Enterraremos tudo,
os braços, o movimento e a pá,
a paixão de sexta-feira,
a bandeira de andar sós,
a pobreza, essa dívida,
a riqueza, essa outra.
Enterraremos tudo até com sabedoria,
cortando sabiamente os pedaços,
ou cortando-os sem nos darmos conta, sabiamente.
Um resto de olhar
ficará flutuando como um pincel absurdo
sobre a trégua duplamente fiel de tudo ausente.
E menos mal que não haverá ninguém
para escavar logo bem fundo
e descobrir que não há nada enterrado.
Tradução de Arnaldo Saraiva.
os braços, o movimento e a pá,
a paixão de sexta-feira,
a bandeira de andar sós,
a pobreza, essa dívida,
a riqueza, essa outra.
Enterraremos tudo até com sabedoria,
cortando sabiamente os pedaços,
ou cortando-os sem nos darmos conta, sabiamente.
Um resto de olhar
ficará flutuando como um pincel absurdo
sobre a trégua duplamente fiel de tudo ausente.
E menos mal que não haverá ninguém
para escavar logo bem fundo
e descobrir que não há nada enterrado.
Tradução de Arnaldo Saraiva.
Roberto Juarroz nasceu em Coronel Dorrego, Província de Buenos Aires, Argentina, a 5 de Outubro de 1925. Graduado pela Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires, trabalhou como docente e bibliotecário em diversos países. Dirigiu a revista Poesia = Poesia, entre 1958 e 1965, tendo colaboração dispersa por numerosas publicações argentinas e estrangeiras. Foi crítico literário e de cinema, tendo também exercido a actividade de tradutor. Publicou, desde 1958, 13 volumes de poesia todos com o título Poesia Vertical, aos quais se acrescentou, postumamente, Decimocuarta Poesía Vertical. Faleceu no dia 31 de Março de 1995. »
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