11.9.06

EXIT


Há canções que nos desnudam. Não no sentido psicanalítico de nos desmascararem, mas antes no sentido humano de nos mostrarem do avesso. No sentido de porem a claro e a limpo, com pouco mais que meia dúzia de palavras entoadas à altura dos anjos, o que há de essencial no mundo que é cada um de nós. Exit Music (For a Film) é uma dessas canções às quais devemos um ensinamento sobre a arte de viver. Pena que para aprendermos a viver seja quase sempre necessário aprendermos a lidar com o sofrimento, sobretudo o alheio. Não foi por acaso que Santo Agostinho iniciou o seu processo de conversão após a morte de um amigo. A vivência do sofrimento, daí o sacrifício, aproxima-nos de um saber que consola aquele a quem mais não restam dúvidas sobre a sua precariedade. É este o nosso filme: respirar, continuar a respirar. Uns sob a voz do Senhor, outros sob a voz de Thom Yorke. Sing us a song, a song to keep us warm. Eu, como já tenho dito, não preciso de muito mais para me converter à vida. E em dias de lembrar a morte, os mortos, os símbolos do até onde da maldade humana, não há como escutar, mais uma vez, aquilo que nos converte à vida. O mundo só terá concerto quando todos os fanáticos escutarem rock music e desejarem partir guitarras ao invés de vidas, quando todos os fanáticos forem potenciais suicidas, não por causas alheias, mas apenas em causa própria.

10 Comments:

At 7:50 da tarde, Blogger Vítor Leal Barros said...

podia ter sido eu a escrever isto, mas tu escreves melhor...

abraço

 
At 7:50 da tarde, Blogger Vítor Leal Barros said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

 
At 7:53 da tarde, Blogger Fábio said...

Eu não poderia ter escrito isto. Nunca iria a um concerto dos James. :)

Mas gosto do que escreveste, e deixo-te o que há de mais importante nos Radiohead:

"I am the key to the lock in your house, that keeps your toys in the basement
And if you get too far inside, youll only see my reflection
Its always best when the light is off, I am the pick in the ice
Do not cry out or hit the alarm, were friends till we die

And either way you turn, Ill be there, open up your skull
Ill be there, climbing up the walls

Its always best when the light is off, its always better on the outside
Fifteen blows to the back of my head, fifteen blows to your mind
So tuck the kids in safe tonight, shut the eyes in the cupboard
So not cry out or hit the alarm, youll get the loneliest feeling

That either way you turn, Ill be there, open up your skull
Ill be there, climbing up the walls

Climb up the walls. climb up the walls"

Um abraço

 
At 11:49 da tarde, Blogger margarete said...

épá! Henrique... carago! fosgasse!

:D

 
At 9:44 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Já ouviste o Brad Mehldau a tocar esta música? Aconselho...

 
At 11:21 da manhã, Anonymous Anónimo said...

É impressionante como as percepções musicais podem ser diferentes... Gosto muito de Radiohead, mas exactamente essa música (Exit for a film) provoca-me uma repulsa fisiológica tal, que sou obrigado a levantar-me do sofá e a clicar no "next" da aparelhagem. Desde 97, acho que só a ouvi 2 ou 3 vezes e foi sempre muito penoso...

 
At 12:04 da tarde, Anonymous Anónimo said...

obrigado a todos
pelos comentários

 
At 4:57 da tarde, Blogger perdida em Faro said...

Sem dúvida que aconselho a escuta da versão do Brad Mehldau...sem dúvida que radiohead é muito bom e se há uns anos atrás eu não estaria num concerto de James, estaria já para ver só radiohead, hoje em dia via as duas bandas "na boa" uma a seguir à outra.
"Tomorrow I'll be out of your range"...
Gostei muito do texto principalmente pela "culpabilização" ou melhor, pela responsabilização de cada um sobre os seus pensamentos e atitudes e até sobre as suas neuroses.
Estou curiosa sobre o novo álbum e sobre o trabalho a solo do vocalista.
Boa lembrança. A foto é muito boa!

 
At 3:52 da manhã, Blogger Fábio said...

A estas horas estas coisas ocorrem-me: O climbing up the walls é assombros. É de fazer o Homem-Aranha chorar

 
At 10:10 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Eu estive nesse concerto e pelos James claro. Lembro que o Pavilhão estava a abarrotar de gente e chegava a cair pingas de água do tecto por causa da condensação. Lotação a mais ........ Um espectáculo.


Papoila

 

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