DUAS HISTÓRIAS VERÍDICAS
Rescue Dawn (2006), do alemão Werner Herzog, levou em português de Portugal o título Espírito Indomável. Conta a história de Dieter Dengler (Christina Bale), um piloto norte-americano capturado no Laos durante a guerra do Vietname. Consegue escapar ao cativeiro após inúmeras privações. É basicamente uma história de resistência. Outras há, como Papillon (1973), The Shawshank Redemption ou Cast Away (2000), diferentes e porventura melhores. Rescue Dawn não acrescenta grande coisa, mas tem um lado realista, até algo rudimentar, que torna o filme apelativo. Há um pormenor interessante: Dieter Dengler nunca deixa de sorrir. Ficamos com a sensação que é isso que o mantém vivo. A deixa final pode ser uma lição para a vida, assim ao jeito de um enigma oriental adulterado pelo cinismo do ocidente: esvazia o que está cheio, enche o que está vazio e coça onde tiveres comichão.
Já The Road to Guantanamo (2006), de Mat Whitecross e Michael Winterbottom, reconstrói, na primeira pessoa, a desventura de um grupo de muçulmanos ingleses. Ruhal Ahmed, Asif Iqbal, Shafiq Rasul e Monir partem de viagem para o Paquistão pouco depois de ter começado a retaliação norte-americana no Afeganistão. A guerra contra o terrorismo está em marcha. A curiosidade destes jovens muçulmanos também. Resolvem dar um salto até ao Afeganistão. Perdem-se, no meio do caos e dos equívocos da guerra, do amigo Monir. Mas encontram os rebeldes da Aliança do Norte e o exército norte-americano. Assim começa a saga destes três a caminho da prisão de Guantanamo, sempre em condições sub-humanas, sujeitos a várias formas de tortura, forçados a falsas confissões. É esta a verdade de Guantanamo: centenas de prisioneiros sem acusação formada, sem processo constituído, sem direito a julgamento. No justíssimo, livre e democrático mundo civilizado.
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