TEORIA LÍRICA (3. policial)
1. A idade certa para casar é ele com 34 anos e ela com 27. Sobretudo num comboio como este, que não pára em nenhum estação ou apeadeiro.
2. De repente um enorme campo de arroz, um homem e uma mulher. O homem segura a mulher como um utensílio agrícola. Uma pequena pá talvez, ou um objecto mais suave que não sofre com a força da mão.
3. Admitindo que o comboio não avança em piloto automático, um terceiro elemento existe: o condutor. É ele quem sai agora da sua cabine com uma caneta na mão. ´
4. No campo de arroz, a mulher encomenda uma estação favorável abrindo muito as pernas. Desta vez não sente prazer, não quer, acontece-lhe apenas uma vez por ano. É uma mulher feliz.
5. O comboio prossegue, sozinho, sobre a imensa recta do país plano.
O condutor do comboio vê a mulher ao fundo do corredor e escreve: vejo a mulher ao fundo do corredor e escrevo; não sei se a amo, é a primeira mulher que vejo em toda a vida.
6. A imagem seguinte é a de uma cabeça deitada na mesa, sobre os braços, o cabelo castanho tapando-lhe os olhos.
7. Nessa noite o condutor do comboio vê: o campo alagado, visões brancas e algo baças como figuras projectadas através de uma folha transparente.
8. Nenhum alerta veio ou sinal de inquérito. O comboio pára ali; as quatro mãos morenas interrompem o trabalho e olham.
9. Na janela do comboio os dois, apenas os dois.
10. Nenhum crime, nenhuma dor, nenhuma lembrança. Que melhor podes ter para começar.
Rui Costa
2. De repente um enorme campo de arroz, um homem e uma mulher. O homem segura a mulher como um utensílio agrícola. Uma pequena pá talvez, ou um objecto mais suave que não sofre com a força da mão.
3. Admitindo que o comboio não avança em piloto automático, um terceiro elemento existe: o condutor. É ele quem sai agora da sua cabine com uma caneta na mão. ´
4. No campo de arroz, a mulher encomenda uma estação favorável abrindo muito as pernas. Desta vez não sente prazer, não quer, acontece-lhe apenas uma vez por ano. É uma mulher feliz.
5. O comboio prossegue, sozinho, sobre a imensa recta do país plano.
O condutor do comboio vê a mulher ao fundo do corredor e escreve: vejo a mulher ao fundo do corredor e escrevo; não sei se a amo, é a primeira mulher que vejo em toda a vida.
6. A imagem seguinte é a de uma cabeça deitada na mesa, sobre os braços, o cabelo castanho tapando-lhe os olhos.
7. Nessa noite o condutor do comboio vê: o campo alagado, visões brancas e algo baças como figuras projectadas através de uma folha transparente.
8. Nenhum alerta veio ou sinal de inquérito. O comboio pára ali; as quatro mãos morenas interrompem o trabalho e olham.
9. Na janela do comboio os dois, apenas os dois.
10. Nenhum crime, nenhuma dor, nenhuma lembrança. Que melhor podes ter para começar.
Rui Costa
6 Comments:
sim, nada melhor para começar, aliás, qualquer outra forma seria um "recomeçar".
Muito bom, Rui, assim como toda a série "teórica" que tens vindo a publicar aqui.
Abraço
Pedro Afonso
O romantismo é um comboio, UuuuU UuuuU UuuuU!
Maria João
-ou um objecto mais suave que não sofre com a força da mão- forte,muito forte este poemaprosasonho.
bolas... impossível não dizer que não se pode ficar indiferente...
ana
obrigados, até já
Rui Costa
muito bom.
Rui aproveito para te desejar uma óptima viagem para 2008.
Jorge Garcia Pereira
www.loucomotiva.com
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