1.2.08

ASSIM VAMOS LÁ

Três posts interessantes sobre o Portugal contemporâneo. No Regabofe e no Daedalus as bastonadas no regime pela boca de Marinho Pinto. No Cinco Dias, Paulo Pinto antecipa os próximos episódios da perseguição que o jornal Público vem fazendo ao primeiro-ministro. É verdade que a perseguição já raia o caricato, patente no parágrafo que abre um texto hoje publicado sobre as obras assinadas por Sócrates: «A obra do engenheiro técnico José Sócrates, embora anónima, está presente em muitas aldeias da serra da Estrela e na cidade da Guarda. Velhíssimas aldeias como Vila Soeiro, Faia, Cavadoude, Porto da Carne, Rapoula, Amoreiras do Mondego, Valhelhas ou Aldeia de Santa Madalena, todas no concelho da Guarda, ganharam a marca do então jovem projectista, entre 1981 e, pelo menos, 1990». Estes podres, alguns com mais de 25 anos, vêm agora a Público com as devidas ilustrações. As casas são feias, mas os nomes das aldeias também. O que importa salientar é o facto de virem agora a Público, talvez por só agora Sócrates ser primeiro-ministro. É que neste país, para certos jornais, os podres só são podres em circunstâncias muito específicas. O jornal Público tem muito por onde pegar, já anunciou que amanhã ostentará na capa mais podres do engenheiro Sócrates. De certa forma, isto tem o seu quê de positivo: o podre ao seu lugar. Necessitamos de saber os podres do primeiro-ministro, tenham eles 20 ou 10 anos, como de bons hospitais e escolas de excelência. A nosa vida depende da denúncia destes casos vergonhosos. O país irá mudar e ficaremos a dever isso, para sempre, aos jornalistas do Público e a quem lhes paga. Não podemos criticar o jornal por estar a cumprir o seu papel. E o seu papel é sempre, como sabeis, servir interesses particulares, sobretudo os interesses particulares de quem, em particular, se dá muito mal com um poder político cuidadoso no modo como faz a cama ao poder económico instalado. O mal disto tudo é que enquanto o pau vai e vem as costas não folgarão. O jornal Público continuará a vomitar podres, específica e meticulosamente seleccionados num país onde nunca faltaram podres para vomitar, dando largas à nossa imaginação, à intriga e ao murmúrio, dando largas, enfim, ao anedotário nacional. Depois será amachucar, apanhar o cocó do cão e lixo com ele. Que o Público possa tornar-se a cicuta de Sócrates terá o mesmo significado que o Independente ter sido a fogueira de Cavaco. O pouco que vier a mudar, será apenas para que tudo fique na mesma. Porque a verdade é esta: quando o bastonário dos advogados vem varar o sistema, chamando a atenção para podres que o Público nunca quis vomitar, o Público acha mais interessante, premente e fundamental a assinatura do engenheiro Sócrates em projectos com 20 e tal anos de casas erguidas em lugares remotos. Assim vamos lá.

4 Comments:

At 7:05 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Caro hmbf, tem toda a razão. É perfeitamente irrelevante saber se o PM mente ao povo que o elegeu. Devia ser proibido publicar notícias desfavoráveis ao nosso muito amado PM.

 
At 6:27 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Percebo o hmbf. Ele quer significar que os his master voices do Público movem-se é pelo interesse de atirarem de cangalhas o patarata Sócrates, que é apenas um criado, para melhor deixarem no alto e sem o povinho se dar conta as esguelhas dos diversos patrões, que por acaso não são apanhadores de cogumelos mas quem cá manda de facto.
É o chamado tiro ao lado. Isso é bem conhecido em contra-informação.
Foi o que fizeram tempinho atrás, fartaram-se de falar em escutas, mas nem piaram mais sobre o que de facto era grave nos alertas do Pinto Monteiro, que disse com todas as letras que no MP havia condes e duques e marqueses.
Silenciaram!
Deita-se um engenheiro amante da corrida pedestre a terra, aparecem logo quatro ainda mais capitosos. Poder ser interessante e uma justiça poética ver-se um arrogante como este José vir carpir na TV suas mágoas, mas melhor seria varrerem-se os que fazem negociatas de milhões, aí é que está o cerne da questão.

 
At 6:52 da tarde, Blogger hmbf said...

Caro anónimo, o seu comentário obriga-me a um comentário. Não é irrelevante saber se o primeiro-ministro mente ao povo que o elegeu e ao povo que não o elegeu. Fazendo eu parte dos últimos, sinto-me ainda mais à vontade para denunciar o seleccionismo nada ingénuo e tipicamente servil do Público. Todas as questões que têm sido levantadas, da licenciatura às assinaturas, passando agora pelo subsídio, é que são irrelevantes quando comparadas com um vasto conjunto de questões que parecem passar ao lado do mesmo jornal. São podres menores ao pé de grandes podres que o jornalismo político, demasiadamente concentrado em tricas e mesquinhices, não ousa afrontar. Que o actual primeiro-ministro é mentiroso já eu sei há muito, por isso não votei nele (ainda não esqueci o aumento do IVA). Talvez não fosse má ideia, por exemplo, o Público abalançar-se num trabalho arqueológico semelhante tendo por mote as declarações do bastonário. Isto para não pedir muito, num país onde até para se comentar um textozito num blog se esconde a verdadeira identidade.

 
At 8:56 da manhã, Anonymous Anónimo said...

O hmbf tem razão a meu ver e concordo também quando se refere ao anonimato. Neste país existe medo e não é medo dos tribunais mas de outras tascas. Um caso conheço eu em que uns tipões conjecturaram processar um blogador. Mas um deles disse, não é necessário lixamos o tipo doutra maneira.
Porque se pode fazer isso e faz-se. À portuguesa.
Poderes públicos!
Ouviram o que afinal disse o alípio da judite sobre os arguidos macCann?
Como é que tal precipitação é possível? Permitida parece que sim.

 

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