramente. Perguntar se queremos que responda sinceramente é reconhecer que, por vezes, não responde sinceramente. Pelo que, mesmo que seja sincera a resposta, a gente vai sempre ficar a pensar que pode não ter sido, pois essa pessoa, por vezes, não responde às perguntas que lhe fazem com sinceridade. Ela própria o admite ao perguntar se queremos que seja sincera. Por mim, sinceramente, prefiro sempre que não me perguntem se quero que me respondam com sinceridade. Ao fazerem-me tal questão, fico logo de pé atrás, ou seja, desconfiado que a resposta que me irão dar pode ser tudo menos sincera.
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