Quando eu morrer escrevam posts...
Se há coisa que me irrita profundamente é aquele tipo de fuga para a frente de quem não querendo dizer algo opta pela retórica redonda de quem não diz nada. Vem isto a propósito da forma como a morte do ditador Pinochet foi recebida nas páginas decorativas da bloga lusa. Há os que festejam. O quê? Há os que lamentam. Em nome de quê? Há os que… lembram Fidel Castro. Para quê? Se isto não é de uma infantilidade sem limites (bem, depois de ter visto o Prós & Contras de ontem já nem sei o que deva considerar de infantilidade) que me atirem um cesto de calhaus para cima. Mas pego em três exemplos, todos do mesmo weblog. Luís Aguiar Santos opta pela objectividade sem concessões ideológicas (se não sabem o que é, não perguntem): diz que prefere «o legado de Pinochet (o Chile em 1990) ao de Allende (o Chile em 1973)». Não concordo nem discordo, porque não prefiro heranças que não me foram deixadas. Mas vão lá e leiam os comentários. Até mete dó. Noutro sentido, Bruno Cardoso Reis prefere centrar-se na interrogação mais repetida a propósito deste tema: «Será que Fidel Castro, outro ditador terrível nos fará esperar, e a uma Cuba arruinada e subjugada, pelo próximo ano?» É certo que a formulação da questão está um pouco confusa, mas se bem percebi: o que tem o cu a ver com as calças? Quando Fidel morrer, lembraremos quem? Ditadores há muitos, que a terra lhes seja pesada, a todos sem excepção, que nem chumbo. Já a Ana Cláudia Vicente diz a única coisa lógica e possível de ser dita (talvez por isso ninguém comente, é sempre assim na bloga lusa) por quem está a quilómetros de distância da alegria e do sofrimento daqueles milhões de chilenos. Servindo-se de uma canção dos U2, lembra as «mães da Plaza de Mayo, as que perderam rasto aos argentinos desaparecidos por altura do golpe de Videla e Galtieri, em 1976». E depois remata: «Mas são os chilenos que, ao contrário de Doña Lucía Hiriart Rodriguez, filhos e netos, nunca poderão enterrar os seus, me ocupam o espírito». É só isto que importa, nada mais do que isto. O resto é o espectáculo da retórica no máximo da sua ignara refulgência.
3 Comments:
eu também (já!) começo a ler o jornal pela necrologia
De facto, isto de qualquer pessoa poder dizer o que lhe apetece, é uma chatice...
jpt, prefiro o cardápio.
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