O IMPÉRIO DO EU
1.Em 2004 morei em Leeds numa casa com três chinesas. Uma delas de vez em quando convidava uns amigos a casa, e ficavam no quarto dela a ouvir música ou a falar. Fui apresentado ao grupo e alguns dias depois, em conversa, vim a saber que acharam a minha presença demasiado forte. Isto era uma crítica e tinha a ver com o facto de eu procurar conhecer aquele grupo de pessoas, para o que provocava reacções sem no entanto fazer muitas perguntas.
2. Lembro-me deste episódio sempre que conheço pessoas e me canso de as ouvir contar episódios da vida delas, de quando eram adolescentes idiotas e singelas, e me apetece desactivá-las e só não o faço porque não partilho a condição dos anjos, para quem o mundo é a sublime desnecessidade de poiso para o corpo, as asitas motorizando-os entre céu e céu.
3. Também já reparei que quando me apaixono falo mais. O problema disto revela-se quando o primeiro silêncio surge, alguns dias mais tarde, impulsionando a inevitável pergunta: "O que foi?"
4. Não foi nada. Mas falar de filmes não, por favor, ainda que tenhas deus entre as pernas.
5. A verdade é que os gostos das pessoas não me interessam. Prefiro que inventem um jogo com as peças que lhes estão mais ao alcance das mãos.
6. No outro dia ia na rua a mãe a dizer à filha: olha que eu bato-te na cara, que é onde dói mais. Fiquei a pensar na inutilidade daquela informação. Porém agora começo a tentar apagar a imagem inicial com a ideia de que o amor da mãe da miúda está, precisamente, naquela redundância.
7. Tipo quando eu digo Gosto mesmo deste vinho isso não ser redundante por tu saberes que eu estou a referir-me à fímbria da tua saia, ó gaja de todas a mais boa.
8. Eu não conseguiria casar-me com uma mulher que me tivesse perguntado: Ei, em que é que estás a pensar?, nem que ela me jurasse que só tinha perguntado por perguntar.
9. É preciso ver tudo como um terramoto. Uma coisa ou está a acontecer ou não serve para nada.
10. Ama-me e odeia-te por isso, disse eu com cara de mau ao meu amor, que felizmente é surdo.
Rui Costa
10 Comments:
Ainda bem que é surdo porque isso é mesmo um império do eu (por outro lado, se não fosse surdo poderia gritar-lhe: "foge").
Essa do "o que eh que estás a pensar?" eh realmente fodida!
"(...) porque não partilho a condição dos anjos, para quem o mundo é a sublime desnecessidade de poiso para o corpo"
o corpo é a única coisa que nos ilude na nossa condição de anjos ;)
http://portais.blogs.sapo.pt/
Quando uma mulher pergunta a um homem em que é que ele está a pensar, esse homem, pelo menos nesse momento, não lhe interessa.
R.
CadaCultura
ÉumaCultura
CadaPovo
ÉumPovo
ComSeusHábitos
SeusOlhos
MuitoPróprios
DeViver O Mundo.
NãoFazDeUma
MaisCerta
EdeOutra
MaisErrada.
OuvirOoutro
Conhecer
SuasHistórias
Fúteis
NãoDeviaSerIdiota
Nem"aCondiçãoDosAnjos"
MasSim"aCondiçãoTerrena"
UmaAprendizagem
Própria.
PrópriaDeUmaOutraCultura
PrópriaDeUmOutroPovo-
oLatinoTalvez?!
Afractura
NoSilêncioDaBoca,
AsúbitaDesconcertante
Mudança,
Obriga.
UmaForma
DoTal"Gostar"...
Aseguir
AoTerramotoDaPaixão
PorqueNão
Nus
NaAcalmia
PeranteOoutroEstar?
Apreender
AsImperfeiçõesTãoPerfeitas
AprenderOsimplesAmar.
Cinco estrelas, Rui.
Graças a Deus que nem a todos lhes e premitido amar... Porque isso seria como dar perolas a porcos, amar, e um sentimento so atingido quando se chega um Nirvana relacional...
Amar, palavra pequena, mas de enorme abrangencia e de facil acessibilidade
redonda: senhora condessa, não fuja. daqui a pouco vou fazer exercícios de estilo com os seus.
karvoeiro: fodido fodido é não foder.
anaeugenio: ;)
R.: pois é.
Aroma: histórias, ouça-as quem quer.
rui lage: boa tarde!
ibarretxa: sabes o que é ficção?
Rui Costa
semDúvidaRui
TodosNós
GostamosDeOuvir
UmaBelaHistória
UmaHistóriaBemContada
AtéAsCrianças...
NãoSóAsMulheres.
TambémNãoAsEsceve?
DeveContarTantas
DaquelasBanais
QueNemSeDáConta.
ParadoxosExistênciais.
ContinueAescrevê-las
Acontá-lasApartilhá-las
NãoSeEsqueça
ÉdeAprenderAouvir
PoisParaTal
TambémÉpreciso
SapiênciaDaPaciência.
TenhaUmBomDia
DeHistórias...
"Uma pancada nos olhos faz ver".Chegará/chegou o dia em que talvez não faças a pergunta, mas penses ao olhar para ela "O que foi?" e pela primeira vez não obtenhas uma resposta, porque alguém pensa como tu e não espera que entres no seu silêncio
PB
Enviar um comentário
<< Home