4.5.06

PRONTO

Pronto. O ponto ponte para tudo.
Fim do silêncio balançado no lance.
O desespero agora e de granito
a pequena picada de sugarem o sangue.

Pronto. A eternidade numa terna cidade
de vendavais ao vento e doces automóveis
- Pele que repele o ódio sobre a pele,
alcatrão da memória em cor imóvel.

E quando de repente da violência
de um nefasto fastio irrompe o sono
- Pronto – eis o ponto ponte para nada
A pequena picada de sugarem o nome.

Loucura é não gritar de noite ao meio-dia
quando as florestas iniciam os gestos.
Tudo o que às vezes nasce, masca e morde:
palha de burro é coração de insectos!

Maria Alberta Menéres

Maria Alberta Menéres nasceu em Vila Nova de Gaia, em 1930. Licenciada em Ciências Histórico-Filosóficas, foi professora do ensino secundário. Colaborou em diversas publicações, nomeadamente Távola Redonda, Diário de Notícias, Cadernos do Meio-Dia. Foi responsável pela secção Iniciação Literária do Diário Popular. O seu primeiro livro de poesia, publicado em 1952, intitulava-se Intervalo. Grande parte da sua obra é dedicada à literatura infantil e juvenil, tendo recebido neste contexto o Prémio de Literatura Infantil da Fundação Calouste Gulbenkian, em 1981. Em 1979, com E. M. de Melo e Castro, organizou uma Antologia da Novíssima Poesia Portuguesa.