100 MESES
“O riso foi sempre próprio dos deuses, porque se supõe que eles conhecem não só o nosso desamparo, como o desamparo que lhes é próprio” – escreve José Alberto Oliveira, na introdução a “O Túnel” (Russell Edson, Assírio & Alvim, Abril de 2002). Eu não acredito em deuses. Mas a acreditar, só poderiam ser deuses desamparados e sorridentes. Deuses com pequenos golpes, mas profundos, nos pulsos, de onde pingam, gota a gota, as sementes que fertilizam a terra dando-lhe cor e alma. Riem do desamparo por saberem qual a sua condição, a ela se resignam por há muito terem percebido que o destino foi traçado por forças superiores ao ânimo dos próprios deuses. Quando os aviões tremem, não tremem os deuses com os aviões. Sabem que ao cair um avião, tudo o que está dentro dele cairá com ele e nada haverá a fazer. Caídos na terra, os deuses desamparados e sorridentes limitam-se a olhar com nostalgia o firmamento entre as águas. Mas não é uma nostalgia absoluta, a que trazem no olhar. É a nostalgia das tardes de Verão chuvosas, das folhas caídas de Outono, das fogueiras no Inverno e dos rios que correm entre as árvores em flor da Primavera. É a nostalgia das sementes que arvoram o mundo, enquanto entre o desabrochar e o último dia o universo se move como uma coisa abençoada. Não é possível pensar senão deuses desamparados e sorridentes neste mundo, quando para o mundo já só podemos olhar com a saudade do tempo que nos resta:
Today is just another Friday in August. Drowsy and close. Office workers' minds are fixed on the weekend, clock-watching, waiting perhaps for a holiday if your finances have escaped the credit crunch and rising food and fuel prices. In the evening, trains will be littered with abandoned newspaper sports pages, all pretending interest in the football transfers. For once it seems justified to repeat TS Eliot's famous lines: "This is the way the world ends/Not with a bang but a whimper."
But does it have to be this way? Must we curdle in our complacency and allow our cynicism about politicians to give them an easy ride as they fail to act in our, the national and the planet's best interest? There is now a different clock to watch than the one on the office wall. Contrary to being a counsel of despair, it tells us that everything we do from now matters. And, possibly more so than at any other time in recent history.
Percebo agora por que não acabou o mundo no ano 2000: além de desamparados e sorridentes, os deuses são sádicos. Enfim, mostram apenas um pouco da sua ingenuidade congénita. O sadismo deles é o prolongamento do nosso masoquismo. Pobres deuses.
Today is just another Friday in August. Drowsy and close. Office workers' minds are fixed on the weekend, clock-watching, waiting perhaps for a holiday if your finances have escaped the credit crunch and rising food and fuel prices. In the evening, trains will be littered with abandoned newspaper sports pages, all pretending interest in the football transfers. For once it seems justified to repeat TS Eliot's famous lines: "This is the way the world ends/Not with a bang but a whimper."
But does it have to be this way? Must we curdle in our complacency and allow our cynicism about politicians to give them an easy ride as they fail to act in our, the national and the planet's best interest? There is now a different clock to watch than the one on the office wall. Contrary to being a counsel of despair, it tells us that everything we do from now matters. And, possibly more so than at any other time in recent history.
Percebo agora por que não acabou o mundo no ano 2000: além de desamparados e sorridentes, os deuses são sádicos. Enfim, mostram apenas um pouco da sua ingenuidade congénita. O sadismo deles é o prolongamento do nosso masoquismo. Pobres deuses.
1 Comments:
Pobres de nós...
Somos responsáveis pela nossa sorte, pelos nossos sucessos.. Somos responsáveis pelos nossos infortúnios e desgraças..
Até pelos deuses somos responsáveis..
Abraço.
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