6.9.08

ONDA DE CRIMES

A comunicação social insiste nas ondas por saber que o público gosta de ir na onda. Ora é a onda de incêndios, ora é a onda de crimes; ora vem a onda dos escândalos, ora vai a onda da crise. Esta inclinação marítima, com fundamentações geográficas facilmente compreensíveis, transforma o país num navio encalhado e os portugueses em dez milhões de náufragos agarrando-se com unhas e dentes aos destroços flutuantes do navio. Os destroços podem ser a bola, a tourada, as telenovelas, o euromilhões, tanto faz. O que importa é lembrar as sábias palavras de Raymond Hesse: sem criminosos o que seria feito dos jornalistas, dos tribunais, dos polícias e das guardas, dos políticos, de toda essa gente que vive à custa dos criminosos? É fácil concluir que sem criminosos, essas “pessoas honestas” ficariam no desemprego. É possível que se tornassem igualmente criminosos. Alguns já são vigaristas, é certo. Toda a gente sabe que estas ondas que, de quando em vez, rebentam sobre a costa portuguesa são óptimas para “desviar a atenção dos cidadãos relativamente aos seus falhanços, erros e falcatruas”. É isto que Raymond Hesse ensina: “O papel social dos criminosos é enorme: papel moral porque serve de padrão à virtude, papel económico porque sustenta e faz viver metade do mundo, papel pitoresco porque suscitou sempre um interesse apaixonado. Se o criminoso não existisse, era preciso inventá-lo, pois ele é um dos benfeitores da humanidade sofredora” (Cf. “Vigaristas, Ladrões e Assassinos”, &etc, Abril de 2007). Dito isto, vou de passeio cometer os meus crimes lá para os lados de Castelo Branco. Uma coisa vos garanto: se ouvirem falar de assaltos na zona, não fui eu. O criminoso nunca assume os seus crimes. Na verdade, esse é o maior crime cometido pelos criminosos. Inclusive os que passam por ser pessoas honestas.

6 Comments:

At 3:14 da tarde, Blogger jp said...

Também não vou em ondas, apesar de ainda ontem terem apontado uma arma na cabeça da minha namorada para lhe tirarem o carro. Tinha a porta fechada e disse 3 vezes que não abria. Na esquadra disseram-lhe que devia ter aberto e que tinha muita sorte em estar ali a falar com eles.
Mas não é por isto que mudo a minha opinião. O pseudo-jornalismo com as suas ondas é muita espuma e pouco mar.

 
At 5:20 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Todos os dias hà assaltos,todos os dias morre gente,é mais uma moda da pseudo informação.

 
At 12:52 da tarde, Blogger rff said...

Como em tudo na vida é necessário separar o trigo (a realidade) do joio (a insanidade dos media).
Há sem duvida alguns tipos perigosos de criminalidade a florescer sendo que em outras áreas as mudanças e as evoluções também ocorrem.
É importante dar tempo também às forças da ordem e às próprias leis para se adaptarem a estas novas realidades. Concordo sem dificuldade que em algumas situações as leis têm que endurecer evitando mal maiores e actuando ao nível da prevenção dissuasora. Também é importante sabermos situarmo-nos no tempo. O país vive uma conjuntura económica difícil o que arrasta sempre consigo um crescimento dos índices de crimes, nomeadamente ao nível dos pequenos furtos, originados em muitos casos pelo desespero de quem precisa e não tem....

Abraço e saúde,

 
At 10:20 da tarde, Blogger A. Pedro Ribeiro said...

Basta obsevar os alinhamentos dos Telejornais: crimes, crimes e mais crimes quando a criminalidade não é superior à de 2006. Instala-se o medo. Já Shakespeare dizia: vivemos num mundo de cegos governado por imbecis.

 
At 12:52 da tarde, Blogger Lourenço Bray said...

há uma diferença significativa... os criminosos pacíficos (ou que passam por pessoas honestas) devem ter "metido mais ao bolso" no último ano que toda a criminalidade violenta dos últimos 50 anos... mas o efeito é um bocado diferente. Ser vítima de um crime violento é horrível. Sentir, num dado momento, que há um tipo capaz de nos matar só por causa da merda de um portátil ou de um carro, é algo mais traumatizante do que qualquer escândalo na política por exemplo. Francamente, o dinheiro substitui-se e vale o que vale. Prefiro 1000 vezes ser vítima de um criminoso que pelo menos seja pacífico e cordial, e que até me dê a sensação que nem estou a ser aldrabado :)

 
At 2:36 da manhã, Blogger A. Pedro Ribeiro said...

caro ib, o capitalismo mata de fome e de doença milhões de seres humanos.

 

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