12.6.06

Avaliação dos professores/formadores pelos alunos/formandos

Há seis anos que sou avaliado pelos meus alunos e formandos. Os itens são os seguintes: modo de apresentação dos temas; conhecimentos sobre a matéria; utilização de linguagem clara e objectiva; capacidade de motivar os alunos/formandos; relacionamento com os alunos/formandos; execução de trabalhos/exercícios e actividades; pontualidade. Para cada um dos itens é pedido aos alunos/formandos uma classificação de muito fraco (1) a muito bom (5). Se bem me lembro, fui sempre classificado entre o bom (4) e o muito bom (5). O que vou expor pode, por isso, jogar contra mim: a avaliação dos professores/formadores pelos alunos/formandos é, geralmente, um logro. Todo o professor/formador sabe que é cada vez mais angustiante a ausência de espírito crítico (dos adolescentes à sociedade em geral), assim como a falta de critérios objectivos e neutros que permitam avaliar com justeza. É frequente, por exemplo, quando se pede aos alunos/formandos que avaliem os trabalhos uns dos outros, essa avaliação enfermar de simpatias e influências grupais mais ou menos explícitas. Nos momentos de auto-avaliação são usuais dois fenómenos, explicáveis, talvez, à luz da personalidade dos indivíduos em causa: ou o aluno/formando se avalia por cima ou, ao contrário, tende a avaliar-se por baixo. Raramente as avaliações elaboradas pelos alunos/formandos são sustentadas em dados objectivos, imparciais, indiferentes. Pergunte-se a um aluno/formando por que atribui uma avaliação a um trabalho de um colega e dificilmente este obterá uma resposta. As razões que sustentam este tipo de avaliação reflectem amiúde intenções que nada têm que ver com senso de justiça. Quanto a mim, isso é consequência de aspectos de vária ordem. Já referi a frequente ausência de espírito crítico, mas podia também referir um desinteresse generalizado, extensível à sociedade portuguesa, por tudo quanto implique esforço de abstracção, metodologia e objectividade, digamos assim, científica. Nós vivemos num país de improvisadores convencidos que dominar a pauta é um entrave à criatividade. Constato, deste modo, que a avaliação que os alunos/formandos fazem dos professores/formadores tende a espelhar, sobretudo, a simpatia que o aluno/formando nutre pelo professor/formador que avalia. Raramente a competência. Assim, se para um aluno/formando o bom professor/formador for o professor fixe (não manda trabalhos para casa, não marca faltas de pontualidade, é permissivo, diz umas piadas, joga uns jogos, está-se nas tintas para as competências dos alunos) a avaliação fica, à partida, inquinada. Para um aluno/formando avaliar com justiça um professor/formador é fundamental que o aluno/formando possua a consciência do que é um bom professor. O que noto é o seguinte: professor/formador que sorria muito, não registe faltas de material nem de pontualidade, seja pouco exigente e dê boas notas (muitas vezes basta a almejada positiva), corre o risco de ser considerado muito bom pelos alunos/formandos; ao invés, professor/formador que encare com seriedade o seu trabalho, registe faltas, seja exigente e procure ser justo, corre o risco de ser considerado suficiente ou, no pior dos casos, fraco (raramente muito fraco). Outro aspecto curioso é o facto de as avaliações elaboradas pelos alunos/formandos parecerem ajustar-se à postura dos professores/formadores. Por exemplo, se um professor/formador for geralmente pontual, assim como exigente com a pontualidade dos alunos/formandos, basta atrasar-se uma ou duas vezes para logo ser considerado pouco pontual; por sua vez, se um professor/formador for pouco pontual, assim como nada exigente com a pontualidade dos alunos/formandos, o aluno/formando tende a esquecer-se da falta de pontualidade do professor/formador. A negligência do professor/formador reflecte-se, de certa maneira, na negligência do aluno/formando. Dito isto, concluo que a avaliação dos professores/formadores por parte dos alunos/formandos é como os testes de psicologia: são uma ferramenta de trabalho que jamais poderá determinar qualquer tipo de conclusão, sob pena do sistema tornar-se mais injusto que justo. Vários exemplos, por vezes funestos, permitem-me estas conclusões. Ainda há bem pouco tempo uma ex-formanda confessava-se-me revelando que um seu ex-formador de Matemática, sempre excelentemente avaliado, passava as horas de formação a praticar todo o tipo de artes divinatórias com os formandos. Isto durou 3 anos consecutivos, sem que alguém desse por isso.

5 Comments:

At 1:09 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Caro Barão:

Um professor tem a obrigação de saber avaliar com clareza e criteriosamente os seus alunos. Para isso estudou, para isso se profissionalizou, para isso se vê obrigado a dominar diversas e por vezes divergentes práticas avaliativas. Cada professor terá a sua metodologia avaliativa, condicionada pelas directrizes programáticas. Isto não quer dizer que a avaliação dos alunos por parte dos professores não seja polémica, mas tem a obrigação de ser o menos subjectiva e parcial possível.

O meu caro Barão diz que toda e qualquer aprendizagem é emocional. Pois certo… Mas também há-de ser racional. Ou não? Tomemos de princípio que é as duas coisas ao mesmo tempo, não impedindo uma a outra. No caso do professor que avalia, a sua obrigação, por formação, é ser mais racional que emotivo (evitando ao máximo favorecimentos e buscando rigor).

Se os professores têm consciência do que é um bom professor? Se não têm, são maus professores. Mas isso é outra questão. O problema aqui é de discernimento. A prática diz-me que a adolescência prolonga-se cada vez mais no tempo, e com ela a ausência de um certo discernimento que vem com a maturidade. Não obrigo um aluno meu a esse discernimento (compreendo que seja parcial, subjectivo, tendencioso), mas exijo a um adulto que o possua (caso contrário, tomá-lo-ei por infantil). Não descuro a possibilidade de, numa sociedade onde se promove a desresponsabilização, os adultos forçarem-se a ser eternas crianças. Se calhar, a crendice que pulula neste pais explicaria isso.

Se os alunos dos outros países são mais ou menos destituídos que os nossos? Bem, serão os adultos dos outros países mais ou menos destituídos que nós? Serão as sociedades estrangeiras mais ou menos destituídas que a nossa? Não entremos por aí.

Quanto ao resto, permita-me a repetição: «a avaliação dos professores/formadores por parte dos alunos/formandos é como os testes de psicologia: são uma ferramenta de trabalho que jamais poderá determinar qualquer tipo de conclusão, sob pena do sistema tornar-se mais injusto que justo». Ou seja, essa avaliação deve ser feita, é bom que se faça (até, olhe, por questões motivacionais complexas de explicar agora), mas não pode determinar o valor de um professor.

 
At 3:17 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Bem!!! Quando alguém tem consciencia de que vai ser professor e que, quer concorde com o sistema ou não, vai ter de fazer avaliações não é formado, ou não tem o cuidado de se preparar, para o fazer com "clareza e criteriosamente" é porque há realmente algo que não está bem. Que fique claro que estou a falar de professores por vocação, por amor à camisola, dos tais que tentar criar a tal "fome de conhecimento" e não de pessoas que encontram no ensino uma alternativa porque não encontraram mais nada para fazer pela vida.
Claro que a questão da avaliação vai ser sempre subjectiva, mas se se tem de avaliar que se utilizem critérios claros e objectivos. Só desta agindo desta forma se poderá evitar a ambiguidade na avaliação e, consequentemente, minimizar sentimentos de injustiça por parte de quem está a ser avaliado.
Não sei se era o que Hnerique estava a querer dizer, mas parece-me obvio que uma pessoas mais madura e com mais responsabilidade seja mais correcta nas avaliações que faz, quer seja aluno ou professor. Quero com isto dizer que há professores pouco maduros e isentos na avaliação que fazem dos colegas, mas também há alunos criteriosos e responsáveis na avaliação que fazem dos seus professores, embora estes em menor número que os primeiros ;-))

Até breve

 
At 4:44 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Caríssimo Barão,

comecemos pelo fim: a minha consciência do que seja um bom professor passa, entre outras coisas, pelo facto de ter sido aluno. Ou seja, eu tenho uma experiência adquirida e uma formação que o aluno não tem. Logo, estou obrigado, se for um bom profissional, a ter de facto uma consciência do exercício da docência que não é justo exigir aos alunos. Veja se compreende a minha perspectiva: não é possível exigir a um aluno a mesma perspicácia na avaliação que é exigível a um professor.

Não quero falar da avaliação dos alunos porque não é isso que está aqui em causa. Para tal, um professor, no curso da sua formação profissional, tem cadeiras como, por exemplo, Avaliação da Aprendizagem. É certo que essas cadeiras são demasiado técnicas e, muitas vezes, desfocadas da realidade. Mas, parece-me inegável, fornecem ao professor uma habilidade na avaliação que o aluno não possui. Mas para já gostava de não entrar nesse domínio, pois não é isso que está aqui em causa.

Quanto a concepções sobre o que seja a avaliação, eu vou pela perspectiva de que a avaliação deve servir mais para diagnosticar do que para executar (no sentido lapidar do termo). Aliás, a avaliação é sempre importante, como saberá, ao nível da motivação, pois funciona como um objectivo, uma necessidade, que o avaliado procurará satisfazer. De indivíduo para indivíduo, obviamente, existirá uma enorme variabilidade deste aspecto (tendo em conta o que cada um ambicionar).

Para terminar, permita-me que o cite, corroborando a sua afirmação: «Não queria ser agressivo gratuitamente, mas acho que muitos professores não sabem o que é um bom professor e consequentemente, segundo as suas palavras...» São maus professores.

Ana,

É mesmo isso que quero dizer. O problema é existirem muitos professores, muitos pais, muitos ministros, que são irresponsáveis e imaturos. Como se combate isto? Olhando para os professores, para os pais, para os ministros, que sejam responsáveis e maturos. Procurando perceber a diferença entre uns e outros. Percebendo essas diferenças, façamos opções. Pouca gente fará este exercício. Um desafio: normalmente ouço alguns professores queixarem-se da ausência de referências dos alunos. Tentem questionar esses professores, que fazem essas queixas, sobre quais são as suas referências. Preparem-se…

Muito obrigado a ambos pelos comentários.

 
At 2:37 da manhã, Blogger soledade said...

«estou a falar de professores por vocação (...)e não de pessoas que encontram no ensino uma alternativa porque não encontraram mais nada para fazer pela vida.»

Achará que akinda estamos na década de 70 ou de 80?!

 
At 10:48 da manhã, Anonymous Anónimo said...

O único local onde penso que estou é numa escola, desde 1999, onde para além das funções de psicóloga tenho funções administrativas, de selecção de professores e formadores, entre outras...E, pode ter a certeza de uma coisa, cruzo-me todos os dias com profissionais (leia-se professores / formadores) frustrados.
Outro grande problema é que esses da década de 70/80 ainda andam por aí a "vender as suas aulas".

 

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