12.11.08

Fragmento #68 – Roma

Para a Sissi

Um amigo engraçado comentou comigo que as mulheres são tudo aos vinte anos; de imediato pensei que aos vinte anos entusiasmamo-nos com muita facilidade, nomeadamente, com certos espécimes do sexo oposto, ele deve sentir mais facilmente que é tudo perante uma mulher de vinte anos, é delicioso observar como os homens são naifes nestas coisas. Lembrei-me também de alguns factos com os quais me deparei na altura, de como era ingénua, insegura e ainda não sabia relativizar acontecimentos. Com vinte anos fui visitar uma das minhas irmãs a Roma, que estava lá a estudar: cidade caótica, onde os gatos habitam as ruínas do antigo império. Era a terceira vez que lá me deslocava, com a curiosidade provocada pela Roma de Fellini, nesse filme uma máquina futurista abre os túneis do metro, encontrando no subsolo uma casa com frescos romanos maravilhosos, depois um grupo de pessoas entra nessa casa e ficam desesperados por causa dos frescos estarem a desaparecer. A primeira vez que visitei Roma foi numa peregrinação na adolescência, para ver o Papa, ironias do destino; na segunda, baldei-me a uma tarde de compras com a minha mãe e fui para a Vila Borguese, onde descobri uma pintura de um tal Caravaggio que me trespassou como só a boa música consegue fazer, de tal forma que a pintura não saía do interior da minha cabeça, quando me vim embora; na terceira foi mesmo para ver mais Caravaggios ao vivo e a cores, uma peregrinação bem diferente. A minha irmã levou-me a um local fantástico perto de Campo de Fiori, onde os colegas e professores estavam a comemorar o aniversário de uma professora – um local onde só se bebia vinho, uma maravilha; e a professora era uma quarentona nova-iorquina com muita pinta, que disse algo que nunca mais me esqueci: os vinte anos é a idade das descobertas, os trinta a idade da força e aos quarenta, uma mulher tem poder.

Maria João