3.1.06

AS NOITES

Nas noites insones temos ocos aparelhos
Para passar de novo os velhos filmes
Nas paredes brancas da cabeça.

Mas há sempre uma bobina que se troca
Uma fada perdida numa cena muda
Um silêncio que dói numa cascata.

A matéria eterna geme sem controlo
O caos vocabular não se detém
A boca mal respira o próprio eco.

Lá fora estão os nomes e nós no grito
Da extensa narração dos seus sinais
Fermentando fiéis mais infinito.

4.10.04


Armando Silva Carvalho

Armando Silva Carvalho nasceu em Olho Marinho (Óbidos) em 1938. Licenciado em Direito, pela Universidade de Lisboa, depois de uma passagem fortuita por Filosofia, exerceu advocacia durante um curto período. Depois foi jornalista, professor do ensino secundário e técnico de publicidade. Hoje dedica-se quase em exclusivo à tradução e à consultadoria de publicidade. Oriundo do grupo que fez a Antologia de Poesia Universitária (1959?), ao lado de Ruy Belo, Fiama, Luiza Neto Jorge, Gastão Cruz e outros, estreou-se com Lírica Consumível (1965), que em 1962 havia recebido o Prémio Revelação da Sociedade Portuguesa de Escritores. Desde que António Ramos Rosa o incluiu na 4ª série das Líricas Portuguesas (1969), chamando a atenção para o facto de a sua poesia ser "essencialmente antilírica e refractária a todas as formas de expressão subjectiva", Armando Silva Carvalho tem estado representado na generalidade das antologias de poesia portuguesa. Entre as suas traduções mais relevantes, devem citar-se obras de Beckett, Duras, Cesaire, Voznesensky, Genet, E. E. Cummings, Aleixandre e Mallarmé.