INÉDITOS DE JORGE AGUIAR OLIVEIRA #51
UM GOLPE NA RACHADA
Desconsolada friccionava o clitóris, sonhando
com uma palhinha no refresco, em Salvador
aconchegada nos braços dum garanhão
do nordeste, figurante duma telebrazuca.
Encontrou um vigarão de lábia molhada,
falsificador e vendedor de sobreiros
com casca de ovelha e ovelhas com camisolas
de lã em ponto grosso. Em poucos meses
o pão a ficar com bolor e o leite a azedar.
Ao abandonar o croqui dos seus olhos melados
nas asas duma vareja pousada na sombra
do candeeiro sobre a mesa de cabeceira,
ofereceu-lhe ao ouvido, o desejo envenenado
de muita sorte, raspando-se dali em seguida
para parte incerta. Deixou-lhe para
os restos dos seus dias, um cacife repleto
de garrafas de whisky vazias, e um mar
de infindáveis perguntas ao espelho,
amparado nos braços as tripas da impostura.
Dívidas e assinaturas falsas de norte
a sul que para azar, os tribunais
continuam lentos como as lesmas.
Tropeços em degraus dentro duma vida
é coisa de aprendizagem. Não te acudi
porque não quis. Andava fraco, fraco
e moribundo. Quando escarraste na caixa
de mensagens do telemóvel e na cara
estar a ser egoísta por não ir em teu
auxilio, eu não me movi. Lembras-te?
Pouco me importou pensares ter sido
por vingança. E se foi, para mim foi justo.
A única vez na vida em que gritei
socorro
a tua ausência esteve presente, cabra.
Salva-te se puderes. Ainda és nova
e só estás danada por não seres comida
e ficado de prato rapado. Eu cansado vou
morrendo no leito da ausência do meu amor.
Recordarei sempre como linda era a lua
quando me falavas dela. Ao olhar lá
para cima, só a encontro se me lembro
de ti. Como vez, nem tudo ficou perdido.
Antes souberas dele abaixo do equador
sob palmeiras, com a palhinha num refresco
banhando-se numa praia de cabritinhas
ao som da música de Bonga.
Jorge Aguiar Oliveira
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