O QUE É VIVER?
Viver é só sentir como a Morte caminha
E como a Vida a quer e como a vida a chama…
Viver, minha princesa pobrezinha,
É esta morte triste de quem ama…
Viver é ter ainda uma quimera erguida
Ou um sonho febril a soluçar de rastos;
É beijar toda a dor humana, toda a Vida,
Como eu beijo a chorar os teus cabelos castos…
Viver é esperar a Morte docemente,
Beijando a luz, beijando os cardos, e beijando
Alguém, corpo ou fantasma, que nos venha amando…
É sentir a nossa alma presa tristemente
Ao mistério da Vida que nos leva
Perdidos pelo sol, perdidos pela treva…
E como a Vida a quer e como a vida a chama…
Viver, minha princesa pobrezinha,
É esta morte triste de quem ama…
Viver é ter ainda uma quimera erguida
Ou um sonho febril a soluçar de rastos;
É beijar toda a dor humana, toda a Vida,
Como eu beijo a chorar os teus cabelos castos…
Viver é esperar a Morte docemente,
Beijando a luz, beijando os cardos, e beijando
Alguém, corpo ou fantasma, que nos venha amando…
É sentir a nossa alma presa tristemente
Ao mistério da Vida que nos leva
Perdidos pelo sol, perdidos pela treva…
António Patrício nasceu no Porto a 7 de Março de 1878. Assistiu à morte de três irmãos menores vitimados pela tuberculose. Cursou Matemática, sem todavia concluir, cumpriu o serviço militar, casou, frequentou a Escola Naval, acabando por se formar em Medicina. No seu círculo de amigos contavam-se, entre outros, o escritor Fialho de Almeida, Augusto de Castro, futuro director do Diário de Notícias, António Carneiro, o pintor de Amarante e João de Barros. Em 1905 publicou o seu único livro de versos em vida, intitulado Oceano. Estimulado e apadrinhado por Guerra Junqueiro, Patrício tentou a carreira diplomática, para a qual entrou após a implantação da República. Esteve na Espanha, Alemanha, Grécia, Turquia e China, vindo a falecer em Macau a 4 de Junho de 1930.
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