A GENIAL ESTUPIDEZ
De tempos a tempos, há uma figura pública que se destaca pelo uso de uma expressão orelhuda. Uma expressão orelhuda pode ser uma frase, um pensamento, um aforismo, uma mera interjeição que, aplicada em certo contexto, adquire um eco inusitado. Normalmente, esse eco reproduz-se em tom de gozo. Isto é, passamos a repetir a mesma expressão como que por graça. Ou então servimo-nos dela para depreciar quem primeiramente a utilizou. Sucedeu, por exemplo, com Lili Caneças, quando esta terá afirmado: Estar vivo é o contrário de estar morto. O que os espertos não sabiam é que, ao proferir tal afirmação, Lili estava apenas a dar prova da sua cultura clássica, pois o mesmo afirmou Platão no Fédon: o contrário de estar vivo é estar morto. Outro exemplo aconteceu com Maria José Nogueira Pinto, quando esta afirmou, durante um congresso do CDS-PP, qualquer coisa como: Tu sabes que eu sei que tu sabes que ele sabe. No fundo, Maria José Nogueira Pinto decalcava apenas um verso do poeta inglês Thom Gunn: Tu sabes que eu sei que tu sabes que eu sei que tu sabes. Vem no poema Conhecimento Carnal. Como podem constatar, por vezes, as frases que nos parecem mais estúpidas são, na sua origem, grandes pensamentos ou versos imortais.
4 Comments:
Mas a piada está em que quando essas estimáveis senhoras disseram as tais frases que as imortalizaram, não referiram os autores por detrás da cortina.
Malandrice inteligente, que revela a qualidade superior das ditas, as quais puseram os papagueadores mediáticos ou, alarvemente, a chamar parola à primeira ou, o que ainda é mais engraçado, genial à segunda.
O querido quotidiano nacional tem destas sublimidades!
Como diz o outro (não sei quem), o pobre copia, o génio rouba. Ou qualquer coisa do género.
Foi o Picasso, disse-o ao Prévert em frente do Brassai, que o conta no seu esplendoroso "Conversas com Picasso".
Então é isso.
Enviar um comentário
<< Home