INÉDITOS DE JORGE AGUIAR OLIVEIRA #10
ESFÉRICO ARMILAR
De peles em lixívia e olhos em bico
veio a praga do arroz chau-chau,
o molho de soja, plásticos, corta-unhas
e tudo mais a trezentos. E de arrasto
os dos jogos de sofás em pele de vaca
sagrada, gengibre e canela erguendo-se
impérios em camadas de babinca
um pouco por todo o lado. Telemóveis,
peixe seco, relógios, lichias e luvas
passando por alfândegas falsificadas.
Por esses tempos de desnorte
chegavam banqueiros de castanholas
e saleros, tomando as zonas, as zaras
e os caminhos foram dando a Santiago
de Compostela, passando pelo Corte
Inglês, a uma sauna de engate e
um quarto escuro em Madrid.
Os dentistas, as putas caipirinha e
os gigôlos desenrasca tá vendo? vieram
em massa sambando dos ares do Rio
e de São Paulo, até ao comércio
um pouco por todo lado.
Da Moldávia chegou um talento
de amante certificado na pensão
das quatro noites quase brancas,
para servir à mesa dum restaurante
da Ribeira no Porto. O engenheiro
romeno pintou a matrícula falsificada
do ucraniano que varre as ruas
da cidade e etc vodka remexe
por baixo no elefante branco.
Não atingiste? Ustedes, 1580 e...
sex-appeal e bué de videoclips meu.
Trinco novo gomo anão da laranja
e derrotado, digo de novo: Filipinos.
Se calhar é melhor assim
que ficarmos estúpidos rústicos
com o sangue a apodrecer
num cérebro de tão igual com fato
cinzento, gravata às riscas e colarinhos
brancos, procriando (fingindo o desejo)
como ratos de partidos do poder
– levando sacos azuis às costas
que se transformam em rosas
nos tribunais – com ordenados e
reformas tipo xá dos petróleos.
Tristemente ficámos
uma província europeia de karaokes,
onde a ponta mais ocidental
do microfone
é uma bola de futebol furada.
Jorge Aguiar Oliveira
1 Comments:
hino ácido ao portugal multicultural!
:)
Maria João
Enviar um comentário
<< Home