APRENDER A CONTAR #43
O SILÊNCIO
O silêncio é um termo polissémico, uma palavra com várias camadas, como a casca da cebola. Uma palavra que se descasca com encantamento. Ausência de barulho, jejum da palavra, renúncia, revela-se o canto secreto da linguagem acabada, música de mil harmonias segundo o imaginário, os afectos, a intuição. O silêncio penetra para além do conceito, do intelecto, leva-nos ao coração das coisas, faz-nos tocar, sem esforço, o coração de Deus. Buda é às vezes chamado o "mestre do silêncio". Para os budistas, no ramo zen em particular, o silêncio é considerado como um meio privilegiado de chegar à verdade, a nascente escondida.
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Japão. Primeira metade do século XIV, shogunato dos Ashikagaka. Um templo perdido na montanha. Quatro monges zen decidiram fazer um sesshin (espécie de retiro) em silêncio absoluto. Instalaram-se em zazen. Veio a noite. O frio cortante.
“A vela apagou-se!, diz o mais jovem dos monges.
― Não deves falar! É um sesshin de silêncio total, ― observa severamente um monge mais velho.
― Porque falam, em vez de se calarem, como tinha sido combinado! ― faz notar
com humor um terceiro monge.
― Sou o único que não falou!, diz com satisfação o quarto monge.
Este episódio faz sorrir. Mas ilustra com exactidão a justeza do espírito do Zen. Troça-se dos monges, trata-se com humor o silêncio, do qual no entanto se sabe que é um elemento essencial do caminho. É que o silêncio não é senão silêncio, ou seja, um meio. “Se encontrares o Buda, mata o Buda”, diz uma máxima célebre.
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Nada deve ser obstáculo à experiência pessoal.
Os Melhores Contos Zen, trad. Miranda das Neves, Teorema, pp. 79-81, Maio de 2002.
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