5.6.06

A culpa é do mexilhão

Ainda mal tinha assentado praça, a Ministra da Educação já era alvo de todas e mais algumas críticas por parte dos sindicatos dos professores. Os professores queixam-se de perseguição ao mesmo tempo que fazem marcação cerrada à ministra. A ministra persegue os professores, os professores perseguem a ministra. Quem é o coelho nesta história, a gente nunca saberá muito bem. A grande discussão agora, pasme-se, é de quem é a culpa do estado a que chegou o ensino em Portugal. A ministra diz que é dos professores. Os professores dizem que é da ministra. Eu sempre achei que um dos maiores problemas deste país é a paranóia da culpa. Ninguém quer ser culpado, achando sempre que a culpa é dos outros. O tempo vai passando, os culpados não se acusam, tudo continua na mesma. Pois eu acho que a culpa é de um país de merda, com políticos de merda, ministros da educação merdosos, professores cagões, de merda, pais de merda, alunos de merda. A culpa é da merda em que este país se tornou. Dito isto, partamos para a limpeza. Vou ali vender uma aula, volto já.

8 Comments:

At 3:08 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Sem embargo concordar com as ultimas linhas, ou seja, assumindo sem contemporizações que também sou uma merda, sem qualquer ironia - "todos somos responsáveis por tudo perante todos" foi uma frase que muito aprecio e li há tempos neste blogue -, parece-me no entanto claro quem persegue quem. Vê-se aliás naquilo que a proposta de ECD tem de coercivo(http://blogdosindocentes.blogspot.com/2006/05/inacreditvel.html). Não só na proposta, também na último despacho brilhante do SE Valter Lemos, ao obrigar professores doentes a regressarem às escolas de origem no domingo de Páscoa, autentico atentado aos direitos humanos (porque havia de facto quem estivesse doente). É, resumindo, que estou cansado de exemplos, a atitude habitual do ME, a propaganda mentirosa, a forma maquiavélica como manipula os sentimentos mais baixos presentes na sociedade portuguesa para atacar os professores. Com dois objectivos: poupar dinheiro e falsear, forçar, resultados... Já não é apenas eduquês, é eduqueconomês puro e duro! Pegunto: em que país civilizado um ME ataca descaradamente? Pergunto: em que país civilizado um ME ataca os professores descaradamente? Pergunto: em que país um ME ataca os professores, chamando-lhes incompetentes e preguiçosos, culpando-os por todo e qualquer insucesso na Educação? Um só exemplo de país onde se governe assim e faço um mea culpa!
Por outro lado, não me parece que os professores sejam capazes de perseguir sequer uma alma penada! São tão amorfos como o resto, tão como a outra gente: são insultados vergam a espinha, são novamente insultados ajoelham, espezinham-nos e deitam a língua de fora (ainda não percebi bem se por cansaço ou lubricidade).
Sim, há a merda do ME por um lado e a merda dos sindicatos por outro, e de um ao outro extremo vai um imenso deserto, ou pantanal, para continuar fiel à terminologia do post! Porque o que agora está em causa, apesar de sucessos e insucessos, é uma proposta de ECD que nunca passaria em nenhum país da Europa, porquanto contém de injusto e até de irracional (e com a conversa bem arranjadinha dos pais avaliarem os professores lá há-de tomar forma quase na íntegra, exceptuando esse aspecto de somenos que, sendo preciso, há-de o ME de bom grado retirar, não fossem chamar-lhe autoritário, que não ouve os outros, blá blá blá). Mas mesmo que não fosse por isso, mesmo sendo justa, nunca passaria por outra simples razão: por haver mais de noventa por cento dos professores contra (pelo menos isso afirmam), o que resultaria em mobilização ... Claro que não me refiro às estéreis greves de um dia antes de feriados para contentar sindicatos, para os docentes descarregarem a consciência com catarses tipo "eia, nós estamos aqui a lutar, professores unidos jamais serão vencidos" ou alguns usufruirem de fim de semana de três dias (conheço até quem já tenha pedido a sexta-feira)...
Em resumo: somos uma merda, é verdade, mas também, talvez sobretudo, por sermos servis! Foi sempre assim e ainda é comme si comme ça, lembrei-me até agora de um senhor que está no Guiness e de um conjunto de artigos que saiu no Público há duas semanas, no suplemento Y, sobre filmes e livros acerca desse senhor, quero dizer, esse gigantesco cagalhão!

P.S. Onde escrevi merda ou qualquer outro termo escatológico leia-se em itálico!
P.S.2: Apesar de aqui vir muitas vezes, há muito que não participava. Calhou ser logo assim, mas também me apeteceu desabafar! (Des)Culpem qualquer coisinha!

 
At 4:37 da tarde, Anonymous Anónimo said...

de facto a culpa e de todos esses.no outor dia ouvi um psicologo dizer categoricamente que a culpa e dos pais(simplismo);pais e stores dizem que a culpa e do entretenimento contemporaneo...(simplismo);alunos dizem que a matematica a filosofia a literatura a historia... nao interssam nada(ignorancia).
essa frase do dostoievski citada pla r. e uma hiperbole(genial)-parece-me obvio.conquanto creio que prefiro esta iluminacao: Quem poderá definir, matematicamente, o porquê de passarmos pelo mundo como se não fossemos o mundo a passar por nós?(de um tal henrique);)

 
At 5:57 da tarde, Blogger Filipe Guerra said...

Sobre educação e professores, considero-me leigo. Como pai de estudantes (até há pouco tempo e em várias épocas) sei que o ensino piorou desde os anos 80, que os programas se foram tornando cada vez mais aberrantes. Sobre professores, com quem gostava sempre de falar, e não só nas reuniões para esse efeito, encontrei do melhor e do pior. Mas o pior era mesmo péssimo, do género: «esta menina não pode empregar a palavra obsoleto porque não é da camada etária dela». Enfim, tenho de parar aqui, depois continuo

 
At 8:58 da tarde, Anonymous Anónimo said...

"com a 4ª classe sabia-se mais do que hoje muitos doutores" até me dá um arrepio quando leio isto. Vem acompanhado da voz do meu pai, que continua a achar que sou ignorante porque não sei de cor as linhas-férreas do país.
Até consigo imagina-lo a citar os rios de Angola, fronte a um crucifixo e à inevitável fotografia do Salazar.

Aurora.
ps: excluindo esta linha, até concordo com o jpt

 
At 10:42 da tarde, Blogger Filipe Guerra said...

Continuo, e continuo a falar como observador não especializado: nos anos de 1980 tive dois filhos na escola e pude comparar, empiricamente, que o ensino piorou em relação ao ministrado nos anos 2000 a outra filha minha. Por outro lado, sei que o ensino que sofri nos anos 60/70 era inferior ao ensino de 2000, pelo que o jpt talvez generalize sem razão.

 
At 9:19 da manhã, Blogger Filipe Guerra said...

A mim, acusarem-me de «tempo volta para trás» é ofenderem-me. Dizer que no rincão a educação vai de mal a pior, que os putos aprendem cada vez menos e não tarda a não conseguirem preencher um impresso simples no fim do secundário, de saberem mais da novela do que da vida real - dizer tudo isto, porra, não é querer que o tempo volte para trás. Além disso falo como matarruano provinciano e depois suburbano, do liceu Camões só conheço as grades da parte de fora quando ia ao arquivo de identificação. Só sei que, porque vi, nos anos 80/princípios de 90 um puto russo que sabia a matemática que aprendeu em Moscovo na quarta classe da primária, ensinava os colegas portugueses no 9º, 10º, 11º anos, e que, dez anos depois, ensina provavelmente não só os colegas mas também os professores. Os professores não só «vendem aulas» como quem vende t-shirts, também defendem a sua corporação com unhas e dentes, e para isso têm uns sindicatos altamente qualificados para essa defesa. O sindicato matou a vocação pedagógica, e que me chamem reaccionário.

 
At 2:16 da tarde, Blogger Filipe Guerra said...

apenas «ó tempo volta para trás» me ofende, e apenas porque não defendo nem nunca defendi isso. E mesmo assim é uma ofensa abstracta, não tem a ver consigo jpt. Aliás, acho que tem razão: devemos dizer mal da situação (principalmente do ensino), porque é um facto, devemos até indignar-nos, e as comparações são desnecessárias. Aliás, na Rússia ainda soviética (e agora parece que é pior), só o ensino da matemática, da língua russa e da física era de alta qualidade, o resto era como cá - dizem os especialistas. A atitude de estar na escola e de fazer a escola é que era diferente. Já a formação dos professores deixava muito a desejar (parece que havia muita politiquice pelo meio). A situação aqui parece simples: nivelar por baixo, cada vez mais baixo (e não só na educação). O poder não quer pedagogos, não lhe convêm, e a culpa é de todos, é claro. Eu sei que, se falar mal dos professores (e falo) estou a falar mal de mim como pai e como cidadão. O que fazer? Criar uma escolinha muito boa para os nossos filhotes burguesotes e meter a outra maralha toda no caldeiro? Há tendência para isso, desde a América a Portugal.

 
At 12:31 da manhã, Anonymous Anónimo said...

só para dizer que
a conversa vai boa
e eu estou a aprender
muita coisa

 

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