A VAGINA
É cálida flor
e trópica mansamente
de leite entreaberta às tuas
mãos
feltro das pétalas que por dentro
tem o felpo das pálpebras
da língua a lentidão
Guelra do corpo
pulmão que não respira
dobada em muco
tecida em sua água
Flor carnívora voraz do próprio
suco
no ventre entorpecida
nas pernas sequestrada
e trópica mansamente
de leite entreaberta às tuas
mãos
feltro das pétalas que por dentro
tem o felpo das pálpebras
da língua a lentidão
Guelra do corpo
pulmão que não respira
dobada em muco
tecida em sua água
Flor carnívora voraz do próprio
suco
no ventre entorpecida
nas pernas sequestrada
Maria Teresa Horta nasceu em Lisboa, a 20 de Maio de 1937. Depois de ter frequentado a Faculdade de Letras, ingressou no jornalismo, tendo sido coordenadora, durante três anos, do suplemento «Literatura e Arte», do jornal A Capital. Posteriormente, foi crítica literária no Expresso e foi chefe de redacção da revista Mulheres. Esteve ligada ao movimento de renovação da poesia portuguesa dos anos 60, tendo pertencido, nessa mesma época, ao grupo Poesia 61. Muito interessada pelo cinema, dedicou-se durante anos ao movimento cineclubista, tendo feito com António Macedo a curta-metragem Verão Coincidente, baseada num poema seu, editado em 1962. Desde sempre assumidamente feminista, tem dedicado grande parte da sua vida à luta das mulheres, tendo sido uma das organizadoras do Movimento de Libertação da Mulher em Portugal. Dentro desta linha, viu dois dos seus livros proibidos pela censura do Estado Novo, e respondeu em tribunal, num processo que gerou grande polémica, pela publicação do livro Novas Cartas Portuguesas (1972), de que é co-autora juntamente com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa. (in Antologia Poética, Círculo de Leitores, Março de 1994)
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