6.2.07

Do pessimismo


Aqueles que sentem a necessidade de separar as águas do humorismo e da arte, deviam olhar com mais atenção para a obra de Thomas Fats Waller. É certo que um humorista não está obrigado a ser um actor ou um escritor, assim como um escritor não está obrigado a ser humorista. No entanto, o humor é uma dimensão fundamental da vida. Logo, é uma das dimensões imprescindíveis da arte. Uma arte sem humor, seja ele mais sarcástico, irónico ou subtil, é uma arte desgraçada. Abençoados aqueles que, como Thomas Fats Waller, sabem conjugar o melhor do humor, raiando por vezes a pura comicidade, com o testemunho sério que deve impregnar toda a arte. É claro que a arte é um assunto sério, mas nenhum assunto sério é realmente sério se não nos fizer rir. Só nos rimos da banalidade da vida porque a levamos a sério, mesmo quando, numa atitude mais sentimental, recusamos levar-nos a sério. Fats Waller, que morreu com apenas trinta e nove anos, levava a vida muito a sério, ainda que, por isso mesmo, tantas e tantas vezes procurasse não se deixar levar pela seriedade da vida. Li algures que foi dependente do álcool, uma característica comum a todos aqueles para quem a seriedade da vida não pode impedir o riso, mesmo quando por trás do riso se esconde a mais autêntica amargura. Revejo-me em quem se ri assim, e só por isso não gosto que me chamem pessimista.

1 Comments:

At 6:09 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Concordo consigo.Fez mais pelo SIM o gato fedorento que quantos juristas, padres e bispos,médicos vêm dizendo nesses debates.Além do mais nas aldeias nem sabem o que é IVG - na minha tera sempre se fizeram, mas com o nome de «DESMANCHOS»...Receio muito a abstenção.

 

Enviar um comentário

<< Home