11.5.06

HUIS CLOS

Da vida não se sai pela porta:
só pela janela. Não se sai
bem da vida como não se sai
bem de paixões jogatinas drogas.
E é porque sabemos disso e não
por temer viver depois da morte
em plagas de Dante Goya ou Bosh
(essas, doce príncipe, cá estão)
que tão raramente nos matamos
a tempo: por não considerarmos
as saídas disponíveis dignas
de nós, que, em meio a fezes e urina
sangue e dor, nascemos para lendas
mares amores mortes serenas.

Antonio Cicero

Antonio Cicero nasceu no Rio de Janeiro, em 1945. Filósofo, compositor e poeta, começou a escrever poesia na adolescência. Primeiro, na forma de letras de canções para as vozes de Marina Lima, Adriana Calcanhoto, João Bosco, etc; muito mais tarde, reunidos no seu primeiro livro de poemas: Guardar (1996). Com este livro venceu o Prémio Nestlé de Literatura, na categoria Estreante. Poemas seus constam da antologia bilingue Outras praias / Other Shores (1998, organizada por Ricardo Corona), da antologia Esses poetas (1999, organizada por Heloísa Buarque de Hollanda), da antologia 41 poetas do Rio (1999, organizada por Moacyr Félix), e da colectânea de textos Mais poesia hoje (1999, organizada por Célia Pedrosa, Cláudia Matos e Evando Nascimento). No ano de 2000 foi publicado o seu ensaio Poesia e paisagens urbanas, na colectânea Mais poesia hoje, organizada por Celia Pedrosa. Actualmente, Antonio Cicero dedica-se a escrever poemas e ensaios, além de ocasionalmente fazer leituras e palestras. Já este ano, as Quasi Edições publicaram entre nós, deste autor, o livro de poemas A Cidade e os Livros.