AS NOSSAS ESCOLAS
A violência que prolifera pelas nossas escolas, tornando-as autênticos ringues onde professores medem força com perigosos adolescentes, tem feito as delícias de alguma imprensa, nomeadamente aquela mais sequiosa de casos, polémicas, sensacionalismos. Lembram-se de Bowling for Columbine? De um certo modo cínico, está lá tudo com alguns anos de antecipação. Já sei: o realizador não é de fiar. Não lhe demos ouvidos, nem olhos, nem atenção. Pura e simplesmente não é de fiar. Mas há algumas questões levantadas por Michael Moore que nós também devemos colocar. Por exemplo: de onde vem tanto medo repentino? Subitamente, acordámos para este problema. Será este problema hoje mais grave do que era há 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10 anos? Duvido. A questão que se coloca hoje é a mesma de sempre: a tremenda hipocrisia do "sistema" ao lidar com os problemas da educação. Vejam bem o ridículo: não tivesse um grupo de adolescentes burgessos filmado uma aluna histérica aos encontrões com uma professora out of control, e nada teria acontecido. A professora não teria apresentado queixa, aquilo ficava por ali, siga para bingo, amanhã é outro dia. Tendo a peleja sido gravada, tudo muda de figura. Temos caso. Perante o filme, os nossos olhos configuram a realidade de um modo radicalmente diverso. Assistir àquele filme é um horror, assistir àquele filme repetidamente é uma tortura. Quem gosta de ser torturado? Ninguém. Avancemos então contra os protagonistas. Façam-se mais leis, estenda-se o leque de proibições tão em voga ultimamente, instaurem-se uniformes obrigatórios nas escolas, se preciso for fechem as portas das escolas, esses antros de vício e de maldade, regressemos à época da reguada, das orelhas de burro e dos castigos máximos, exemplares, militares. E já agora, enquanto adultos normais, saudáveis, controlados, devidamente integrados, socialmente aceitáveis, comecemos por dar o exemplo:
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