5.10.08

SONETO: A INGLATERRA EM 1819

Um rei velho, louco, cego, desprezado e moribundo, -
Príncipes, a escória da sua triste raça, que fluem
Através do escárnio público, - lama saída de uma fonte lodosa, -
Governantes que não vêem, nem sentem, nem sabem

Mas que se agarram como sanguessugas ao seu país agonizante,
Até que caem, cegos pelo sangue, sem que os toquem, -
Um povo morto à fome e apunhalado no campo por cultivar, -
Um exército, em que o liberticídio e a pilhagem

Fazem uma espada de dois gumes para todos aqueles que a
brandem, - Leis de ouro e sangue que tentam e matam;
Religião sem Cristo, sem Deus - um livro selado;

Um Senado - a pior instituição do Tempo, não revogado, -
São sepulturas, de onde um glorioso Fantasma pode
Brotar, para iluminar o nosso dia tempestuoso.

Trad. Célia Henriques.

Percy Bysshe Shelley nasceu em Inglaterra a 4 de Agosto de 1792. Pertencente a uma família aristocrática, foi matriculado em Oxford a 10 de Abril de 1810. Nesse ano publica o seu primeiro romance gótico: Zartrozzi. Em 1811 é expulso de Oxford na sequência da publicação do panfleto A Necessidade do ateísmo. Inicia então uma vida repleta de casos que o levam ao exílio voluntário. Casa com Harriet Westbrook, de quem terá dois filhos. Separa-se de Harriet, que acabará suicidando-se, e junta-se àquela que virá a ser Mary Shelley, filha de Mary Wollstonecraft, pioneira da emancipação feminina. Foi admirador de Wordsworth, amigo de Lord Byron e de Keats, considerado pelos do seu tempo um infiel, um iconoclasta farsante. Ateu, poeta elegíaco, satírico, panfletário, inimigo da religião, da realeza e da tirania política, foi ignorado ou mal lido depois da morte, ocorrida a 8 de Julho de 1822, por afogamento. O poema aqui reproduzido foi copiado de A Máscara da Anarquia – poema escrito por ocasião do massacre de Manchester seguido de Cinco poemas de 1819, &etc., Setembro de 2008.