28.6.06

Post sobre nada em particular para ninguém em geral

Pratiquei futebol até aos 17 anos, quando parti para a capital a ver se me licenciavam. Gosto muito de futebol e se há coisa da qual sinta saudade é de uma boa futebolada. Muito de vez em quando, junto-me aos possíveis para dar uns toques em pavilhão fechado. Quem gosta de futebol, sabe que jogar em salão, cinco contra cinco, é como praticar surf num mar bonançoso. Mas enfim, a gente faz o que pode para matar o vício. O meu clube é o Sporting de Portugal, mas não vivo a coisa com fundamentalismo. Não sou sócio. A época transacta fui uma única vez ao estádio. Acresce que aprecio sobremaneira os programas da bola, que tomo ao estilo de comédias espontâneas e grotescas. Vejo quase sempre O Dia Seguinte, às segundas na SICN, e o Trio de Ataque, às terças na RTPN. Se consigo compreender a febre pelo futebol, já o mesmo não sucede relativamente à febre anti-futebol. A febre pelo futebol compreendo-a de muitas maneiras. Por exemplo, a carência que leva as pessoas a sentirem como suas as vitórias dos seus clubes ou da sua selecção. É uma grande ilusão, pois claro. Mas o que não é, hoje em dia, uma grande ilusão? Fiquei contente quando Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro, entre outros, venceram provas importantes representando Portugal. Da mesma maneira que me senti feliz pelo Nobel atribuído a Saramago. Por que não hei-de manifestar a mesma alegria quando se trata da selecção de futebol? Há, clara e obviamente, um excesso de futebol nos media. Mas os media vivem e sobrevivem desses excessos: seja o excesso de futebol, de entretenimento, de escândalos, de novelas, do que quer que seja. O excesso é, pela sua própria razão de ser, o que atrai as massas. Um acidente grave, porque excessivo, atrai todos os olhares sobre si. Os media, dependentes que estão do excesso para gerarem receitas, exploram isso até ao tutano como bem sabem, querem e podem. Mas eu prefiro isso à impossibilidade de ter isso. Sendo-me possibilitado esse excesso, não deixa de me ser possibilitada a hipótese de recusá-lo. Mudando de canal, procurando alternativas. Elas existem, não vale a pena dizer que não porque, na realidade, elas existem. Basta procurar e não engolir tudo o que nos metem na boca. Como tal, não consigo compreender a febre anti-futebol. Para remate, recordo uma entrevista de ontem, na 2:, no programa de Ana Sousa Dias. O entrevistado era Ney Matogrosso, que interrogado sobre o escândalo gerado pelos excessos das suas prestações em palco disse, quanto a mim, o fundamental: «Quem não gosta, coma menos».

4 Comments:

At 7:48 da tarde, Blogger manuel a. domingos said...

concordo contigo, herique.

também gosto de futebol (FCP), embora não goste de o discutir, prefiro vê-lo.

no entanto, esta "onda" que já aconteceu com o europeu faz-me lembrar uma frase que li, no outro dia, num documentário num canal espanhol (tradução minha): «devido ao carneirismo, não precisamos de fascismo». e penso que é isso que está a acontecer, mesmo tendo a hipótese de mudar de canal.

 
At 10:04 da tarde, Blogger Vítor Leal Barros said...

nem mais... custa-me perceber a ranhosice de alguns só porque os outros andam contentes... enfim...
...cada um come o que quer na quantidade que quer...como disseste

 
At 2:52 da manhã, Blogger Vitor_Vicente said...

Também vibro com a Selecão Nacional.
Vibro, isto é, fico todo fodido por continuarem a ganhar e tenho uma garrafa à espera pr`abrir quando as quinas forem c`o caralho.
Para terem uma ideia: sou adepto do Porto. Quando joga Portugal, quero dizer este Portugal, vejo as outras selecções trajadas de azul e branco. Deve ser por isso, e por gramar à brava o Maradona, que estou pela Argentina este mundial, e estive pela Grécia no Euro 2004 do primeiro ao último minuto.
De resto, tens razão, Henrique. O Costinha quando mete a mão à bola mete mesmo a mão à bola e nas telenovelas e demais programas de tv elas nunca metem as mãos nas bolas deles, é tudo tanga, até a tesão é a fingir. Excepção honrosa à pornografia, na verdade o canal mais resistente (será que os gajos do sexy hot leram o Debord ?) à espectacularização do humano.

 
At 4:13 da manhã, Blogger . said...

Falar sobre futebol em geral é como falar sobre política em geral: banalidades e lugares-comuns. Excessivo, com ponderação, na medida certa, quando sou eu a jogar, etc. O truque é chafurdar na coisa de tal forma que às tantas já não existe futebol, só existe o resto, mediado por uma esfera. Excesso e resto são uma excelente dupla atacante: o excesso é inútil e o resto é particular, mas juntos jorram rios de nada. (Excelente espaço, este blog.)

 

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