26.5.08

VER CHOVER

No próximo dia 30 será lançado o número 4 da revista Callema. Tenho por lá um texto, intitulado Recuperar Ema, onde falo do jovem Manoel de Oliveira, de Madame Bovary, do Maio de 68, de Tiananmen e da Birmânia, de "mulheres-bibelot" e de "jotinhas". Mas o que eu queria mesmo ter dito, e esqueci-me, é que há pessoas que não merecem ter sido jovens. Falam da juventude com um desprezo, referem-se aos seus tempos de juventude com uma tal displicência que, sem dúvida, o melhor era terem nascido adultas, velhas, caducas, a coxear numa insensível maturidade, insuportavelmente calculistas e pretensiosas. Lembro-me disto depois de ler o Rui Bebiano refrindo-se aos “nossos” «ex-maoístas, por exemplo, que insistem em falar do seu próprio passado como de uma velha medalha oxidada». E, já agora, aproveito para responder a esta questão:

É impressão minha ou os revoltosos só querem estar no lugar daqueles contra quem se revoltam?

Os revoltosos querem coisas diferentes conforme as revoltas. Uma coisa é certa: não se acomodam, não se conformam, exigem. Por isso revoltam-se. Basicamente, não se limitam a ver chover.

2 Comments:

At 8:25 da tarde, Blogger L. said...

quem fez o maio de 68 sao os mesmos que hoje pagam a recibos verdes 500 euritos

 
At 7:00 da tarde, Blogger hmbf said...

Uns sim, outros não. É engraçado: o Maio de 68, como todos os movimentos congéneres, foi um movimento, não foi uma acção individual. Porquê interpretá-los única e exclusivamente à luz do presente de alguns dos que participaram nesses movimentos? Muitos outros terão perpetuado aquele espírito. Não tenho dúvidas a esse respeito. O que existe é uma tendência (muito democrática!) para a redução da revolta à hipocrisia de alguns revoltados. É uma forma muito subtil de desacreditar as intenções das lutas.

 

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