UM PAÍS DE ANALFABETOS
in Da Literatura: Ontem, a SIC transmitiu um programa-choque sobre o analfabetismo em Portugal. Os 9% da média nacional actual são ultrapassados no Alentejo, com 16%, e no concelho de Idanha-a-Nova, no distrito de Castelo Branco, com 32%. No último quartel do século XIX eram 85% em todo o país (contra 3% nos países nórdicos), mas que continuem a ser 9% no século XXI é de deixar os cabelos em pé, sobretudo se pensarmos — o grande mérito da reportagem foi ter revelado essa evidência — que não se trata apenas de analfabetismo da terceira idade rural, como por comodidade tendemos a supor, mas de mulheres e homens nascidos depois do 25 de Abril, e até de adolescentes urbanos. (...) Este tipo de situações, em pessoas de 80 anos, são tristes. Em gente de 30 são simplesmente demolidoras. Ouvido no decurso da reportagem, António Barreto lembrou duas coisas: nos anos 1940-50, na Assembleia Nacional, ainda vingava a tese da «sabedoria do povo», forma de contrariar as tímidas tentativas reformistas de quem pretendia apostar na educação; em democracia, sucederam-se 27 ministros da Educação, facto que impede um continuum. É este o país que (ainda) temos.
5 Comments:
E o panorama torna-se mais sinistro e real se lhe acrescentarmos sensatamente os analfabetos funcionais.
Na minha região Peso da Régua ainda se costuma dizer que o melhor é o saber de experiencia feito. Não acho que seja só nesta região.
E um dos maiores insultos na minha vida militar, vai para 15 anos, era o que muitos oficiais faziam a quem se desenfiava: estás-te a armar em intelectual?
Haja deus.
Sou professor e este ano deparei-me com uma situação que julgava impossível. Tenho um aluno inscrito numa turma de oitavo ano que não sabe ler, nem escrever.
Ainda assim, quando protestei, disseram-me que fizesse o que pudesse, que o que importava era ele não abandonar a escola.
Aí estou de acordo, mas será aquela a escola que ele não deve abandonar?
A propósito da "sabedoria" do "bom povo", leia-se a Crónica" de hoje, de Manuel António Pina, na última página do JN. Eu também não tenho "!meios", mas usei o meu parco bloguezinho para me indignar e transcrever o texto.
I. L.
O que a vida involuntária reproduz, que Pina conta, é uma vergonha. Esses tipos não passam de canalhas.
Mereciam que lhes fizessem o mesmo que eles fazem ao gato.
Assim viam o gosto da "tradição".
Esse aluno analfabeto, inscrito no oitavo ano, se não tem atraso cognitivo, é mais uma hipocrisia para as estatísticas."Escândalos" que os "Públicos" deste país deviam chamar à 1.ª página.
Ainda recentemente soube de uma professora de Filosofia que tinha vários alunos, menores, com pulseira electrónica. Estavam com residência fixa, mas autorizados a ir às aulas.
Boa terça-feira GORDA!
I.
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