PALAVRAS
Há muitas palavras no mundo. Há as palavras do dia, -
Nelas se vislumbra o azul do céu de Primavera.
Há as palavras da noite, que de dia
Recordamos com sorrisos e suave vergonha.
Há palavras como feridas, palavras – como tribunais,
Com que não nos prendem, nem nos fazem prisioneiros.
Com palavras pode-se assassinar, com palavras pode-se salvar,
Com palavras pode-se incitar atrás de si bengalas.
Com palavras pode-se vender, e trair, e comprar,
A palavra pode derreter chumbo que fere.
Mas as palavras – todas as palavras – fazem a nossa língua:
Glória, Pátria, Lealdade, Liberdade e Honra.
Repeti-las não ouso a cada passo, -
Como estandartes numa caixa, guardo-as na alma.
Não acredito muito em quem as repete muito,
Esquecer-se-á delas no fogo e no fumo.
Não se lembrará delas nos lugares confortáveis,
E nos altos cargos as terá olvidadas.
Aquele que quer enriquecer com as palavras orgulhosas,
Insulta as cinzas dos inúmeros heróis,
Daqueles que nas florestas sombrias e nas trincheiras húmidas,
Não repetindo essas palavras, por elas morreram.
Que não lhes dêem trocos miúdos, -
Pois o padrão ouro têm no coração!
E não façam deles servos na vida pequena –
Guardem a sua pureza desde o início.
No júbilo – na tempestade, ou na dor – como na noite, -
Só essas palavras te podem ajudar!
Tradução de Manuel de Seabra.
Vadim Shefner nasceu em 1915. Formou-se na Faculdade de Leninegrado em 1937, tendo começado a publicar poesia um pouco antes da formatura. A sua primeira colectânea de poemas, Costa luminosa, data de 1940. Durante a II Grande Guerra foi soldado e, posteriormente, correspondente. A partir da década de 1960 dedicou-se mais à ficção científica, nunca abandonando a poesia. Faleceu no dia 5 de Janeiro de 2002.
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