ONDA DE CRIMES
A comunicação social insiste nas ondas por saber que o público gosta de ir na onda. Ora é a onda de incêndios, ora é a onda de crimes; ora vem a onda dos escândalos, ora vai a onda da crise. Esta inclinação marítima, com fundamentações geográficas facilmente compreensíveis, transforma o país num navio encalhado e os portugueses em dez milhões de náufragos agarrando-se com unhas e dentes aos destroços flutuantes do navio. Os destroços podem ser a bola, a tourada, as telenovelas, o euromilhões, tanto faz. O que importa é lembrar as sábias palavras de Raymond Hesse: sem criminosos o que seria feito dos jornalistas, dos tribunais, dos polícias e das guardas, dos políticos, de toda essa gente que vive à custa dos criminosos? É fácil concluir que sem criminosos, essas “pessoas honestas” ficariam no desemprego. É possível que se tornassem igualmente criminosos. Alguns já são vigaristas, é certo. Toda a gente sabe que estas ondas que, de quando em vez, rebentam sobre a costa portuguesa são óptimas para “desviar a atenção dos cidadãos relativamente aos seus falhanços, erros e falcatruas”. É isto que Raymond Hesse ensina: “O papel social dos criminosos é enorme: papel moral porque serve de padrão à virtude, papel económico porque sustenta e faz viver metade do mundo, papel pitoresco porque suscitou sempre um interesse apaixonado. Se o criminoso não existisse, era preciso inventá-lo, pois ele é um dos benfeitores da humanidade sofredora” (Cf. “Vigaristas, Ladrões e Assassinos”, &etc, Abril de 2007). Dito isto, vou de passeio cometer os meus crimes lá para os lados de Castelo Branco. Uma coisa vos garanto: se ouvirem falar de assaltos na zona, não fui eu. O criminoso nunca assume os seus crimes. Na verdade, esse é o maior crime cometido pelos criminosos. Inclusive os que passam por ser pessoas honestas.
6 Comments:
Também não vou em ondas, apesar de ainda ontem terem apontado uma arma na cabeça da minha namorada para lhe tirarem o carro. Tinha a porta fechada e disse 3 vezes que não abria. Na esquadra disseram-lhe que devia ter aberto e que tinha muita sorte em estar ali a falar com eles.
Mas não é por isto que mudo a minha opinião. O pseudo-jornalismo com as suas ondas é muita espuma e pouco mar.
Todos os dias hà assaltos,todos os dias morre gente,é mais uma moda da pseudo informação.
Como em tudo na vida é necessário separar o trigo (a realidade) do joio (a insanidade dos media).
Há sem duvida alguns tipos perigosos de criminalidade a florescer sendo que em outras áreas as mudanças e as evoluções também ocorrem.
É importante dar tempo também às forças da ordem e às próprias leis para se adaptarem a estas novas realidades. Concordo sem dificuldade que em algumas situações as leis têm que endurecer evitando mal maiores e actuando ao nível da prevenção dissuasora. Também é importante sabermos situarmo-nos no tempo. O país vive uma conjuntura económica difícil o que arrasta sempre consigo um crescimento dos índices de crimes, nomeadamente ao nível dos pequenos furtos, originados em muitos casos pelo desespero de quem precisa e não tem....
Abraço e saúde,
Basta obsevar os alinhamentos dos Telejornais: crimes, crimes e mais crimes quando a criminalidade não é superior à de 2006. Instala-se o medo. Já Shakespeare dizia: vivemos num mundo de cegos governado por imbecis.
há uma diferença significativa... os criminosos pacíficos (ou que passam por pessoas honestas) devem ter "metido mais ao bolso" no último ano que toda a criminalidade violenta dos últimos 50 anos... mas o efeito é um bocado diferente. Ser vítima de um crime violento é horrível. Sentir, num dado momento, que há um tipo capaz de nos matar só por causa da merda de um portátil ou de um carro, é algo mais traumatizante do que qualquer escândalo na política por exemplo. Francamente, o dinheiro substitui-se e vale o que vale. Prefiro 1000 vezes ser vítima de um criminoso que pelo menos seja pacífico e cordial, e que até me dê a sensação que nem estou a ser aldrabado :)
caro ib, o capitalismo mata de fome e de doença milhões de seres humanos.
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