8.11.05

Este post não é sobre Paris

Na passada sexta-feira discutia a situação de Paris com um amigo. Julgo, de antemão, não estarmos ambos bem informados sofre a complexidade do problema. Julgo mais: as notícias que nos chegam, chegam-nos filtradas pelos preconceitos do costume no que respeita às relações entre problemas tão interdependentes como sejam a imigração, a integração, a marginalidade, a socialização, a aculturação, os factores de mudança social, a contracultura, o controlo social, os comportamentos desviantes, a exclusão, a delinquência, etc. O sensacionalismo que alimenta os media hoje em dia premeia a confusão, promove a discórdia e traduz grosseiramente a realidade. Porque a realidade não se cinge às imagens de carros a arder, escolas violadas e templos profanados. A realidade é sempre uma encruzilhada de fenómenos em relações de dependência que dificilmente a imprensa reproduz. Argumente-se, discuta-se, tagarele-se, enfim, bulhe-se, que não vem mal ao mundo por isso. Todos podemos ter opinião acerca de tudo, principalmente porque essa opinião não influi em nada. Mas queria eu dizer que o meu amigo dizia poder estar ali, nas ruas de Paris, a emergir uma grande revolução. Que nas ruas de França, raiz da Liberdade, Fraternidade e Igualdade, podia estar a iniciar-se um novo processo de mudança. Eu, apesar da minha costela revolucionária (que convive bem, diga-se, com a outra: a burguesa), sou menos optimista (se dizê-lo assim não ofende ninguém). Não noto qualquer valoração ideológica a alicerçar os desacatos, ou, se assim quiserem, a revolta. Pendo mais para a ideia de confrontos vazios de ideologia e cheios de exibicionismo. Não se vê por ali nada, digo eu, que não seja reflexo duma cultura atolada na violência gratuita, fundamentalmente desinteressada, genericamente alheada dos excluídos. Demonstrações de poder, talvez. Mas admito estar redondamente equivocado. No fundo, tudo aquilo parece ser uma greve de civismo. Agora interessa é perceber o que legitima essa greve. Seja como for, temo que o esforço de compreensão que venha a ser feito no futuro, amainada a conturbação, seja tão frugal e efémero como a preocupação com a putativa pandemia caída entretanto na penumbra.

2 Comments:

At 11:39 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Concordo, parece violência vinda de um qualquer filme ou jogo de computador e nada mais do que isso, infelizmente é real e muito gratuita.
nelson

 
At 10:27 da manhã, Blogger MJLF said...

cuidado, não confundam a realidade com a ficção, a realidade está sempre à frente.

 

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