12.5.06

Estação Morta

porque as cortinas de água em redor
do olhar
por tanta coisa podes devagar
despir-me se quiseres
lá fora há um pássaro que me espera os cabelos
levar-me-á suspensa sobre o oceano
e talvez outros
por isso de ti à superfície apenas falanges
nervosas
descendo-me à deriva procurando
a foz onde o desejo
estranho de árvores e aves nómadas

é bom que te apresses aproxima-se talvez
a derradeira hora de mais uma hibernação em que
como tudo o resto não seremos mais
nada senão uma cor
a complacência no limite do outono
nem mesmo talvez
a companhia inevitável no topo deserto
da falésia
por isso a ti posso mostrar o lodo no fundo
oco desses poços
sem recear o que fica quando no rio
a súbita corrente
nesse estremecer teu e do mundo até que
o orvalho nos seque sobre os corpos e já
nunca mais saibamos juntar as letras assim

apesar de tudo há que entender

uma nova estação deixa sempre
a sua marca indelével
uma cratera oculta indecifrável para sempre

Sandra Augusto França
Sandra Augusto França nasceu em Lisboa em 1971. Estudou Engenharia, foi Gestora de Projecto, jornalista de imprensa escrita e televisão e bolseira-investigadora no Centro Nacional de Cultura. Está representada em algumas antologias e colectâneas editadas pela Secretaria de Estado da Cultura (1993), Centro Nacional de Cultura (1993), Clube Português de Artes e Ideias (1996, 1997 e 1998) e Diário de Notícias (1990). Foi distinguida com o Prémio de Revelação APE/IPLB 1995 na modalidade de poesia, com o livro Estações. Com Poema dos Ausentes, Sandra Augusto França venceu em 1997 o Prémio Literário Cidade de Almada.

2 Comments:

At 7:54 da tarde, Anonymous Anónimo said...

O que faz aqui um poema mau completamente isolado? Conhecemo-nos? Que descoberta tão insólita :-)(SAF)

 
At 7:54 da tarde, Anonymous Anónimo said...

mau=meu

 

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