A Casa das Musas #2
Os amigos que me conhecem bem costumam fazer troça da minha atracção pela música da América Latina – é uma faceta um bocado tarada que tenho, por isso, a segunda Musa que trago para este pequeno museu é a Chavela Vargas, voz inspiradora que descobri nas bandas sonoras dos filmes de Pedro Almodôvar. A primeira Musa nem a comentei porque me deixa sempre sem palavras, mas a Chavela remete-me para o que é o grão da voz, como o definiu Roland Barthes em O Óbvio e o Obtuso, noção que o autor contrapôs com a tradição do bel-canto musical, a fórmula ou alma do canto; na textura da voz desta senhora sem idade sente-se a matéria das palavras cantadas, a sua rugosidade é desconcertante, porque mais do que língua e espírito, o seu canto é corpo e carne. Nascida a 17 de Abril de 1919 em São Joaquim das Flores na Costa Rica, foi para o México quando tinha 14 anos e desde cedo começou a interpretar a Canción Ranchera nas ruas, um género musical masculino, sensual, onde a temática do desejo e amor-paixão pelas mulheres era central; Chavela vestia-se habitualmente de homem, fumava e bebia muito, andava armada e era conhecida pelo seu poncho rojo. Gravou o seu primeiro disco em 1961 e ainda canta, talvez se recordem da sua aparição no filme de Julie Taymor, Frida Kahlo, onde interpreta Paloma Negra e em 2003, aos 83 anos actuou no Carnegie Hall. Apreciem este andrógino último trago que aqui vos deixo.
Maria João
6 Comments:
Grande Chavela!
Vá lá, pelo menos um homem tem coragem para aplaudir o canto desta senhora!
Maria João
dois! também aplaudo!!!
Manuel, tu surpreendes-me!
:)
Maria João
mas quem é que se atreve a não a aplaudir?
Lebre, vejo que temos afinidades musicais!
:)
Maria João
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