30.6.07

CECÍLIA MEIRELES, ESSA GRANDE JURISTA

Há dias pedi a alguns alunos que me indicassem um pintor da sua preferência. A primeira a responder referiu um tal Leonardo D’Avintes. Depois houve uma aluna que citou, algo hesitante, “o” Picasso. Houve ainda menções honrosas para Van Gogh e Miguel Ângelo. Não houve outras respostas, apesar da turma ser composta por cerca de 15 elementos, à excepção do único rapaz que, lá do fundo da rua, perguntou: «O Hamlet não era pintor?» Ao Francisco, moço humilde de cultura curta, a gente perdoa estes dislates. Mas o que dizer quando a poetisa Cecília Meireles acaba convertida a jurista em pleno Diário da República? Explico-me. Irmã minha, juíza de profissão, publicou numa revista de Direito do Trabalho, mais propriamente no Prontuário de Direito do Trabalho, um artigo que vinha precedido de uma epígrafe de Cecília Meireles. Qual não foi o seu espanto quando, ao folhear certa edição do Diário da República, constatou que o relator de um acórdão do Tribunal Constitucional citava o artigo de que havia sido autora, atribuindo-o a essa grande jurista que foi, sem o saber, Cecília Meireles. Posteriormente, feita a denúncia da gaffe, houve acórdão rectificativo atribuindo o seu a seu dono. Cecília Meireles voltou a ser poeta, a minha irmã autora de artigos sobre acidentes de trabalho. Já há poetas a mais na família.

11 Comments:

At 1:06 da manhã, Blogger Luís Galego said...

impressionante....

 
At 2:03 da manhã, Blogger JAM said...

Apesar de ser ridículo, o Henrique não devia falar assim dos seus alunos...não creio que seja justo quando não estão cá para se defender...
Afinal de contas Hamlet pode ter pintado uns quantos pavimentos com sangue na sua demanda pela vingança!

 
At 2:04 da manhã, Blogger JAM said...

Mas, realmente, foi uma resposta um pouco....mal pensada!

 
At 12:40 da tarde, Anonymous Anónimo said...

O J.A.M., que foi meu aluno e está aqui para se defender, se ler bem reparará que este pequeno post nada tem de ofensivo para com os meus alunos. Abraço,

 
At 2:21 da tarde, Blogger JAM said...

Ofensivo ou não, creio que se trata de uma referência que, como diz a malta da minha geração, é de muito má onda.
Acho que são dois mundos que deveriam ficar separados...como aprendi a fazer quando fui seu aluno...muito numa de conhaque e trabalho...
O meu propósito não foi ofender, nem criticar...foi apenas um reparo..
espero que esteja tudo de boa saúde.
Abraço.

 
At 5:17 da tarde, Blogger Unknown said...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
At 5:39 da tarde, Blogger Unknown said...

parece-me não haver nada de errado quando se fala de um modo genérico, o Henrique referiu 'os alunos', não o aluno A ou B (embora o Francisco tenha tido nota de estado, espero que seja nome fictício :)). é apenas uma chamada de atenção para a falta de cultura e do mau sistema de ensino que temos, que fazem dos alunos cobaias desde 1974. sempre me indignou 'os alunos' poderem chegar à universidade sem conhecerem um pintor, um escultor, um arquitecto, um músico, e tinham apenas que conhecer obrigatóriamente o camões, o eça, o júlio, e agora a margarida rebelo pinto.

Jorge Garcia Pereira
loucomotiva.blog.com

 
At 5:50 da tarde, Anonymous Anónimo said...

A falta de cultura do Francisco, que é a falta de cultura da generalidade das pessoas, foi só um pretexto para denunciar a falta de cultura de um senhor magistrado.

 
At 5:51 da tarde, Blogger JAM said...

Francisco não é nome fictício....é bem real, a não ser que, no pólo da UCP das Caldas da Rainha exista mais algum Francisco que seja o único rapaz numa turma de 15 alunos.
Concordo perfeitamente consigo, loucomotiva.
Mas a verdade é que a maioria não sabe....aliás,nem a maioria dos professores sabe o nome de grandes artistas...
O sistema de ensino Português está todo lixado...temos muitos professores que não sabem ensinar, mas que, ainda pior, também não sabem aprender com os alunos.

 
At 6:03 da tarde, Anonymous Anónimo said...

J.A.M. tem toda a razão quando diz que «temos muitos professores que não sabem ensinar, mas que, ainda pior, também não sabem aprender com os alunos». No entanto, não deve esquecer os alunos que não sabem nem querem aprender.

P.S.: Foi J.A.M., e não eu, quem referiu a UCP das Caldas da Rainha.

P.S.2: Não fugirei ao assunto se for esse o caso, mas de novo chamo a atenção para o facto de este post não ser sobre o estado do ensino português. Sobre isso, já escrevi imenso neste weblog. Aliás, eu acho que fui bastante claro ao dizer que a falta de cultura do Francisco é perdoável. O que não sei se será tão perdoável é a falta de cultura do tal senhor magistrado.

 
At 12:15 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Às vezes, há quem veja "ofensas" e "más ondas" no relato sincero e verídico e até bem humorado, de tristes e gerais mediocridades.

Porque o magistrado e os alunos pertencem ao fresco da mesma sociedade. E, possivelmente, os pais ou encarregados de educação desse aluno, nem suspeitam que algum "Hamlet" existe. Já há algum progresso.

Além de que uma turma só com um aluno e catorze alunas, indicia algum preocupante desiquilibrio de escolaridade.
E já agora, por que será que os rapazes, continuam sempre no fundo das salas? A paridade ainda não chegou às salas de aula? Isto, sem ofensa...é só uma reflexão politicamente incorrecta.

Tina

 

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