A badana de um livro (ParteII)
Por só agora ter tomado conhecimento de um post aqui publicado em 29 de Novembro por Rui Costa, a autora referida no post, Inês Lourenço, do blogue Vida Involuntária, pede-nos que publiquemos o seguinte comentário:
Sr. Rui,
É pena a sua profícua actividade literária desaguar em poemas a badanas. Ou melhor, a duas linhas de uma badana, apresentada por um editor jovem (Quasi, 2000) que deve ter entendido que num livro com poemas de 20 anos compilando vários livros publicados, se justificava uma nota bio-bibliográfica mais completa e pormenorizada.
É pena o sr. ser só frequentador de badanas. E de uma badana de há seis anos. (Informa-se que a autora já tem posteriores livros publicados, onde outras foram as opções "badanais" dos editores)
Porque se fosse menos frequentador de badanas e mais de miolos, verificaria que a autora, além dos filhos, a quem dedica um dos livros, incluído na brochura, também fala de gatos, cães, casas, camas amaridadas ou desmaridadas, viagens e seres microcéfalos e banais.
Para que fique um pouco mais actualizado, devo dizer-lhe que essa moda estruturalista de descarnar os textos das biografias de quem os produz, já era. E que vários autores actuais, apõem filhos, gatos e cães nas suas bio-bibliografias. Ex: Ana Luísa Amaral ou Pedro Paixão.
Além de que esse machismo arcaico de achar que parir e educar gente ética e esteticamente, não faz parte da biografia, só se for para a galáxia "alegres" e "alegras". Que mesmo esses já querem a fecundação medicamente assistida...
Olhe, dedique-se a coisas mais proveitosas do que frases recortadas de "badanices", chalaceadas à má-fé.
Convença-se que há muitos telhados de vidro e atalhos esconsos, que outros, com mais ética do que você, não vêm satirizar.
Convença-se que há muitos telhados de vidro e atalhos esconsos, que outros, com mais ética do que você, não vêm satirizar.
E, adivinhou!: Os filhos da Inês, já têm, nas suas áreas, publicações com badana...
Olhe, só lhe resta reclamar com o seu ADN.
31 Comments:
São meninices, deixe lá!!!
tanto vinagre, meu deus!
eis o poder da poesia!!
VIVA A POESIA!
O vinagre é um poderoso anti-séptico.Já vem na Bíblia.
Jota
Rui, olha a senhora,porta-te bem se não ainda levas com pimenta na língua.
Maria João
Rui se me permites continua assim
o prazer de te ler é enorme
um abraço
lena
Rui Costa tem a virtude de não alinhar no comportamento que está estabelecido em termos de literatura pequeno-burguesa, por isso é o único tipo de escritor que eu aceito. A mim já me irritou porque quis ridicularizar uma pessoa que eu conheço - Loureiro dos Santos - e que eu não vejo como ele vê, nem sequer como símbolo. Mas isso não invalida que a sua visão da escrita não seja a válida.
fguerra
Já se adivinhava o coro das fãs e dos compadres,de quem "aparece" muito e fez pouco.
Não se trata de "visões da Literatura", mas sim de umas piadolas tolas e ofensivas, uma vez que se visa directamente um nome.
Esta autora editou, às suas custas, durante 10 anos os "Cadernos de Poesia Hífen",onde colaboraram com inéditos, grande parte dos poetas portigueses actuais e de outrasa Línguas (desde Eugénio a Sophia, Adília Lopes ou Joaquim manuel Magalhães).
Se alguém tem "visões da Literatura" é ela, ainda por cima é licenciada num desses Cursos onde se aprende, quando se consegue, a discernir a valia de um texto.
Metam-se com badanas, sim, mas é com aquelas onde se patenteiam "mestrados" de que não se entregou a tese, prémios de júris estrnhos ou de Alguidares de Baixo, duas cadeiras que se conseguiram acabar no 1.º ano de qualquer Faculdade, títulos de "livros" com 10 páginas...
Aí sim, ridicularizem-se as badanas, e há bastantes ao dispor, mas tendo alguma elegância e pertinência verbal.
Tudo mais que possam dizer, boquinhas e troças, de certeza lhe passará ao lado.
Fez muito bem, ao exercer o seu direito de resposta, mesmo tão distraidamente atrasado.E também movimenta a "caixa" dos comentários.
BOAS FESTAS
Felício
«ainda por cima é licenciada num desses Cursos onde se aprende, quando se consegue, a discernir a valia de um texto.»
fantástico. também quero um curso desses!
«Não se trata de "visões da Literatura", mas sim de umas piadolas tolas e ofensivas, uma vez que se visa directamente um nome.»
Já agora, e não querendo comparar o poeta Rui Costa ao poeta Almada Negreiros: o que diz do «Manifesto Anti-Dantas»? uma visão literária ou piadola tola e ofensiva? é que também se visa directamente um nome?
Que tem a autora de "Logros Consentidos", publicado em 2005 na editora "& etc",e comentado neste blogue, a ver com o Dantas?
Voc^deve estar com gripe porque um Manifesto anti-Manuel Domingos, não se justifica.
F.
Boas Festas! Boas Festas!
Haja paz, maralha, nos homens e mulheres de boa vontade!
Mas, o Dantas, não era aquele que fez fortuna, em certa cidade, a fazer "tratamentos" ginecológicos a gente com "papel"?
Aqui é o blog do sim?
caro f:
penso que entendeu bem aquilo que quis dizer.
e essa do manifesto anti- manuel domingos não se justificar... foi um golpe baixo. não estava preparado nem esperava tal coisa de alguém que acusando outros de compadrio vem defender, talvez, uma comadre.
boas festas
Caro sr. Manuel,
Golpe baixo, foi o textículo mau e insensato, que deu origem a este post de LEGÍTIMO DIREITO DE RESPOSTA.
Não queri ofendê-lo, desculpe.
F.
não ofendeu, homem! mal de mim se me senti-se ofendido por tal coisa!
e não me trate por senhor que só tenho 29 aninhos!!!
fique bem
«sentisse», entenda-se (esta coisa do conjuntivo...)
Como tudo na vida, incha desincha e passa :))
Eu vi logo que você só podia ter 29 aninhos, ó Manuel Domingos, para vir todo excitado com o Dantas e referindo-se à Inês Lourenço como "comadre"! Mas você já LEU a Inês Lourenço? E tem noção da importância da "Hífen" na divulgação de inúmeros poetas que talvez, sem a ajuda dessa publicação, teriam passado despercebidos? Aposto que nunca ouviu falar da "Hífen", não é verdade? Ora confesse lá... Não seja envergonhado...
Sou amigo do Rui Costa e da Inês Lourenço, mas, amizades à parte, há que manter as devidas distâncias. O Rui começou agora (e começou bem). Quanto à Inês... a história é longa e não sou eu que lha vou contar. Meta explicações e coma muita papa "Milupa", que está precisado.
De um miúdo apenas dois aninhos mais velho que você,
Rui Lage.
Uma das muitas características inscritas no manual de comportamento da inócua literatura pequeno-burguesa é a tarimba. Tarimbou mais, é melhor. Ou seja, tem pergaminhos. Sem ofensa, Rui Lage, mas eu leio (sem método, dispersamente) a sua poesia como à do Rui Costa e não me atrevo a compará-las qualitativamente, muito menos partindo de que ele começou depois, é novato. Cada qual no seu galho, para mim são ambos bons. Por essa ordem de ideias, o chato Ramos Rosa e o chato Herberto Hélder eram OS MAIORES, e não são.
fguerra
O reparo do poeta(?) Rui Costa é óbviamente muito infeliz. E é particularmente infeliz porque se dirige a alguém como a Inês Lourenço que, a seu tempo, tanto fez pela divulgação da poesia de estreantes imberbes como ele, e cuja poesia é bem mais poesia do que a dele.
A Inês terá orgulho dos filhos que criou e considera-os uma extensão criativa de si. So what?
Um pouco mais de humildade não ia mal a este Rui Costa.
O que já não se percebe tão bem é a intenção gratuíta do ataque. Animar este blogue? Apoucar a Inês? Alguma querela antiga mal esclarecida?
A poesia portuguesa passa bem sem estas merdas.
Caro Sr. Guerra,
O seu conceito de "Literatura","escrita" ou como lhe aprouver chamar, está cheio de preconceitos ideológicos, que ao presente, nenhuma teoria literária, nem nenhum verdadeiro poeta perfilha.
"Poesia liberdade livre disse o iconoclasta Arthur Rimbaud e repetiu o "chato" do Ramos Rosa.
Poupe-nos as suas cartilhadas e os seus "compartimentos" estanques e rotulados, não se percebe bem de que arqueologia.
Passando por cima do "piropo" herbertiano, que só lhe fica msal, quero dizer que o Rui Lage é realmente um excelente poeta, que já encontrou o seu tom e não anda a experimentar poses entre "nuvens" e paupérrimas sátirasa de algibeira.
E, recentrando o assunto do post e a poeta visada, aconselho:
Já leu o último livro da I. L."Logros Consentidos", que veio comentado em diversos jornais de referência"?
Lhe garanto que é muito mais "novo", "jovem", "intencional" e "revolucionário" do que muitas simpáticas nuvens que por aí pairam.
essa badana sabe a salmão ou a carne de frango? onde é que se afia as unhas por aqui? posso bem arranhar qualquer inimigo (ou inimiga) da minha dona...miau...
vosso tareco
P.S.Vou já miar ao bobby. ele deve andar distraído...
FGuerra, eu não comparei qualitativamente coisa nenhuma. Volte a ler o meu comentário. Não é isso que lá está. As "devidas distâncias" referem-se apenas ao facto de o Rui Costa ser um estreante e de a Inês Lourenço ter já um percurso de décadas. Cada um dará a este facto a importância que entender. Pessoalmente, entendo que este facto é pertinente. O que não quer dizer que nao se dê o caso de muitos poetas cheios de "pergaminhos", como você diz, serem uns chatos, e de um poeta como o Rui Costa poder vir a produzir uma obra importante. Mas o que mais me intriga nos seus comentários é essa da "inócua literatura pequeno-burguesa". Mas afinal o que vem a ser isso...?????? Importa-se de explicar...?
Quanto ao "Logros Consentidos", trata-se apenas de um dos melhores livros de poesia publicado nos últimos anos. E sim, como assinala um dos comentadores, está cheio de novidade, de jovialidade, de sarcasmo, de ironia e de rebeldia.
Caro Rui Lage:
Apesar dos meus 29 aninhos (menos dois que os 31 aninhos do Rui) já li Inês Lourenço e conheço a Hífen. Tenho muita pena em desiludi-lo. Quanto ao Rui Costa e à Inês Lourenço: não tenho o gosto de os conhecer pessoalmente, com muita pena minha.
No que diz respeito à minha excitação com o Dantas, penso que entendeu bem o que eu quis dizer, no entanto, eu vou tentar explicar (talvez arriscando-me a não ser entendido): felício disse (referindo-se ao poema do Rui Costa): «piadolas tolas e ofensivas, uma vez que se visa directamente um nome.». Se bem me lembro, Almada Negreiros no seu Manifesto Anti Dantas escreveu:
«O Dantas é um cigano!
O Dantas é meio cigano!
O Dantas saberá gramática, saberá sintaxe, saberá medicina, saberá fazer ceias pra cardeais, saberá tudo menos escrever que é a única coisa que ele faz!
O Dantas pesca tanto de poesia que até faz sonetos com ligas de duquesas!
O Dantas é um habilidoso!
O Dantas veste-se mal!
O Dantas usa ceroulas de malha!
O Dantas especula e inocula os concubinos!
O Dantas é Dantas!
O Dantas é Júlio!
Morra o Dantas, morra! Pim!»
Eu sei que aqui a figura de Dantas pode ser vista como representante de toda uma tradição literária e cultural (ou não e eu preciso mesmo de explicações?!), e era contra isso que Almada Negreiros “gritava”. Nunca foi minha intenção comparar Rui Costa a Almada Negreiros, nem Inês Lourenço a Dantas (nem digo que o poema do Rui Costa entre para os anais da Literatura Portuguesa). O que eu quis foi estabelecer um termo de comparação (que parece-me ter sido mal interpretado): quando Almada Negreiros escreveu o poema também pode ter sido considerado por muitos como «piadolas tolas e ofensivas, uma vez que se visa directamente um nome.». Foi só isso que eu quis estabelecer. Se o Rui Lage assim não o entendeu, siga um dos conselhos que me deu: meta explicações. Quanto à papa Milupa: sempre fui rapaz de Nestum.
Cumprimentos e Boas Festas
manuel a. domingos
Caro leitor atento:
Tal como o senhor, também eu me considero um leitor atento e, quando critico alguma coisa ou alguém, dou a cara, isto é, escrevo o meu nome. (Não que os nomes tenham, para mim, grande importância, importa-me mais o que se diz do que quem o diz, mas para os senhores, pelos vistos, o nome tem grande importância, ou nenhuma: citam poetas importantes melhores, obviamente, do que os nada importantes como, por exemplo, o chavalo Rui Costa que ainda tem de comer muita rasa de sal.)
Rui Lage (e esta parte também serve para o leitor atento) vocês puseram nomes à compita, quod scripsi, scripsi. Rui Lage, quando falo de literatura pequeno-burguesa é mesmo no sentido literário que falo, e não no ideológico, daquela ideologia de que me acusa entre linhas o leitor atento. A literatura pequeno-burguesa (aqui a poesia) é aquela que se encosta à já vigente, de preferência no estado de estátua. É uma poesia que não tem o instinto da ruptura, logo não perturba, é inócua. Por que é importante Cesariny? Porque rompeu com a autoridade suprema de Pessoa. Não quero pôr nomes à compita, isso erve para o futebol mas não serve para a poesia, e se falei de Ramos Rosa e Herberto é porque eles são de facto chatos para mim. Para mim, repito. É isto a librdade suprema que a poesia dá, cada qual a entende à sua maneira, como pode, como quer, não há normas universais para a explicar, e muito menos normas baseadas na autoridade dos «grandes» nomes. Quanto à sua poesia, ao contrário do que sugere o leitor atento, não a valorizei nem a desvalorizei relativamente à de Rui Costa. São duas poesias que conheço dispersamente, a sua mais e há mais tempo, desde o quartzo, e só posso dizer que, para mim (para mim), servem.
Esqueci-me de assinar o comentário anterior: Filipe Guerra.
Sr Guerra,
O senhor é um totalitário, quer dizer, tem o vício religioso da unicidade.
PARA MIM, PARA MIM...é chato! Para mim, para mim só existe a ruptura!
Isso que diz, manifrsta a precaridade do seu Conhecimento.
"Poesia, amor e liberdade" ou "ama como a estrada começa" ou "Coming back to Elsinore" ou
outras citações de Cesariny ilustram bem o seu "relativo" surrealismo e por isso o seu grande valor poético.
Nunca ouviu falar de "traditio/revolutio"?
E que uma não existe sem a outra?
Nunca ouviu falar da oscilação apolínia/dionisíaca dos grandes períodos culturais? Classicismo, Barroco, Romantismo, Modernismo, etc?
Não sabia que os das 2rupturas" são sempre uns merdosos (tipo Marinetti que lançou o Futurismo) e os realmente geniais são os que fogem da ruptura e só dela se servem para dizer o que é de todos os tempos e lugares?
Quanto ao Almada, que como Pessoa, tinha também crenças esotéricas, escreveu o "Manifesto" contra uma sub-literatura, amaneirada, palavrosa e vazia. Não é o NOVO contra o VELHO, como certas consciências apressadas, podem supor.
E, sr. Guerra, estimo que também aprecie a paz, já que foi tão lesto a valorizar a "ruptura" do Sr. Costa.
E não refiro o meu nome, porque senão tinha que cobrar pela "explicação".
Olhe agradeça à autora do post.Que merecia realmente um louvor, por se ter justamente insurgido contra comentários preconceituosos e torvos.
L. A.
Também estive a ler as "entradas" deste blog, sobre o Sr. Costa.E nos ex. do premiado livro,leio e até o blogger o diz, epigonismo descarado do Alberto Caeiro. Coisas limdas e vácuas, sobre pássaros e outras transmutações poéticas, coisas estafadérrimas.
Mas, afinal onde está a ruptura?????????
Seá só no blog?
Isto é nitidamente um caso de "sobrevalorização", como infelizmente, tantos existem.
L.A.
Caro Filipe Guerra, começo a achar que preciso mesmo de meter explicações. Elucide-me, por favor, ou serei obrigado a concluir que sou burro, o que não seria, convenhamos, nada agradável (para mim). Escreve o Filipe que "a literatura pequeno-burguesa (aqui a poesia) é aquela que se encosta à já vigente, de preferência no estado de estátua. É uma poesia que não tem o instinto da ruptura, logo não perturba, é inócua". Essa tal poesia que "se encosta" é exactamente qual? A do Rui Lage e/ou do Rui Costa? A da Inês Lourenço? Se se refere à da Inês Lourenço, alistá-la na literatura pequeno-burguesa vigente, que é como quem diz metê-la no sotão das velharias e da estatuária sensaborona, não posso concordar consigo. A I.L. não terá operado rupturas como o fez um Cesariny (e, no entanto, a suprema autoridade ainda não deixou de ser o Pessoa...), mas se há coisa de que a sua poesia não pode ser acusada (e penso muito em particular no "Logros Consentidos", livro de 2005) é de ser inócua, ou de não perturbar. De resto, a I.L. até tem sido (para mim) injustamente subestimada pela crítica. E não penso que tenha uma obra assim tão mediática (ou mediatizada) para que a inclua num qualquer clube de "auctoritas" ou de "grandes", no sentido com que - creio eu - utilizou esta palavra entre aspas. Se o Filipe se referia ao Rui Lage e/ou ao Rui Costa, só posso falar por mim, naturalmente, confessando, sem mais, a minha total irrelevância e insignificância (lá dizia o meu avô que eu tinha jeito era para a agricultura...). Mas olhe, com o azar que tenho, o mais provável é que a estátua a que estarei porventura encostado desabe não tarda nada e fique reduzida a um monte de faiança escaqueirada.
Mas numa coisa estou absolutamente de acordo consigo: o Ramos Rosa e o Herberto (Ó Heresia!!! Que o meu cabelo pegue fogo de imediato e que da minha boca jorrem torrentes de lava e piroclastos!!!) são uns CHATOS.
Boas festas para todos,
Rui L
TOPONÍMIA
Mudam-se os tempos. Já
não sabemos as matinais canções
nem habitamos vilas morenas.
Toleramos serventes de pedreiro louros,
de preferência não legalizados. Queremos
um grande apartamento em condomínio
fechado, um ferrari, uma piscina, um topo
de gama de uma coisa qualquer.
Temos ruas, temos praças e pontes
com nome de revolução. Como todos
os países temos hino - nação valente
imortal. Tivemos canela e diamantes,
santos, barregãs e dinastias de
tiranos e servos. Andámos muito
no mar, trocando rotas e poderes,
escravos, inquisições e cruzes.
Agora, neste estreito
quadrilátero, de onde saímos
e mal regressámos, sem índias nem
quinto império - salvou-se o manuscrito do
Luís Vaz, a nado - restam-nos a sardinha
e a conquilha - ao que consta cercadas
de barcos espanhóis - o bacalhau
que já não vem da Terra Nova, a memória
dos pescadores de baleias, esgotada
a captura
nas ilhas.
Também temos o treze
de Maio, o negócio clandestino
das abortadeiras, a broa de Avintes,
os tintos, por enquanto, de marca e
o leitão da Bairrada e o Benfica e
o Sporting e o Futebol
Club do Porto.
Temos ruas, temos praças e
pontes com nome de revolução,
topónimos nebulosos que a distância
apagará. Apenas aquela rua
chamada Cantor Zeca Afonso
poderá supreender o transeunte
se acrescentarem o aviso:
Nunca quis uma rua
só para si.
INÊS LOURENÇO
In "Logros Consentidos" (Lisboa, &Etc, 2005)
Quanto ao «leitor atento L. A.», népia, já se entrincheirou nas máximas dos manuais escolares e acho que, no fundo, não tm opinião própria sobre a poesia, só sabe umas coisas e tem muita raiva, contra um desconhecido, espero. Mas também lhe desejo paz neste natal e no resto do ano. Acalme-se e explique-me lá então a poesia bem explicadinha! Ah, totalitário é você!
Rui Lage, é verdade, eu disse de caras que gostava da postura poética do Rui Costa, embora me possa ofender às vezes, como já aconteceu num texto relativo ao Loureiro dos Santos. Quanto à Inês Lourenço, evitei falar (sei dela tão pouco)mas acho o poema que transcreve demasiado explicativo; mas ainda bem que ela é o centro desta conversa, passaremos a conhecê-la. Quanto à sua própria poesia, Rui Lage, conheço-a, vou ao seu site, e só a «comparei» com a do Rui Costa num sentido: aprecio ambas. Isto deveria ser uma coisa banal, normal, uma apreciação subjectiva, tão certa e tão errada como outra qualquer, sujeita até à ridicularização de um Rui Costa ou sua... Enfim, nisto de poesia sou mesmo pela liberdade total, nem deus nem mestre, rejeito a autoridade poética, seja do Camões, seja do Pessoa, seja do... Rui Costa.
Filipe Guerra
Caro Filipe Guerra,
Prazer em conhecê-lo. É uma coincidência onomástica, ou o sr. é o estimável e conhecido tradutor de russo?
Quanto à "autoridade" do Camões e do Pessoa, até fico arrepiada, ao ver esses dois nomes aliados ao vocábulo, que menciona.
Tanto o Camões como o Pessoa, borrifavam-se para as autoridades "strictu senso".
Um, acabou na miséria e outro até se multiplicou em "drama em gente" e também viveu e acabou, como se sabe.
Nós é que ainda vamos tendo uns com,putadores e internet de banda larga, e temos ilusões de que nunca tivemos "lei nem mestre".
Por que milagre escreveremos na "convenção linguística" chamada "Língua Portuguesa" e nos entendemos todos? às vezes nem por isso.
Mas o "códigozinho" Língua, sempre nos ensinou e legislou algo.
Amigáveis saudações.
Festas Felizes.
I. L.
Errata:
"sricto sensu"
"computador"
I. L. da Vida Involuntária:
Prazer em conhecê-la também, só fico um pouco triste porque sinto que «faz as pazes» porque eu sou o «estimável e conhecido tradutor de russo», logo tenho alguma autoridade, logo sou digno de algum respeito. Mas não, eu sou aquele gajo que manda bocas irritantes nos comentários e o estimável tradutor de russo é apenas o nome da minha profissão.
Leio o seu blog e aprecio-o, e olhe que aquele poema do H. H. sobre a menstruação na neve (mas ele não terá pensos para os seus períodos!?) até que nem é de deitar fora. Muito estimo também que o Ruy Belo seja um dos seus grandes poetas (eu também lhe presto culto, embora, pelos meus princípios, não devesse). Já agora, propaganda totalitária oblige, recomendo-lhe o meu blog O Vermelho e o Negro, para assim travarmos um melhor conhecimento. Boas-festas, para si e para quem tiver de querido.
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