14.2.06

Namorar

Comecei a namorar à distância da timidez. Tinha poucos metros de vida. A primeira carta de amor que escrevi não era ridícula, porque tinha corações desenhados ao lado de árvores sem frutos. Atirei-a, literalmente, para cima da amada. Depois fugi. Nunca mais a vi. Sei que cresceu, casou, teve filhos, engordou, fez-se à vida. A segunda vez que namorei, foi mais de perto. Tinha um livro de autógrafos e passava horas a olhar o nome dela, escrito a tinta azul com um contorno estelar à volta de cada letra. Com o tempo, a tinta foi-se apagando e o papel emurcheceu. A terceira vez que namorei foi já por baixo dos lençóis. Lembro-me que tinha os dedos frios, o que me atrapalhou no dedilhado. Fiz calos, parti unhas e cordas, afinei, desafinei. Entretanto, as guitarras foram adormecidas num estojo preto que aguarda melhores dias debaixo da cama. A última vez que namorei foi por msn. Mandei-te rosas virtuais e tu respondeste-me com beijos de lábios bojudos, vermelhos, provocantes. Não sei se depois de tanta letra, vai dar para escrever mais alguma página do nosso namoro. Como diz a outra, tenho frio e pouco quem me aqueça. Isto não é um convite.

2 Comments:

At 10:18 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Obrigado pelo comentário.

 
At 10:45 da manhã, Anonymous Anónimo said...

:) Este engordar é uma fatalidade que nos toca quase a todos... quando nos fazemos à vida.;)

 

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