SÓCRATES
Considero os dois pontos abaixo o mínimo indispensável à formação de uma opinião razoável sobre o assunto. Os jornalistas, opinadores, espertos de toda a ordem que não os apresentam claramente ou não os têm como pressuposto básico daquilo que dizem ou escrevem são incompetentes, ou são pouco sérios, ou são ambas as coisas.
1. Distinguir a importância de uma licenciatura da legalidade da sua obtenção.
Um primeiro-ministro pode ter a quarta classe? Claro que pode. Pode obter ilegalmente, à custa de favores, ou por qualquer forma que não a que um aluno “comum” adopta, a sua licenciatura? Não, e se o fizer deve ser punido por isso (politicamente e no âmbito do direito civil e penal).
A quem interessa a confusão destas duas coisas (a importância de uma licenciatura e a legalidade da sua obtenção)? Interessa, obviamente, a quem quer desvalorizar eventuais ilegalidades na conduta do primeiro-ministro. Interessará também, não tão obviamente, a quem adoptou ou adopta modos de actuação ilegais – e não pretende, por isso mesmo, que este tipo de situação seja escrutinado e punido.
2. Distinguir entre a competência profissional de uma pessoa e o comportamento dessa pessoa enquanto sujeito de direitos e obrigações.
Um criminoso pode ser dispensado de cumprir a lei com fundamento na sua “excelência” técnica e convidado para ministro? Não. É que aqui a distinção serve para dizer que nenhum dos aspectos (competência profissional e comportamento enquanto sujeito de direitos e obrigações) pode ser sacrificado ao outro, ou seja, só deve ser ministro (ou primeiro-ministro, ou…) uma pessoa que seja simultaneamente um profissional competente e uma pessoa séria no que extravasa o exercício da profissão.
Rui Costa
11 Comments:
Tens razão, Costa, ainda bem que vens aqui separar as águas com a tua formação em direito - essas coisas acabam sempre por ser uteis na vida, mesmo quando não gostamos delas.
:)
Maria João
Não é preciso formação em Direito para chegar aqui. O Costa tem toda a razão. Só não seria tão precipitado nesta avaliação: «Considero os dois pontos abaixo o mínimo indispensável à formação de uma opinião razoável sobre o assunto. Os jornalistas, opinadores, espertos de toda a ordem que não os apresentam claramente ou não os têm como pressuposto básico daquilo que dizem ou escrevem são incompetentes, ou são pouco sérios, ou são ambas as coisas». Não é só incompetência e falta de seriedade, digo eu. E neste ponto a Inês Lourenço tem razão quando fala na cicuta mediática e no farisaísmo. Aquilo é mesmo vontade de fazer a folha, é obediência aos patrões cujos interesses económicos foram postos em causa, ou extrema competência e seriedade na obediência a esses interesses. No fundo, estão a ser sérios e competentes se os interpretarmos no contexto dos seus interesses particulares (legítimos, entenda-se… o mundo liberal é isso mesmo, não fui eu que o escolhi). Só não estão a ser honestos. :) Também é por estas permanentes provas de desonestidade para com as massas, ou o povo, que deixei de comprar jornais. Os patrões deles que os leiam.
Henrique, eu só estava a provocar o Costa por causa dele ter estudado direito e ter apetencia para expor as ideias de modo claro - sabe de retórica e oratória. Também acho que a falta de clareza dos jornalista corresponde a falta de honestidade e cumprimento de ordens superiores. Mas, no meio de isto tudo, aquela biografia do Socrates que foi publicada no Expresso, com certeza com o consentimento do próprio, onde foram expostas mentiras com vaidade, foi o modo como o primeiro-ministro se enterrou a ele próprio, porque se expôs de forma pouco inteligente. Todos sabemos que os politicos são profissionais da mentira, de tal forma que acabam por acreditar nas suas próprias mentiras e isso feito com vaidade dá asneira.
Maria João
Sério e honesto, salvo melhor opinião, são sinónimos, logo tem razão o Rui - pelo menos eu acho - e também o Henrique, quando aparentemente o contradiz. E tem também razão a Maria João. Um abraço aos três.
Luís N
Logo, Socrates foi bem escolhido como PM. Nao é sério é continuar com a suspeitas e suspeitas apesar de toda as explicaçoes.
o senhor Rui Costa ao vir para aqui separar as águas está a usurpar competências que são do uso exclusivo do patriarca bíblico Moisés.
Bom, já que puxaram pelo Moisés e seu boné, o Socrates também recebe ordens superiores de Bruxelas, ou porque é que acham que ele está a aplicar estas reformas na função publica? Acham que foi deus que o iluminou tipo boné? Ele também tem o seu boné para o proteger do excesso de sol na carola!
Maria João
Luís N, vou tentar explicar-me melhor. Primeiro, ainda que possa aparentar, eu não quis contradizer o Costa. Apenas acrescentei uma alinha à opinião dele que, como disse, tem toda a razão de ser.
Do meu ponto de vista, seriedade e honestidade podem ser sinónimos mas não o são necessariamente. Nos dicionários a honestidade aparece geralmente definida como modéstia, recato, probidade, decoro, compostura; já a seriedade define-se mais por sisudez, rectidão, integridade de carácter, honradez. Em que é que uma não esgota a outra? No contexto da afirmação do Rui. Os jornalistas, como ele diz, podem ser pouco sérios mas não apenas isso, daí eu ter dito que «não é só incompetência e falta de seriedade». Ou seja, não é só falta de rectidão, integridade de carácter, não é só falta de honradez, é também, e isto até no contexto dos seus interesses particulares, falta de modéstia e de decoro, aquilo que, de uma forma geral, mais podemos acusar aos media na actualidade. Desde, pelo menos, que o senhor Rangel veio dizer que já estava em condições de derrubar um Governo que essa falta de modéstia, isto é, essa desonestidade se tornou evidente. O Independente, em certa medida, foi um jornal desonesto, no sentido de imodesto, o que não é necessariamente mau desde que exista seriedade nessa imodéstia. Onde o meu comentário podia induzir em erro era nesta afirmação: «No fundo, estão a ser sérios e competentes se os interpretarmos no contexto dos seus interesses particulares (legítimos, entenda-se… o mundo liberal é isso mesmo, não fui eu que o escolhi). Só não estão a ser honestos. :)» Mas aqui eu estava a ser irónico, daí o smile. Sem a ironia, isto deveria ficar: são pouco sérios, incompetentes e desonestos. Espero ter sido claro…
Lembrei-me agora de um paradigma de alguém que não é honesto mas é sério: o Dr. House. ;-)
O que será numa arena mediática e político-económica uma "opinião razoável"?
A justiça salomónica do sim ou sopas, não se adequa às sociedades actuais do Ocidente.
O Rui Costa tinha sido tão objectivamente claro. Porque é que vocês baralharam tudo?
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